A importância e atenção dada à Fórmula 1 na maior parte da mídia brasileira pode acabar nos cegando para outras categorias. Por isso, o sucesso de brasileiros em outros campeonatos, por mais estrondoso que seja, as vezes não recebe o devido crédito, mas isso obviamente não tira o mérito desses corajosos pilotos que desbravam o mercado automobilístico internacional em busca de sucesso. 33 anos atrás, um dos exemplos mais bem-sucedidos desse fenômeno nascia nessa mesma data.
Fernando Rees nasceu em São Paulo no dia 4 de Janeiro de 1985. Começou sua carreira nos karts aos 8 anos, em 1993. Após seis anos competindo nacionalmente, o paulista participou de seu primeiro campeonato internacional, na América do Norte. Nas três temporadas seguintes, Rees ingressou em campeonatos italianos, europeus e mundiais de kart e aos 16 anos já estreava em monopostos internacionalmente. O sucesso em suas primeiras temporadas atraiu os olhos da Mercedes-Benz, que o convidou para um teste privado de Fórmula 3 no circuito de Estoril. Seis pilotos foram convidados para participar das atividades: Rees, Robert Kubica, Jamie Green, Bruno Spengler, Alex Permat e Adrian Sutil. O brasileiro fechou o dia como líder e parecia estar bem encaminhado para um assento na categoria no ano seguinte, todavia, ainda no mesmo ano Ron Dennis escolheu a ASM Mercedes-Benz como destino de Lewis Hamilton para 2004, forçando Rees a buscar outro destino. O brasileiro partiu então para a Fórmula 2000 italiana, indo posteriormente para a Fórmula 2000 européia. Uma passagem bem-sucedida pela Fórmula 3 sul-americana e participações na Fórmula 3 européia e na Fórmula Toyota Atlântica levaram o paulista para a World Series by Renault. Mesmo em uma equipe de baixo orçamento, Fernando foi capaz de se destacar, recebendo inclusive um convite da Draco Racing para testes de inverno. Com mais de 30 pilotos na pista, incluindo Kubica e Pastor Maldonado, o brasileiro fechou o dia em Valência novamente na liderança, contando inclusive com uma folgada diferença de mais de meio segundo para o vice-líder. O resultado arrasador colocava Rees em uma ótima posição para a temporada seguinte.
Infelizmente, a história de Fernando Rees não é feita só de histórias felizes. Logo no começo de 2006, o brasileiro se envolveu em um gravíssimo acidente em Monza enquanto participava de uma sessão de testes da Fórmula 3000 internacional. Sob uma verdadeira tempestade, o piloto acabou atingindo um carro mais lento no final de uma das retas do circuito italiano. O impacto a mais de 280Km/h deixou o brasileiro gravemente ferido. Fraturas nas vértebras e nas pernas o afastaram do automobilismo por 18 meses, período que por um lado o assustou devido à incerteza da seu retorno às pistas, mas por outro o fortaleceu e trouxe um outro ponto de vista em relação ao verdadeiro perigo do esporte.
Após o período de recuperação, Rees voltou para as pistas na última etapa da Le Mans Series, as 100 Milhas de Interlagos. Dividindo um Aston Martin DBR9 da Larbré Compétition com Roland Berville e Gregor Fisken, o brasileiro venceu a prova com folga na classe GT1, o retorno ideal para superar um susto tão grande. Em 2008, o paulista fez sua estreia na LMP2 pela Barazi-Epsilon na segunda etapa do ano, em Monza, justamente no mesmo palco do trágico acontecimento em 2006. A coincidência infeliz pareceu não afetar o desempenho do brasileiro, que fechou o dia com a volta mais rápida do carro no final de semana. Sua performance melhorou cada vez mais durante o ano e Rees foi logo reconhecido como o piloto mais rápido da equipe, contudo, a maré de infortúnios que cercava o time fez com que o melhor resultado do ano fosse um modesto 8º lugar, muito distante do real potencial do trio. O brasileiro permaneceu na Brazi-Epsilon em 2009, no entanto, a equipe deixou o esporte por conta de problemas financeiros após a segunda etapa do ano.
2010 marcou o retorno de Rees para a Larbré. A temporada foi extremamente bem-sucedida, a equipe faturou o título da GT1 e Rees participou das vitórias em Hungaroring, Spa e Silverstone, três templos da velocidade. Após um ano sabático em 2011, Fernando assinou com a Larbré na temporada inaugural da WEC, substituindo Pedro Lamy e ajudando a equipe a conquistar o título da GT-Am. O brasileiro foi mantido pela Larbré para o ano seguinte, mas após pódios nas duas primeiras etapas do ano, a performance do time caiu vertiginosamente devido ás severas punições para balanceamento de performance. As punições foram ajustadas em Fuji e a equipe respondeu com uma 2ª posição na classificação, entretanto, o desempenho voltou a cair nas etapas seguinte e a Larbré deixou a WEC no final da temporada.
Sem assento novamente, Fernando assinou com a Aston Martin e teve duas temporadas muito positivas. Além de grandes resultados nas provas, como um pódio em Fuji e uma vitória incrível em Spa, o brasileiro se destacou ainda mais nas classificações, conquistando poles em Spa, Nurburgring e Le Mans em 2015. Rees foi um dos pilotos mais rápidos da GTE Pro e o mais veloz da Aston Martin na temporada.
O sucesso parecia apontar para um 2016 ainda melhor pela montadora britânica, contudo, o piloto foi dispensado pela Aston no meio da temporada para priorizar o desenvolvimento de outros pilotos da casa. Sem assento fixo para 2017, o brasileiro participou apenas das 24h de Le Mans, novamente pela Larbré, todavia, a participação única foi suficiente para o paulista reforçar seu talento para voltas rápidas, uma vez que foi capaz de marcar a melhor volta da classificação novamente, recebendo agora o título de Mister Pole.
Além de todo o sucesso nas pistas, Fernando Rees também ficou conhecido por duas outras características peculiares. A primeira é sua longa história de sucesso no automobilismo virtual, sendo detentor de vários títulos e voltas mais rápidas em diversas categorias. A segunda é sua presença massiva em redes sociais, sempre solicito com seus fãs e dividindo parte de sua carreira, sua vida e sua paixão por fotografia com a comunidade do automobilismo mundial.
O sucesso de Fernando Rees no Endurance transcende uma simples carreira bonita, uma vez que serve para os mostrar que há vida no automobilismo fora da Fórmula 1. Ainda que a cobertura da mídia seja destinada massivamente a apenas uma categoria, os triunfos de pilotos como Fernando Rees, Hélio Castroneves e Tony Kanaan deixam claro que os heróis brasileiros nas pistas não ficaram apenas nos anos 80, eles ainda existem e basta procurarmos um pouco mais para encontrarmos diversos motivos de orgulho provenientes do nosso país no automobilismo mundial.
lll A Série 365 Dias Mais Importantes do Automobilismo, recordaremos corridas inesquecíveis, títulos emocionantes, acidentes trágicos, recordes e feitos inéditos através dos 365 dias mais importantes do automobilismo.