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O GP da Seca

Voltamos (ou melhor, para o leitor fiel, continuamos) na Bélgica, em Spa-Francorchamps. Na semana passada falamos da prova de 1970, envolvida em controvérsias por conta da insegurança do circuito, o que causou seu afastamento da Fórmula 1 e retorno após 13 anos, modificado.

Hoje voltamos um pouquinho mais no tempo, para 1964. O monstro de 14 km pelas estradas belgas ainda não estava sendo criticado, e a terceira de dez corridas agendadas para aquele campeonato aconteceu lá, em um 14 de junho. A situação era a seguinte: Graham Hill havia vencido a prova inicial em Mônaco, a bordo de sua BRM, enquanto Jim Clark e a Lotus foram os primeiros no GP holandês em Zandvoort. Como ambos terminaram em quarto lugar nas provas que não ganharam, dividiam a ponta da classificação com 12 pontos cada. Peter Arundell com a outra Lotus era o terceiro do campeonato, com 08, e a BRM ainda tinha Richie Ginther na quarta colocação com 06 pontos, empatado com John Surtees e sua Ferrari.

Olha o naipe dos maloqueiros. Você acha que esses caras tirariam fotinho abraçados no muro? Fonte: Track Forum

Clark tinha a expectativa de estrear o novo modelo da Lotus, o 33, e até saiu com ele no classificatório, porém o desempenho ficou longe do esperado. A Brabham de Dan Gurney ficou com a pole, seguida do também líder Hill e de Jack Brabham. Na segunda linha vinham Arundell e Surtees. Clark teve que se contentar com a sexta colocação, ao lado do Cooper de Bruce McLaren.

No domingo, a Lotus informou uma avaria no carro e mandou Jim para a pista no antigo modelo 25 (uma história meio mandraque, é verdade). Logo na largada Peter Arundell tomou a liderança, mas o brilhareco apagou-se mais rápido que a Millenium Falcon e Gurney retomou a ponta, com Surtees em segundo e Clark na terceira colocação. O ferrarista passou a Brabham na segunda volta, enquanto Hill tomava a quarta posição de Arundell.

Quando a rossa de Surtees abriu o bico, na volta cinco, Gurney estava pela terceira vez em primeiro lugar, com Clark e Hill logo atrás. Era a vez de Bruce McLaren passar um lento Arundell e ficar em quarto. Enquanto a Brabham disparava na frente, este segundo pelotão com três carros também abria distância da turma lá de trás.

Na volta 28, faltando apenas quatro para o final, outra coisa começou a faltar entre os líderes: combustível. Primeiro Jim Clark teve que fazer um pit para colocar água no radiador, pois o motor estava superaquecendo. Logo depois o líder Gurney começa a se arrastar na pista, poupando tudo que tinha para chegar aos boxes e colocar mais um pouquinho de gasolina. Acontece que a garagem da Lotus estava igual aos postos de gasolina do Brasil durante a greve dos caminhoneiros, e não tinha gasosa nem para acender uma churrasqueira. Gurney ainda voltou, mesmo sabendo que não terminaria a prova, em um clássico momento de “vai que dá?”. Hill e McLaren já tinham passado e se encaminhavam para a vitória. Mas a Cooper de Bruce tinha problemas na bomba de combustível e estava engasgando na pista. Gurney pisou no da direita como se estivesse em um Fórmula E e, justamente quando ultrapassava McLaren teve uma pane seca na Stavelot e precisou encostar. No mesmo momento, um pouco mais à frente, Graham Hill também ficou sem combustível e abandonou, deixando um manco McLaren sozinho e lento na dianteira, precisando fazer pouco menos de meio circuito para vencer a prova. Jim Clark, que havia perdido tempo com aquele pit anterior, não sabia o que estava acontecendo e vinha bastante distante tentando chegar perto dos líderes.

Enquanto isso, na linha de chegada, Ginther recebia a bandeirada por equívoco, pois pensaram se tratar de Hill, não sabendo que ele tinha abandonado. Quando perceberam o erro, viram Bruce McLaren beeeeeeeem lento fazer o grampo da La Source. Ele só tinha cheiro de gasolina no tanque, e o motor faminto resolveu parar de funcionar, mas o impulso ainda foi suficiente para que ele embicasse o carro na descida em direção à Eau Rouge e à vitória. Lá vinha ele, um McLaren lento no caminho (adoro escrever isso), usando a força da gravidade para andar a 20 km/h quando surgiu uma Lotus encapetada logo atrás a quase 200. Clark passou a Cooper pouco antes da linha de chegada e venceu a prova, mas não sabia disso, pois não tinha percebido que Gurney e Hill ficaram pelo caminho. Na volta de desaceleração, acreditando ter conseguido um ótimo terceiro lugar, avistou Graham parado na Stavelot esperando uma carona. Foi lá que ficou sabendo que tinha ganhado a corrida, enquanto conversava com o compatriota à beira da pista, pois sua Lotus também teve pane seca e não conseguiu voltar aos boxes. Jack Brabham, que não tinha nada a ver com isso e era tão pão duro que nem gasolina gastava, ficou com a terceira posição.

Jim Clark consegue a terceira vitória seguida em Spa, de maneira surpreendente. Fonte: Pinterest

lll FORA DAS PISTAS

Hoje é aniversário da tenista Steffi Graf, do chefe do Culture Club, Boy George e do controverso atual presidente americano Donald Trump (que, ironia do destino, faz aniversário no mesmo dia de Ernesto “Che” Guevara).

E, em 1977, o Led Zeppelin fez sua última apresentação em Nova York, na sexta noite seguida de ingressos esgotados no Madison Square Garden. O show teve três horas de duração e contou com os maiores sucessos da banda, e graças à internet podemos ver um pouquinho:

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Carlos Eduardo Valesi

Velho demais para ter a pretensão de ser levado a sério, Valesi segue a Fórmula 1 desde 1987, mas sabe que isso não significa p* nenhuma pois desde meados da década de 90 vê as corridas acompanhado pelo seu amigo Jack Daniels. Ferrarista fanático, jura (embora não acredite) que isto não influencia na sua opinião de que Schumacher foi o melhor de todos, o que obviamente já o colocou em confusão. Encontrado facilmente no Setor A de Interlagos e na sua conta no Tweeter @cevalesi, mas não vai aceitar sua solicitação nas outras redes sociais porque também não é assim tão fácil. Paga no máximo 40 mangos numa foto do Button cometendo um crime.

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