Dentro desta estimada coluna que conta os causos da história do esporte a motor, talvez este seja o dia que carregue mais simbolismos e que gere mais comentários pela efeméride mais marcante do dia. Claro que houve grandes eventos no automobilismo que ocorreram em 1º de maio, mas a data em questão não tem como não ser lembrada pelos acontecimentos daquele ano de 1994. Por mais que tentem disfarçar, mesmo que não era nascido ou era jovem demais para se lembrar, sabe perfeitamente do impacto daquele evento.
O fato é: você, caro leitor, está lendo este texto pois sabe perfeitamente, que no dia 1º de maio de 1994, a Williams FW16 Renault atingiu a 216 km/h o muro de proteção da curva Tamburello, a primeira do Autódromo Enzo e Dino Ferrari, na cidade italiana de Ímola e que os destroços do bólido atingiram a cabeça do condutor daquele veículo, o levando a óbito ainda naquela tarde. Assim, chegava ao fim a carreira e a vida de Ayrton Senna da Silva.
Desde então, toda a história, carreira e trajetória de Senna foram retratadas das mais diversas formas e em quase todos os tipos de mídias conhecidos pelo homem. Da mídia impressa (jornais, livros e revistas), radiofônica, televisiva, cinematográfica e até com modelos mais ortodoxos, como mangás ou peça de teatro musical!
Mas afinal de contas, por que mais um texto sobre ele? Bom, será mais um artigo a se perder na vastidão de obras que contam todos os feitos, as vitórias, as brigas, os acidentes e a vida pessoal e profissional do Ayrton, certo? Na verdade, o objetivo é mostrar como o repertório, mesmo que finito, ainda é capaz de mexer com a mente e as emoções do amigo cabeça de gasolina.
Aliás, não só os cabeças de gasolina, como para muitos brasileiros em geral. Afinal era uma horda de pessoas que acompanhavam as corridas de Fórmula 1, seja de manhã, à tarde ou nas madrugadas para torcer por aquele piloto do capacete amarelo. Bem da verdade que o passamento de Senna serviu, de certo modo, para separar o joio do trigo para definir quem realmente é maluco o suficiente para curtir esse maravilhoso esporte que é o automobilismo.
Ainda assim, o nome Ayrton Senna ainda desperta sentimentos no coração e na mente das pessoas a volta. Alguns sentem um certo ódio, ranço ou desprezo pela personalidade, outros o admiram e o veneram quase como um santo. Obviamente, há exageros de parte a parte. Em tempos de fortes desavenças, principalmente pelas redes sociais, é notório os excessos cometidos de parte a parte.
Nem deveria fazer isso, mas bancando o ombudsman do Boletim do Paddock, todos nós temos uma dificuldade absurda ao falar sobre Senna, diante do fanatismo vigente. Aqui tem se privilegiado mais trazer uma visão mais crítica sobre o tricampeão, para evitar ufanismos, especialmente levantados pela Rede Globo ao longo dos anos.
Ora, não há a menor dúvida que a aura mística que a Vênus Platinada estabeleceu em cima de Ayrton contribuiu e muito para a formação das chamadas “viúvas”, que possuem um comportamento execrável dentro e fora da internet. No entanto, o movimento contestador de profissionais da mídia especializada, na mesma proporção, também opta por estabelecer a sua opinião à força.
O que cabe falar a respeito desse assunto é tudo foi uma consequência do próprio perfil de Senna dentro e fora da pista, especialmente no que tange ao marketing pessoal que o piloto apresentava. Talvez nenhum piloto tenha usado de forma tão intensa como Ayrton. O brasileiro mostrou que não bastava apenas sentar no carro e sair correndo.
Antes de tudo, é preciso salientar que Senna era um ser humano, com suas qualidades e suas falhas, e assim propenso a erros e atitudes execráveis (tipo Suzuka 1990), do mesmo modo que teve gestos nobres (como o socorro ao Erik Comas). Ayrton foi um ser humano com virtudes e defeitos, cuja balança pessoal de cada indivíduo faz a sua medição sobre quem foi o piloto como pessoa e cada qual com sua avaliação. O Cristiano Seixas falou isso com muita propriedade recentemente.
Todavia, essa busca pelo misticismo em cima do piloto também teve uma influência do perfil do piloto, não apenas pela busca incessante de estar presente na mídia, mas também pelo seu perfil workaholic. Essa postura, amparada por um momento complicado na política e na economia do Brasil, além do momento miserável que a seleção de futebol atravessava no fim dos anos 1980 e começo dos 1990 foi visto como a tábua de salvação do orgulho nacional.
Não à toa, muitos terapeutas motivacionais, empreendedores, políticos e charlatões em geral gostam de usar frases e experiências de vida de Senna como exemplo de que é possível ser um vencedor na vida. Talvez aí esteja outra razão para o ranço dos críticos.
Senna pode não ter sido o ser humano mais perfeito do mundo, mas não há como negar que o cara era bom naquilo que fazia. Além de cuidar de sua imagem pessoal como ninguém, fez o seu trabalho dentro das pistas. Todos os feitos da carreira estão aí para provar. Não apenas as estatísticas, mas as grandes exibições em Mônaco, Suzuka, Interlagos, Donnington Park e etecetera são provas suficientes da capacidade de Ayrton.
Gostar ou não de Senna é algo irrelevante, afinal a opinião varia de pessoa para pessoa, muito pelos efeitos do que se divulga em todas as mídias. Mas o fato é que não dá para ficar indiferente ao personagem que está na história do automobilismo.
Fato é que qualquer citação ao seu nome de qualquer entrevista de qualquer personalidade do mundo do esporte a motor ou qualquer ranking que classifica todos os pilotos da Fórmula 1 já viram motivos para flame wars entre os fãs fervorosos e os críticos ferrenhos. É uma discussão sem fim, mas o nome de Ayrton está sempre presente, de alguma forma.
Este é justamente um dos legados que Senna deixou. O brasileiro tornou-se uma referência. Qualquer novo talento ou jovem audacioso que surge já é tratado como o “Novo Senna” na comunidade automobilística, na mídia ou entre os fãs. O brasileiro sempre foi e continua sendo uma referência, seja a quem for.
E mesmo os pilotos sabem perfeitamente que atingir as marcas que Senna obteve dentro das pistas significa muito. Quem não se lembra quando Michael Schumacher, o maior vencedor da história da F1, chorou no dia em que igualou o número de triunfos do brasileiro.
E o que falar de Lewis Hamilton? O inglês sempre teve em Ayrton como um ídolo e um exemplo a ser seguido. Quando atingiu o mesmo número de poles que o brasileiro, recebeu a réplica do capacete do tricampeão mundial, o que levou de volta à infância, o sentimento como o de um menino que acabava de ganhar o presente mais legal do mundo!
Esses sentimentos não têm como esconder. Mesmo após quase um quarto de século da sua partida, O nome se tornou parte do imaginário dos fãs. Embora o lado humano ainda precise ser levado em consideração, o legado que Ayrton deixou ainda marca a memória de todos aqueles que acompanham a categoria.
Foram 34 anos, um mês e dez dias de vida para Ayrton Senna da Silva. Ele não fez mais do que pilotar carros de corrida, é verdade. No entanto, o rapaz paulistano o fez de uma maneira que mudou a visão das pessoas sobre o automobilismo dentro e fora das pistas. Queiram ou não, o piloto brasileiro entrou para a história e o seu nome estará sempre eternizado no mundo da velocidade.
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