A angústia pelo período de férias entre o fim de uma temporada e o começo da pré-temporada nas competições de automobilismo é algo comum entre os cabeças de gasolina de muitas categorias. Com a escassez de informações e de atividades no período entre dezembro e janeiro, há pouco pelo qual o fã mais assíduo possa se divertir.
Porém, nem sempre foi assim. Na década de 1960, a Fórmula 1 se aventurava em competições dentro dessas datas. Embora fosse uma época de comunicação mais escassa, havia o espetáculo nas pistas nessa época do ano, como relatamos em alguns dos nossos últimos posts.
Neste período, a África do Sul foi o palco dessas etapas (ou que fossem as decisivas, ou as que abriram o ano. Em 2 de janeiro de 1967, novamente, os bólidos estavam na pista para mais uma corrida no extremo sul do continente africano. A novidade ficava por conta da estreia do circuito de Kyalami. O traçado original tinha 4.094 metros e a etapa teria 80 voltas.
A corrida de abertura da temporada traria a expectativa de um teste de resistência para pilotos e equipes. Com uma série de mudanças de regulamento nos motores, que deveriam ter capacidade de três litros. Algumas equipes levaram 2 propulsores de 1,5 litro para cada carro, enquanto outras apresentaram alguns monstrengos bem potentes. Houve também que decidisse abdicar da corrida para se acertar neste quesito, como a Ferrari, que mais uma vez não ia para o GP sul-africano.
Na classificação, a Brabham-Repco repetia o domínio do ano anterior, com Jack Brabham, o campeão de 1966, na pole, seguido do seu companheiro Denny Hulme. Jim Clark, sempre um às nas classificações, conseguiu apenas o terceiro tempo, ainda com uma Lotus longe do auge.
Então começavam as surpresas: A Cooper, equipe tradicional, mas que estava longe dos seus melhores dias, colocou dois carros na quarta e quinta colocações, com Pedro Rodriguez, do México, e John Love, da Rodésia (atual Zimbádue) respectivamente. Fechava o top-six, John Surtees, correndo pela Honda. Nomes como Jackie Stewart (BRM), Jochen Rindt (Ccoper) e Graham Hill (Lotus) ficaram para trás e tinham que buscar a recuperação.
Com um sol de verão, daqueles de rachar, uma altitude de 1.500 metros acima do nível do mar e motores novos ou adaptados, a corrida virou um verdadeiro teste de resistência, com pilotos e equipamentos sofrendo na pista.
Na largada, Hulme partiu melhor e deixou o patrão Brabham para trás. Surtees pulou muito bem e fechou a primeira volta em terceiro, seguido por Rodriguez, Clark e Rindt. Jack tentou recuperar a liderança, mas rodou na terceira volta e caiu para quarto. Nas posições intermediárias, muitas trocas de lugar em disputas equilibradas.
Logo, os problemas começaram a afetar os pilotos e as equipes. Stewart abandou com problemas de motor, Hill se acidentou, e Clark também teve problemas no propulsor. Rindt e Jo Siffert, ambos da Cooper, também abandonaram com problemas no motor Maserati.
A turma que estava mais a frente começou também a sofrer. Rodriguez passou a conviver com falhas no seu câmbio, enquanto Surtees padecia de perda de performance do motor Honda (parece familiar, né Alonso?). A vítima seguinte foi Jack Brabham, que perdeu quatro voltas para fazer reparos em seu carro. Tudo isso com pouco mais da corrida decorrida.
A vitória parecia tranquila nas mãos de Hulme. Mas não é que os freios do neozelandês também começaram a falhar? Na volta 60, o piloto da Brabram precisou parar e perdeu duas voltas, ficando fora da briga pela vitória.
A liderança, pasmem, ficou com John Love. O rodesiano com um Cooper-Climax cliente, movido por motor preparado para a Tasman Series (uma categoria de carros da F1 que só competiam na Oceania naquela época), e que só disputaria aquela etapa da F1, como nos outros anos, sobrevivia aos percalços e partia para uma improvável vitória, colocando o país africano na lista dos vitoriosos da F1. A torcida presente em Kyalami o apoiou e vibrava com a liderança do piloto da pátria mais próxima.
No entanto, o sonho de Cinderela começou a desmoronar a seis voltas do fim. A bomba de combustível começou a falhar e Love precisou parar nos boxes. Numa época em que os pit-stops demoravam uma eternidade, o rodesiano ainda não perdeu tanto tempo, mas o bastante para perder a ponta para Rodriguez. O mexicano tinha apenas duas marchas do seu câmbio funcionando.
Love pisou fundo e tentou tirar a diferença do jeito que dava, mas não havia mais tempo. Rodriguez chegava em primeiro com 26 segundos de vantagem para o rodesiano. Surtees, mesmo com o problemático motor Honda, conseguiu levar o carro da equipe japonesa ao pódio. Apesar dos percalços, a dupla da Brabham conseguiu pontuar (Hulme em quarto e Jack em sexto), tendo o britânico Bob Anderson (também de Brabham, mas com equipe cliente) entre eles.
Não foi o vencedor mais improvável, mas certamente, foi uma das vitórias mais incríveis da história da F1. Se a Rodésia não conseguiu colocar um vencedor de grande prêmio, tivemos outro país celebrando o primeiro triunfo: o México. Como a organização da prova não esperava a vitória do mais velho dos “Hermanos Rodriguez”, e por isso, foi executado a música Jarabe Tapatio (também conhecida como a Dança do Sombrero!!!) em vez do hino nacional. Tal atitude levou Pedro a levar a partir das demais corridas a bandeira mexicana e um disco com a melodia correta gravada.
Além de ser a primeira conquista de Pedro e de um mexicano, a vitória na África do Sul também foi a última da Cooper e também do motor Maserati na categoria, encerrando assim um ciclo histórico.
Fontes: Stats F1, Continental Circus (link 1 e link 2), Contos da F1, Memória F1 e Wikipédia (link 1 e link 2)
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