O quarto Grande Prêmio da África do Sul, disputado em 07 de março de 1970, foi o primeiro GP daquela nova década. Em 1969, Jackie Stewart e a equipe Tyrrell conquistaram o título mundial em uma Matra da Ford-Cosworth. Mas a Matra decidiu retornar oficialmente à Fórmula 1 com seu próprio motor V12. Ken Tyrrell não está nada convencido do desempenho do motor francês, e resolveu procurar um carro novo para seu campeão. E, quando falamos em novo, queremos dizer NOVO MESMO. Tyrrell fecha com uma fabricante que ainda não tinha um ano de vida: a March (contamos a história deles aqui).
O March 701 era um carro convencional movido por um Ford-Cosworth V8 e sua única peculiaridade eram os tanques laterais, encimados por asas de aeronaves invertidas, prenunciando o princípio do efeito de solo. Este 701 está pronto para ser vendido para quem quiser, além de equipar a equipe oficial própria de mesmo nome, liderada por Mosley e com dois pilotos experientes: Chris Amon e Jo Siffert.
O CEO da companhia petrolífera STP, Andy Granatelli, também compra um March, e a STP corre com um único piloto, o grande Mario Andretti. Completando o pacote de 5 carros vendidos, dois March 701 vão para a Tyrrell, aos cuidados de Stewart e seu companheiro de equipe, o jovem francês Johnny Servoz-Gavin. Mas desde os primeiros testes, Stewart dá seu veredicto: o 701 é um carro ruim, pesado e desajeitado. Portanto, em segredo, Ken Tyrrell confia ao engenheiro Derek Gardner a construção de um novo carro destinado a aparecer no final da temporada.
A Scuderia Ferrari inicia um novo ciclo, graças a um subsídio concedido pela Fiat, e com planos bastantes ambiciosos. Primeiro de tudo, seu jovem talento Jacky Ickx retornou ao time depois de uma temporada na Brabham. Mauro Forghieri desenhou um novo carro, o 312B, simples e elegante mas a grande novidade é o motor de doze cilindros desenvolvendo 460 cv. Ickx será o único piloto da equipe no início da temporada.
Novas ambições também na BRM. Louis Stanley assumiu definitivamente a equipe após o ataque cardíaco de Sir Alfred Owen. Para substituir o engenheiro da Lotus, Tony Rudd, Stanley contratou o gerente de chassis Tony Southgate e Aubrey Woods para revitalizar o motor V12. Tim Parnell é nomeado diretor de esportes. O novo carro, o P153 projetado por Southgate, aparece imediatamente como o mais bonito do grid. Com John Surtees deixando a equipe, o fiel Jackie Oliver é promovido a primeiro piloto. Ao seu lado encontramos o excelente mexicano Pedro Rodriguez, ex-integrante da equipe Parnell. Finalmente, o canadense George Eaton dirigirá um antigo P139 no início da temporada.
Cansado do fraco desempenho da BRM, John Surtees decidiu dar o grande passo: criou uma equipe para chamar de sua, o Team Surtees. Sua ambição é construir seu próprio carro, mas nesse meio tempo ele comprou um McLaren M7C que dirigiria no início da temporada.
As relações entre Jochen Rindt e Colin Chapman azedaram em 1969 e o piloto austríaco queria deixar a Lotus. Com seu empresário Bernie Ecclestone, eles também pensaram em fazer como Surtees e montar seu próprio time, como haviam feito na Fórmula 2. Mas Colin Chapman conseguiu convencê-los a ficar oferecendo a Rindt o “Status Jim Clark”: um salário consistente e um carro personalizado, o futuro 72 que prometia ser revolucionário. No início da temporada, porém, Rindt teria que se contentar com a evolução do 49B, o 49C. Seu companheiro de equipe é John Miles, que pagou muito para estar ali. Finalmente, Peter Warr é o novo Diretor Esportivo da equipe, substituindo Andrew Ferguson.
Cinco meses após o acidente em Watkins-Glen no qual quebrou as duas pernas, Graham Hill está de volta à competição. Ele ainda dirige um Lotus 49, mas desta vez em nome de Rob Walker.
A Brabham inaugura seu novo carro, o BT33, o primeiro carro da marca com chassi monocoque. Jack Brabham gostaria de se aposentar, mas ele não conseguiu manter Jacky Ickx para assumir a liderança, então aos 44 anos lá estava ele começando uma nova temporada. Seu novo companheiro de equipe é o jovem alemão Rolf Stommelen, que dirigirá um carro branco, a cor de seu patrocinador, a revista Auto Motor und Sport.
Bruce McLaren ao lado de Jo Marquart apresentam o M14A, uma evolução natural do M7. Denny Hulme, como sempre, está escalado, mas aos 33 anos Bruce também gostaria de pendurar as luvas para se concentrar em gerenciar seu negócio. Ele chegou a fazer uma oferta para Jackie Stewart, que recusou, e portanto Bruce se compromete por mais um ano ao volante.
Frank Williams se torna um construtor de pleno direito. Ele assinou um acordo tripartite com a Ford e Alessandro de Tomaso, um argentino especializado na produção de carros esportivos. Este último confiou ao jovem engenheiro Gianpaolo Dallara a construção de um F1, com motor 505 da Ford-Cosworth, que é confiado ao jovem britânico Piers Courage, uma das revelações da temporada anterior.
Por fim, os calçados: Tyrrell, BRM e Williams usam Dunlop, Matra e Brabham vão de Goodyear, enquanto o time Firestone é formado pela McLaren, Ferrari, Lotus, March e STP. Como grande novidade, o novo tipo de pneus sem ranhuras da Dunlop: é o nascimento do pneu “liso”, desenvolvido em particular por Jackie Stewart. Para esta primeira corrida da temporada, a Dunlop revela um novo pneu com as únicas estrias de desenho em forma de pegadas de pássaro. Apenas Stewart e Rodriguez poderão usá-los.
Os novos regulamentos também vieram para dar uma bagunçada na ordem de forças até então reinante: a capacidade dos compressores é limitada a 500 cm3 e a dos motores atmosféricos a 3000 cm3. O peso mínimo é definido em 530 quilos. Os tanques de plástico “flexíveis” são introduzidos para impedir sua explosão em caso de um grande choque e, portanto, a explosão geral do carro. Esses tanques teriam que se deformar sob impacto e dar tempo para o piloto sair do carro. A segurança nos circuitos é significativamente melhorada com a instalação de faixas de grama de três metros de largura na borda da pista e trilhos duplos de segurança. Os espectadores terão que ser colocados a mais de três metros atrás dessas barreiras. As botas de palha são proibidas, enquanto a separação física entre o pit lane e a pista é finalmente obrigatória. Finalmente, a FIA terá que realizar inspeções em cada circuito antes de ser aprovado.
Com tudo isto, as expectativas para a primeira prova do ano estavam nas alturas. Já na classificação, uma primeira surpresa com a competitividade das March. Stewart e Amon empatam com o melhor tempo em 1:19.3, e por ter status de campeão mundial, Stewart fica com a pole. Brabham prova o potencial do seu novo carro completando a primeira fila, em terceiro. Rindt está em quarto à frente da Ferrari de Ickx. Na terceira fila, encontramos Hulme, Surtees e Beltoise. Siffert e Bruce McLaren estão na quarta fila, completando os dez primeiros – com apenas um segundo de diferença entre Stewart e McLaren.
O campeão larga bem, mas seus companheiros de primeira fila não. Amon se estranha com Rindt e este chega a encostar em Brabham, permitindo que Ickx assuma a segunda posição, com Beltoise, Jackie Oliver da Brabham, que tinha largado em 12º(!) e McLaren logo atrás. Brabham caiu para sexto, e Amon era apenas o 18º.
Enquanto Stewart começava a descolar na liderança, Brabham vinha numa corrida de recuperação e na volta quatro já tinha passado por McLaren e Oliver; logo o velho australiano também deixa Beltoise para trás e parte em busca da segunda posição de Jacky Ickx. Consegue ultrapassá-lo na volta 6, mas agora precisa tirar uma boa distância, cerca de 7 segundos, para chegar a Stewart.
Ickx não consegue suportar a pressão das duas McLaren, e Hulme é o primeiro a passar, com Bruce seguindo-o logo depois. Lá na frente, em um desempenho excepcional, Brabham chega em Stewart e, na volta 20, toma-lhe a liderança e abre mais de 7 segundos nas dez voltas seguintes. Hulme, em terceiro, vem outros cinco segundos atrás, mas vai tirando a diferença a cada volta e logo está batendo rodas com o escocês, até conseguir a posição.
E as coisas ficam assim no pódio. Lá atrás, aquele costumeiro festival de quebras do início do ano. Ficam pelo caminho Andretti, McLaren, Servoz-Gavin, Ickx e Rindt, entre outros. Graham Hill, que tinha largado de uma distante 19ª colocação, fecha a zona de pontuação em sexto, e precisa de auxílio para sair do carro – seu joelho operado não conseguia mais flexionar.
Por fim, Jack Brabham consegue sua 14ª e última vitória na Fórmula 1, e o chassis da March conquista uma pole e um pódio na sua estreia. Os anos 70 começam com novas e antigas emoções misturando-se.
lll FORA DAS PISTAS
Se você estiver lendo isso na tela do seu celular, saiba que tudo começou em sete de março de 1876, quando Alexander Graham Bell patenteou uma invenção que ele batizou de “telefone”. Se não estiver também.
Nasceram nesta data a bela atriz Rachel Weisz, o jogador de tênis Ivan Lendl, o jornalista Rubens Ewald Filho e Ernie Isley, que formou um grupo com seus irmãos (muito originalmente chamado de “The Isley Brothers”) e, em 1962, gravaram uma música que você já ouviu muito, só não sabia que era deles.
lll A Série 365 Dias Mais Importantes do Automobilismo, recordaremos corridas inesquecíveis, títulos emocionantes, acidentes trágicos, recordes e feitos inéditos através dos 365 dias mais importantes do automobilismo.