10 anos após o triunfo dominante de Mansell em Österreichring, a Fórmula 1 enfim pisava em solo austríaco novamente, agora tendo o novo e revisado A1 Ring como palco para o espetáculo. Com apenas 10 pontos separando Schumacher e Villeneuve no mundial de pilotos, a 14ª etapa do campeonato era decisiva para as esperanças canadenses de impedir mais uma vitória alemã e se manter na briga pelo título de 1997.
Preocupações com as altas velocidades e a falta de segurança dos pilotos motivaram a reconstrução do antigo e clássico Österreichring em 1995. Hermann Tilke foi contratado para redesenhar o traçado em busca de mais proteção e oportunidades de ultrapassagem, reduzindo a pista de 5.942km para 4.326km. O agora chamado A1 Ring dividiu opiniões entre os pilotos jovens e veteranos após o início das atividades na sexta-feira, uma vez que o outrora mítico circuito agora possuía uma configuração totalmente nova, guardando apenas a localidade como herança de seu passado histórico.
A classificação de sábado não trouxe surpresas na primeira fila, que foi dividida por Jacques Villeneuve e Mika Hakkinen, todavia, o novo traçado se provou imprevisível ao impulsionar a sofrível Prost-Mugen de Jarno Trulli para a terceira colocação no grid. O jovem italiano era seguido por Frentzen e as duas Stewarts de Barrichello e Magnussen, que também estavam frequentando vizinhanças desconhecidas na 3ª fila. Eddie Irvine era o 8º e Schumacher apenas o 9º, abrindo a porta para os sonhos da reabilitação de Villeneuve na briga se manterem vivos por mais um GP.
A liderança de Villeneuve durou menos de uma reta no domingo, já que Hakkinen e Trulli superaram o piloto da Williams já na primeira curva da corrida. O canadense brigava agora com as duas Stewarts para defender seu pódio mas logo seria superado por Rubens Barrichello. Apesar da ótima largada, Mika sequer conseguiu completar uma volta da corrida, abandonando pouco antes da reta de largada e entregando a liderança para a surpresa do final de semana Jarno Trulli. O italiano, que poderia assustar diante das circunstâncias, agora comandava o pelotão com muita autoridade.
Em uma mesma temporada que fomos presenteados com a vitória emocionante do veterano Gerhard Berger com sua Benetton em Hockenheim e a atuação de gala de Damon Hill e sua modesta Arrows em Hungaroring, um jovem italiano em apenas sua 14ª corrida na categoria agora liderava com o bólido azul da equipe de Alain Prost. Em segundo, um brasileiro que buscava se destacar e eventualmente trazer de volta as alegrias de um país inteiro na F1 levava o monoposto branco de Jackie Stewart para o segundo degrau do pódio depois de tantos problemas durante a temporada inteira.
Com 15 voltas completadas, os dois jovens pilotos continuavam atuando como veteranos. Trulli já tinha quase 5 segundos de vantagem na ponta e Barrichello continha o ímpeto da Williams de Villeneuve, que buscava recuperar os pontos perdidos na primeira volta, enquanto Jan Magnussen usava cada centímetro de pista disponível para segurar sua incrível 4ª posição, se defendendo dos ataques de Frentzen e Schumacher.
Jacques enfim superou a Stewart do brasileiro na volta 23, direcionando seus olhares para Trulli e angariando mais 2 pontos para o mundial de pilotos. No 25º giro, Magnussen foi o primeiro dos líderes a entrar nos boxes, deixando Frentzen e Schumacher de cara para o vento. Barrichello fez sua primeira parada na volta 28 e Trulli na 37, entregando a liderança para as duas Williams pouco antes de Alesi e Irvine se encontrarem na curva 3. A Ferrari do irlandês saltou sobre a Benetton do francês, causando o abandono dos dois. Esse incidente indiretamente também prejudicaria a corrida de Michael Schumacher, que seria posteriormente punido por fazer uma ultrapassagem sob bandeiras amarelas.
Villeneuve partiu para os pits na volta seguinte e conseguiu completar seu overcut sobre Jarno Trulli com perfeição, saltando o italiano durante as paradas nos boxes. Com todos os pit-stops realizados na ponta, Villeneuve era agora o líder, seguido por Trulli, Schumacher, Barrichello e Magnussen. O brasileiro perderia sua ótima colocação após fazer sua segunda parada nos boxes na mesma volta em que Michael serviu seu stop-go de 10 segundos, caindo no pelotão e perdendo pontos preciosos.
Entretanto, a Fórmula 1 às vezes consegue quebrar corações com requintes de crueldade dignos de filmes Hollywoodianos. A Prost vivia um sonho com a 3ª posição de Trulli no grid e uma corrida extremamente sólida, até que tanto Jarno quanto Nakano sofreram problemas de motor cinematográficos quase simultâneos. Em questão de segundos, a equipe modesta de meio de pelotão que experimentava um sonho lindo voltava para a Terra. A 21 giros de um possível pódio, tudo que a equipe podia fazer era começar a empacotar seus equipamentos e pensar no próximo GP. No final das contas era tudo uma miragem.
Com o abandono de Trulli, Villeneuve tinha ainda mais folga na ponta e era agora seguido por Coulthard e Frentzen enquanto Schumacher batalhava para voltar para a zona de pontuação. Após um começo trágico, as estrelas pareciam se alinhar para o canadense, que enfim via o destino sorrir em sua direção. O alemão tinha agora a missão inglória de arrancar pelo menos duas ultrapassagens em menos de 10 voltas. Com seis giros restando, Michael superou Barrichello, que escapou e sofreu uma quebra de suspensão, consequentemente abandonando a prova. O alemão precisou esperar até a última volta para enfim completar a manobra linda em Damon Hill e garantir um ponto solitário no mundial de pilotos.
Enredos e lágrimas a parte, Villeneuve venceu com autoridade e muita sorte, assistindo Michael Schumacher se contentar com uma singela 6ª posição. O campeonato que poderia sair da Áustria perdido agora tinha apenas um ponto separando os dois pilotos, e com apenas três corridas restando no calendário, a batalha pelo título mundial de 1997 estava totalmente aberta.