Uma pancada de Grosjean, um heróico terceiro lugar de Perez e da Force India, um russo maluco que quase foi atropelado por Vettel e um encontro finlandês não amigável tornaram o Grande Prêmio da Russia de 2015 tudo menos monótono.
A prova, que aconteceu no dia 11 de outubro, começou com Nico Rosberg na pole e Hamilton a seu lado. Um alento para o alemão da Mercedes, pois ele chegava à 15ª de 19 provas 48 pontos atrás do seu companheiro de equipe no campeonato. Vettel ocupava a terceira posição na tabela, 11 pontos atrás do compatriota.
Até a classificação oficial os pilotos tiveram pouco tempo para treinar neste que foi o segundo GP da Rússia: na sexta, um caminhão que fez um lago de óleo na pista no FP1 e uma chuva torrencial no FP2 seguraram os carros na garagem na maior parte do tempo. No sábado cedo, uma pancada forte de Carlos Sainz no FP3 provocou bandeira vermelha mais cedo. Restou então a todos dar o máximo na hora em que valia para o grid e, trocando recordes de pista, as duas Mercedes fizeram um belo jogo de gato e rato (vocês decidem quem é o Tom e quem é o Jerry) até que Rosberg prevaleceu. Com uma boa performance, a Williams (não, você não leu isso errado) de Valtteri Bottas ficou com a pole do resto, restando a Vettel e Raikkonen posicionarem suas Ferrari na quarta e quinta posições, respectivamente. Depois vinham as duas Force India, Hulkenberg à frente de Sergio Perez. Sainz largaria com sua Toro Rosso dos boxes, uma vez que não treinou pois estava fazendo exames devido à sua batida mais cedo.
Na largada Rosberg conseguiu manter a ponta, Hamilton ficou em segundo e Raikkonen ganhou duas posições para aparecer em terceiro. Lá atrás, na zona do agrião, Hulkenberg não conseguiu manter o bico do carro virado para o lado certo na curva dois e colheu Marcus Ericsson, decretando fim de corrida para os dois. Max Verstappen também estava ali por perto e saiu se arrastando com um pneu furado, o que comprometeu sua corrida. Com a necessidade de tirar os carros do meio do caminho, o safety car fez sua primeira aparição no dia.
A limpeza foi rápida, e na volta três já tínhamos um “djogo” novamente. Mas os giros em velocidade reduzida fizeram mal para o carro de Rosberg, e Nico não tinha mais controle sobre qual marcha iria entrar quando acionava o câmbio. A situação era irreversível, e na volta sete ele abandonava a prova e via o campeonato sumir à sua frente, levado pelo novo líder da corrida, Lewis Hamilton.
À beira da pista, viu também Bottas exigir novamente sua terceira colocação, já num prenúncio de que iria se bicar com Raikkonen o tempo inteiro. Rosberg nem tinha chegado ao motorhome ainda quando Grosjean virou passageiro e arrebentou seu carro contra a barreira de pneus. Arrebentou não foi força de expressão: apesar do piloto sair ileso, infinitos pedaços de Lotus se espalharam pelo universo, mais notadamente na pista. Chama o Meireles, quer dizer, o Mäylander novamente. Era a volta 12, e o SC ficou até a 17, o que permitiu um belo jogo de xadrez.
No ano anterior a Pirelli tinha levado os pneus médios, e não gostou do resultado. Rosberg tinha ido até a penúltima volta com o mesmo calçado da largada, e só trocou porque era obrigado. Em 2015 a fabricante italiana resolveu levar os macios e supermacios. A janela de pits para a estratégia de uma só parada era por volta do 25º giro, porém vendo que o desempenho estava acima da média alguns membros do pelotão intermediário pensaram “vai que dá, né?”, e aproveitaram a corrida neutralizada para fazer a troca, entre eles Perez e Ricciardo. Os líderes, que tinham mais a perder, ficaram no plano mais ortodoxo.
Na relargada Vettel forçou a ultrapassagem sobre Kimi e assumiu a terceira posição, indo à caça de Bottas. Hamilton brevemente aumentou sua vantagem para o segundo colocado. Na volta 27 o finlandês da Williams entrou para trocar de pneus, e acabou saindo no meio do tráfego. Isso permitiu a Vettel fazer o overcut na volta seguinte voltar à frente. Raikkonen parou logo depois e saiu dos boxes colado novamente ao seu compatriota, enquanto Hamilton tinha aberto vantagem suficiente para fazer a substituição da borracha e manter a liderança. Pérez agora era o terceiro, com Ricciardo em quarto. Kimi passou Valtteri com o DRS mas tomou o troco na curva seguinte, e a briga estava boa.
Com a corrida e os pneus acabando, formou-se o trenzinho mexicano do tio Perez, com Ricciardo, Bottas e Raikkonen logo atrás da Force India. Enquanto isso Sainz tinha uma falha catastrófica nos freios, rodava e perdia a asa traseira na pista. “Ah, não, safety car de novo não”, pensou um fiscal russo, e decidiu entrar correndo para resgatar o acessório da Toro Rosso. Deu certo, mas só porque Vettel estava esperto – na Rússia, é uma Ferrari em alta velocidade que desvia de você.
Já na penúltima volta, Ricciardo abandona com um problema na suspensão de sua Red Bull, e os dois finlandeses aproveitam para ultrapassar Perez. Parecia que tudo iria acabar assim até que, nos estertores da prova, Kimi tenta uma manobra no mínimo otimista sobre o outro finlandês, e os dois se acertam. Fim de corrida para Bottas, que falou o que devia e o que não precisava após a corrida, enquanto a Ferrari se arrastava na pista, soltando faíscas e perdendo duas posições, para terminar em quinto. Hamilton não estava nem aí e vencia a prova, aumentando sua vantagem para 68 pontos acima do novo ocupante da vice liderança, o também segundo colocado na prova Vettel. Nico agora era o terceiro, mais sete pontos atrás do outro alemão, e bastava a Hamilton ficar nove pontos à frente do germânico da Ferrari para sagrar-se campeão do mundo mais uma vez.
Mas se Rosberg nem pontuou, Vettel ficou mais longe da briga e Hulkenberg rodopiou na primeira volta, quem foram os alemães que se deram bem na Rússia e fizeram o título desta coluna? Os da Mercedes, ora. Acontece que a manobra estilo guerra civil entre os finlandeses na última volta foi investigada e Raikkonen foi considerado culpado, perdendo 30 segundos no tempo de prova e caindo da quinta para a oitava colocação. Estes seis pontos a menos eram suficientes para que a Ferrari não conseguisse mais lutar pelo campeonato de construtures, dando às Flechas Prateadas seu segundo título seguido. Para a Mercedes, o General Inverno não representava risco, e o bicampeonato veio na mesma Rússia onde eles tinham conquistado o primeiro título, no ano anterior. E nós já desconfiávamos que outros viriam na sequência.
FORA DAS PISTAS
O dia 11 de outubro marca os nascimentos de Bobby Charlton, meio-campista Bola de Ouro e Campeão Mundial pela Inglaterra em 1966, Maria Esther Bueno, nossa tenista com merecida fama mundial e 19 títulos de Grand Slam, da atriz Joan Cusack e do mestre Agenor de Oliveira, o imortal Cartola. Fiquem com um dos muitos presentes que o maior sambista brasileiro nos deixou: