Existem alguns pré-requisitos para que uma pessoa se habilite a virar piloto de carros de corrida: concentração, reflexos, gosto por velocidade, teimosia e um parafuso a menos são alguns deles. Afinal de contas, não é qualquer um que se dispõe a vestir uma roupa de astronauta, entrar numa banheira de gasolina e se sacudir a mais de 300 km/h, no limite da sensatez.
Maria Teresa de Filipis era uma dessas pessoas teimosas. A italiana, nascida em Nápoles no dia 11 de novembro de 1926, tinha todos os requisitos para desempenhar a função de piloto com competência, especialmente a teimosia.
Cavaleira na adolescência, aos 22 anos começou a se interessar pelas corridas de carros que ressurgiam no período pós-guerra. Seus dois irmãos troçaram dela, dizendo que ela nunca seria capaz de pilotar rápido como um homem, e uma aposta foi feita.
A primeira prova que Maria Teresa participou foi um raid de 10 quilômetros entre as cidades de Salerno e Cava de’ Tirreni, a bordo de um Fiat 500. Venceu e impressionou, passando a correr em campeonatos de carros esporte locais, alcançando o vice-campeonato nacional da categoria em 1954.
Os bons resultados ergueram algumas sobrancelhas, tanto de colegas, quanto de fãs e dirigentes, e a Maserati se antecipou para garantir o talento da jovem italiana, que a partir de 1956. Pela marca, Maria Teresa guiou nos mais diversos eventos, como subidas de montanha e provas de endurance.
Em 1958 teve sua primeira chance no maior palco do automobilismo, justamente no maior dos eventos, o GP de Mônaco. Infelizmente, a Ás não conseguiu se classificar.
Tentaria a sorte mais três vezes nesse ano, na Bélgica, em Portugal e na Itália. Um honroso décimo lugar em Spa, após largar em 19º, foi sua melhor classificação de chegada na carreira. E pensar que, nos dias de hoje, o resultado lhe asseguraria um pontinho.
Ainda no ano de 1958, conquistou um quinto lugar no GP de Syracuse, que não contava para o calendário do Campeonato Mundial.
No ano seguinte, mais uma tentativa de classificação infrutífera no GP de Mônaco e uma participação do International Trophy, e Maria Teresa sentiu que a aposta estava vencida: provou para seus irmãos e o mundo que tinha mesmo um parafuso a menos.
Após pendurar as luvas, Maria Teresa casou-se em 1960, e retornou ao esporte como como membro da comissão de ex-pilotos da FIA até 1997, onde ocupou a função de vice-presidente.
Maria Teresa de Filipis faleceu em 8 de janeiro de 2016, deixando um legado que foi carregado por Lella Lombardi, Divina Galica, Desiré Wilson, Giovanna Amati, Sarah Fisher, Katherine Legge, Susie Wolff, María de Villota, Simona de Silvestro, Carmen Jordá, Claire Williams, Monisha Kaltenborn, Tatiana Calderón, Bruna Tomaselli e outras tantas mulheres com um parafuso a menos.
Até a próxima senhores!