Guy Ligier nasceu em 12 de julho de 1930, na França. Filho de um fazendeiro, ficou órfão aos 07 anos e largou a escola pouco depois para trabalhar como açougueiro na sua cidade natal. Competitivo e pouco seletivo em relação a esportes, foi campeão francês de remo em 1947 e jogou rugby no time B da seleção de seu país. Após uma contusão, partiu para o esporte a motor, primeiro no motociclismo (bicampeão da França em 1959 e 1960) e depois passando aos monopostos, participando de 8 edições das 24 Horas de Le Mans e entrando com seu próprio Cooper-Maserati T81 em algumas provas da Fórmula 1 em 1966 e 1967, porém sem o mesmo sucesso com as quatro rodas.
E o que faz um cara com dinheiro, que gosta de competição e percebe que não tem talento para vencer? Compra um time.
Guy fundou a Ligier Cars ainda em 1968, com a intenção de construir seus próprios carros de corrida. Quando surgiu uma oportunidade na Fórmula 1, não titubeou: em 1976 comprou os direitos da compatriota Matra e, impulsionado por motores da empresa estreou no Grande Prêmio do Brasil daquele ano. A primeira vitória veio no GP da Suécia de 1977 com Jacques Laffitte, que teria seu nome frequentemente associado à equipe Ligier, tendo pilotado seus carros por nove anos.
Sem muito sucesso depois da vitória inaugural (frequentou esporadicamente o pódio em 1978), e com o fim do acordo com a Matra, a Ligier mudou para os malvados Ford Cosworth no início de 1979, e já começou o ano com um carro novo, o vitorioso Ligier JS11. Esta rapidez para colocar seu bólido nas pistas provou-se uma aposta acertada, pois enquanto as outras equipes ainda estavam terminando a lição de casa (a Ferrari 312T4 só estreou na África do Sul, na terceira prova do campeonato), a Ligier flanou sem dificuldades.
Laffite fez a pole e venceu a prova inaugural de 79, na Argentina, tendo como segundo colocado Carlos Reutemann; a outra Ligier, guiada por Patrick Depailler, ficou em quarto lugar.
Completando o tour sul-americano, o circo veio até Interlagos para o sétimo Grande Prêmio do Brasil oficial. Depois de perder a prova de 78 para Jacarepaguá por conta de seu asfalto irregular, o circuito paulista prometia melhoras significativas. A pista até recebeu um assoalho novo, mas os pilotos continuaram reclamando dos saltos frequentes.
No dia 04 de fevereiro de 1979 a Ligier não tinha ninguém à sua frente no grid de largada. Jacques Laffite esmagou o recorde da pista que era de Jean-Pierre Jarrier em 1975 conseguindo a pole com um tempo de 2:23.07, mais de sete segundos mais rápido que a melhor volta anterior. Ao seu lado estava o companheiro de equipe. Na segunda fila as Lotus de Reutemann e Mario Andretti, e na terceira as Ferrari de Gilles Villeneuve e Jody Scheckter. Completavam o top 10 a Renault de Jabouille, a Tyrrell de Pironi, a Fittipaldi do próprio e a Wolf de James Hunt. Tempo ruim para os dois carros da Brabham, com Niki Lauda largando em 12º e Nelson Piquet num distante 22º lugar.
Laffite já estilingou na largada, não dando chance nenhuma para o azar. O argentino da Lotus chegou a fazer a ultrapassagem em Depailler, mas a segunda Ligier retomou a posição antes do fim da primeira volta, mantendo o 1-2 dos franceses. Reutemann perdeu também a terceira posição para Andretti e Fittipaldi fez uma largada espetacular, passando em sexto lugar na frente do setor A, que o saudava. Mais uma volta e Emerson passou Sheckter e a Lotus de Andretti, que se arrastava em chamas até os boxes após um vazamento de combustível. A briga agora era com o argentino – o campeão e o vice do ano anterior no Rio de Janeiro.
Infelizmente para os brazucas o pódio não se repetiria: na volta 22 uma das rodas da Fittipaldi soltou-se e o bicampeão teve que voltar aos boxes, perdendo uma volta. Ele terminaria na 11ª colocação.
O problema de Emerson tranquilizou muito Reutemann, que estava num sólido terceiro, bastante à frente de Didier Pironi. As Ferrari terminaram em quinto e sexto, com Gilles à frente do sul-africano.
Enquanto tudo isso acontecia, Les Bleu de France faziam uma corrida à parte. Laffite fez a melhor volta e liderou todas até o final, escudado por Depailler. Foi a primeira (e única) dobradinha da Ligier, com seus lindos carros azuis. E foi também a primeira dobradinha da história do Grande Prêmio do Brasil.
lll FORA DAS PISTAS
No mesmo dia em que acontecia a dobradinha da Ligier em Interlagos nascia em Pádua o piloto Giorgio Pantano, que correu (modo de dizer) pela Jordan em 2004. Em 1940, nesta data, vinha ao mundo o pai dos filmes de zumbi, o genial diretor George Romero – suas obras não são simples filmes de susto, e sim uma crítica mordaz à sociedade da época.
Uma história interessante: em 04 de fevereiro de 1968 os Beatles estavam nos estúdios da Abbey Road gravando a música Across The Universe. John e Paul, enquanto conversavam sobre a canção, decidiram que uma harmonia em falsete com vozes femininas ficaria bem na obra, e decidiram convidar duas fãs que estavam à porta do estúdio para gravar com eles. Entravam assim para a história a londrina de 17 anos Gayleen Pease e a carioca de 16 anos Elisabeth Villas Boas “Lizzy” Bravo.
E em Detroit, vinte anos antes de Lizzy realizar o sonho de qualquer beatlemaníaca, nascia Vincent Damon Furnier, que acabaria conhecido como o “padrinho do Rock-Horror” em uma carreira de mais de cinco décadas apresentando-se como Alice Cooper. Fiquem então com tia Alice, que não vai mais ser um cara bonzinho.
lll A Série 365 Dias Mais Importantes do Automobilismo, recordaremos corridas inesquecíveis, títulos emocionantes, acidentes trágicos, recordes e feitos inéditos através dos 365 dias mais importantes do automobilismo.