Os fãs presentes no Autódromo José Carlos Pace em 27 de março de 1994 esperavam uma grande festa na pista paulistana, com a expectativa de ver mais uma vitória brasileira na etapa local. No entanto, os presentes em Interlagos presenciaram o início de uma nova era na Fórmula 1, com a afirmação de um novo nome que dominaria o esporte nos anos seguintes.
A temporada de 1994 trazia profundas mudanças em relação aos anos anteriores na categoria. Uma das mais comentadas foi a proibição de itens eletrônicos que tivessem controles sobre partes do carro. Elementos como a suspensão ativa, o controle de tração e os freios ABS foram banidos a partir daquele ano.
Outra novidade era a volta do reabastecimento. O item que fora usado esporadicamente até o começo dos anos 80, retornara após onze anos de banimento. Assim, os pilotos tinham menos preocupações com a poupança de combustível ao longo da prova.
O favoritismo recaía à Williams. A escuderia de Grove era a atual bicampeã de pilotos e construtores, além de finalmente contar com Ayrton Senna em suas fileiras. O tricampeão do mundo substituiria o recém-aposentado Alain Prost como primeiro piloto, tendo a companhia do inglês Damon Hill. Apesar das apostas de predomínio da equipe britânica, o FW16, carro daquela temporada, mostrava um comportamento arisco durante os testes e preocupava a todos.
O principal oponente era Michael Schumacher. O alemão partia para sua terceira temporada completa na Benetton e a expectativa da equipe anglo-italiana era bem alta com as mudanças de regulamento e com o talento do alemão. O segundo piloto originalmente seria JJ Letho, mas o finlandês havia se machucado após um grave acidente na pré-temporada e foi substituído pelo terceiro piloto da escuderia, a revelação holandesa Jos Verstappen.
A Ferrari fazia mudanças internas para voltar a ser competitiva. Apesar de manter a dupla de pilotos (Jean Alesi e Gerhard Berger), a grande novidade estava dentro dos boxes, com a contratação de Jean Todt como chefe de equipe. O francês vinha de bons trabalhos pela Peugeot, tanto nos ralis como no endurance, e era a aposta para guiar a escuderia italiana de volta ao topo.
A McLaren era outra equipe que tentava se reconstruir, agora sem Senna ao volante. Com os motores Peugeot, o time de Woking apostava no promissor finlandês Mika Hakkinen e no veterano inglês Martin Brundle para ter um desempenho digno.
No pelotão intermediário, a Jordan (com os jovens Rubens Barrichello e Eddie Irvine), a Sauber (com a promessa austríaca Karl Wendlinger e o estreante alemão Heinz-Harald Frentzen), a Tyrrell (com a experiente dupla Mark Blundell e Ukyo Katayama), a Ligier (com o experiente Eric Bernard e o novato francês Olivier Panis) e a Footwork/Arrows (com o brasileiro Christian Fittipaldi e o italiano Gianni Morbidelli) eram as candidatas a beliscar pontos e ameaçar o quarto posto da McLaren.
A tradicional Lotus, por sua vez, tinha que se acostumar a brigar com Minardi e Larrousse pelas posições mais atrás. Só não seriam candidatas à lanterna por causa das novatas Simtek e Pacific, que estravam na categoria.
Com os carros na pista, Senna ainda conseguiu arrancar uma volta voadora para fazer a sua 63ª pole position da carreira, com três décimos de vantagem para Schumacher.
Na largada, o brasileiro manteve a ponta, com Alesi passando Schumacher. Todavia, o alemão recuperou o segundo posto no início da segunda volta, partindo à caça da Williams. Os dois ponteiros imprimiam um ritmo muito forte, deixando a concorrência comendo poeira. A vitória seria resumida a um deles, pelo ritmo de corrida.
Apesar da liderança inicial, Senna ficou a mercê da estratégia de corrida e quando ambos pararam na volta 20, a Benetton teve um trabalho mais eficiente com Schumacher saindo à frente.
Na liderança, Schumacher mostrou que seu carro tinha um ritmo superior e, aliado a sua qualidade, a vantagem para Senna começou a subir a um nível que incomodava ao brasileiro, assim como à Williams e aos seus fãs.
Enquanto isso, o pega estava disputado no meio do pelotão. Pelo sétimo lugar, os jovens Verstappen e Irvine brigavam ferrenhamente pelo oitavo lugar. Quando o irlandês e o holandês foram até as últimas consequências na disputa, o resultado foi um dos acidentes mais impressionantes da história de Interlagos e da F1. Felizmente ninguém se machucou com gravidade.
Voltando à frente, a vantagem de Schumacher aumentou ainda mais após a segunda série de paradas nos boxes, aumentando a vantagem para Senna para cerca de 30 segundos. O brasileiro passou a acelerar o máximo que podia e que não podia para diminuir esta desvantagem.
Contudo, na volta 55, o tricampeão acabava rodando na saída da Junção e seu FW16 não voltou mais a funcionar. Era a decepção completa da torcida presente em Interlagos e dos fãs que acompanhavam a prova pela TV.
Sem nenhum outro oponente no caminho, a corrida para Schumacher virou um passeio no parque. Não houve nenhum outro piloto a terminar a prova na mesma volta do líder, nem mesmo Hill e Alesi que terminaram em segundo e terceiro respectivamente. O recado dado pelo alemão e pela Benetton era claro: a Era Schumacher estava começando!
Apesar da frustação com Senna (além do abandono de Christian Fittipaldi por problemas de câmbio), o torcedor brasileiro teve um consolo: o desempenho sólido de Barrichello que levou a Jordan a um honroso quarto lugar. O melhor resultado dele e da equipe até então. Nos dois últimos lugares pontuáveis, houve uma briga entre Tyrrell e Sauber, com Katayama superando Wendlinger na reta final. O japonês fechou em quinto e o austríaco em sexto.
Após a etapa brasileira, a Fórmula 1 tinha a certeza que uma nova era tinha chegado, mas não imaginaria as turbulências que viriam nos próximos dias.
Fonte: Stats F1 e Continental Circus