Fim de ano, a ceia de Natal já se foi e as expectativas ficam todas em torno das festas de Réveillon, o momento de descanso para muitos. A época de retrospectivas e de atrações especiais nas emissoras de televisão, e quase nada de esporte. (tudo bem que tem a NFL nos Estados Unidos e a Corrida de São Silvestre no Brasil). Entretanto, nos anos 1960, a África do Sul celebrou o período com corridas de Fórmula 1.
O país do extremo-sul do continente africano era uma jovem nação independente, com pouco mais de 30 anos após o fim do controle do Reino Unido. No entanto, a região já tinha a imposição do nefasto regime do Apartheid, com a segregação dos negros dos espaços de maior lazer e infraestrutura.
Para afastar a imagem negativa que a nação tinha internacionalmente, os governantes sul-africanos buscaram a realização de eventos esportivos como propaganda. Assim, em 1962, a F1 desembarcava pela primeira vez na África do Sul para a realização de uma corrida, iniciando a tradição de corridas no país nesta época.
Os carros acelerariam no Circuito Príncipe George, nas ruas de East London. Para a etapa final da temporada em 29 de dezembro de 1962, apenas a dois dias do ano seguinte. A introdução da nova etapa estendeu o calendário para o desfecho mais tardio da história. A corrida de encerramento ocorreu dois meses em relação à penúltima prova, nos Estados Unidos.
A ansiedade para esta corrida foi ainda maior pela definição do campeonato de pilotos. A temporada de 1962 foi um domínio quase completo das equipes garagistas, deixando a Ferrari fora da disputa (a escuderia de Maranello sequer disputou a etapa de East London). A disputa pelos títulos de pilotos e construtores tiveram dois candidatos: de um lado, a British Racing Motors (BRM), com Graham Hill; do outro, a Lotus, com Jim Clark.
Na contenda britânica, Hill levava vantagem, com nove pontos a frente de Clark (39 a 30, lembrando que a pontuação era 9-6-4-3-2-1), e com ambos com três vitórias. Todavia, com a regra do descarte, o inglês teria mais pontos a perder e o escocês da Lotus poderia ser campeão em caso de algum infortúnio do corredor da BRM.
Clark começou fazendo a sua parte na classificação, levando o seu Lotus 25 (o primeiro chassi monocoque na F1) a pole position. Hill partiu para a marcação ao oponente largou em segundo. A corrida seria decidida entre os dois melhores pilotos do campeonato.
Desde a largada, o escocês manteve a ponta e liderou sem sustos, mas sempre com Hill ao seu encalce. Briga mesmo apenas pelo terceiro lugar, envolvendo dois pilotos da Cooper (o neozelandês Bruce McLaren e o sul-africano Tony Maggs) além da Lola de John Surtees. O britânico deixou a disputa na volta 26, após problemas de motor.
Lá na frente, Clark e Hill seguiam inabaláveis, o que não resolvia nada para o escocês, que acelerava como podia, fazendo a volta mais rápida inclusive. Porém, as esperanças da Lotus se acabaram na volta 62 (a 20 do fim), quando o carro teve um vazamento de óleo. O piloto escocês ainda foi para os boxes na expectativa de reparar a tempo, mas o dano era irreversível.
Sem o principal adversário pelo caminho, o inglês apenas conduziu o seu BRM até a meta final, com mais de 40 segundos a frente de McLaren e Maggs. Assim, Graham Hill tornara-se campeão mundial de pilotos pela primeira vez.
Além disso, a BRM conquistou aquele que foi seu único título de construtores na história da Fórmula 1. Foi bem no fim ano, mas a tradicional escuderia britânica teve finalmente seu presente natalino, o seu momento de glória.