Dizer que o público dos Estados Unidos não gosta de Fórmula 1 é comum entre quem não acompanha o automobilismo, mas não é uma verdade. Não bastasse o sucesso recente do Circuito das Américas, a própria detentora dos direitos da F1, a Liberty Media, tem sede no Colorado.
Mas não é de hoje o interesse americano por corridas de automóveis. Além da CART, NASCAR, Indy (sem falar nas corridas de dragster e nos Demolition Derbys), o próprio circo da F1 já realizou etapas em circuitos maravilhosos como Sebring, Watkins Glen, Phoenix, no templo de Indianápolis e até no estacionamento do Caesar’s Palace em Las Vegas.
Na verdade, o primeiro Grande Prêmio ocorrido na terra do Tio Sam vem da época pré-cambriana da F1, antes mesmo do esporte se chamar assim, e aconteceu há exatos 109 anos no dia 26 de novembro de 1908, na cidade de Savannah, a mais antiga do estado da Georgia.
A corrida, promovida pelo Automobile Club of America, foi a sétima e última da temporada. Chamada de American Grand Prize, foi fruto de uma dissidência entre os dois maiores organizadores de disputas automobilísticas no país. A American Automobile Association, ligada ao magnata William Vanderbilt, já promovia a Vanderbilt Cup nas ruas de Long Island, porém se recusou a acatar as regras da francesa AIACR, antecessora da FIA. Isto somado à falta de segurança que chegou a provocar acidentes fatais entre multidão de espectadores que ficava livre à beira da pista abriu a oportunidade para a construção de um circuito de 40,440 km na Georgia. O governador do estado americano inclusive cedeu a força de trabalho prisional do estado para a obra, e reforçou a segurança para evitar que os torcedores invadissem a pista enquanto a prova estivesse ocorrendo.
Vinte carros participaram do evento inaugural, sendo 14 europeus e 6 nativos. Entre os construtores, alguns nomes conhecidos, como Benz, Fiat e Renault, e outros mais pitorescos como Simplex, De Dietrich e até um Acme (que deve ter sido dirigido pelo Coiote ou pelo Papa-Léguas). Disputada no Dia de Ação de Graças, a corrida teve 16 voltas – um trajeto de quase 650 km – sendo que a mais rápida foi feita pelo piloto americano Ralph de Palma em 21 minutos e 36 segundos, em uma velocidade média de 112 km/h.
O vencedor foi o francês Louis Wagner, da Fiat, que chegou à frente do seu compatriota Victor Hemery que dirigia um Benz (é a Ferrari à frente da Mercedes desde o início do século passado, meus amigos). Depois de 6 horas e 10 minutos de prova, a diferença entre os dois primeiros colocados foi de apenas 56 segundos, o que mostra que a disputa não foi morna. Wagner não só é o vencedor do primeiro Grande Prêmio americano como também foi o chegou à frente de todos no Grande Prêmio Britânico de 1926, a primeira vez que a prova inglesa foi chamada de GP. Além de piloto de automóveis, também trabalhava voando os monoplanos da fabricante francesa Hanriot.
O American Grand Prize foi disputado em Savannah até 1911, quando mudou para Milwaukee e depois para Santa Monica, na Califórnia. As duas guerras mundiais impediram que o mundial atravessasse o Atlântico, até que Sebring trouxe novamente os Estados Unidos para o circuito da Fórmula 1, no final dos anos 50.
l FORA DAS PISTAS
Há exatos 41 anos, em 26/11/1976, nascia o punk rock com o lançamento de Anarchy in the U.K. dos Sex Pistols. A mesma Inglaterra que, nesta data em 2003 via o vôo final do Concorde sobre Bristol. Também ingleses, os gênios do Pink Floyd foram os primeiros artistas a ter uma música reproduzida no espaço, quando em 1988 os cosmonautas da Soyuz 7 colocaram para tocar uma fita cassete de Delicate Sound of Thunder.
Mas, já que estamos falando sobre os Estados Unidos hoje, vamos celebrar o 78º aniversário de um furacão rouco que nasceu no Tennessee em 26 de novembro de 1939. Parabéns, Anna Mae Bullock, ou como o mundo te conhece, Tina Turner.