Eis que a espetacular temporada de 2008 chegava ao seu capítulo final. Em um ano com 7 vencedores diferentes vindos de 5 equipes distintas, apenas dois pilotos brigavam pelo título mundial na lendária pista de Interlagos. Graças à vitória em Shanghai, o fenômeno Lewis Hamilton chegava ao último GP do ano com 7 pontos de vantagem na liderança em seu segundo ano na categoria. Atrás do inglês, Felipe Massa tentava milagrosamente buscar a diferença em Interlagos. Muito mais que apenas uma corrida, o dia 2 de Novembro de 2008 entraria para a história da Fórmula 1 após um verdadeiro espetáculo em São Paulo.
Felipe fez o que podia no sábado, justificando o domínio absoluto do final de semana, ao garantir a pole em casa e colocar 0.5s no segundo colocado, Jarno Trulli. Kimi abria a fila seguinte e era acompanhado justamente por Hamilton. A matemática era simples. Se Massa vencesse a prova, Lewis precisava de um 5º lugar para ser campeão, com o brasileiro em 2º, o inglês garantiria o título com um mísero 7º lugar e se Felipe terminasse em 3º, o piloto da McLaren levantaria a taça independente do seu resultado na prova.
O GP ganharia mais um protagonista no domingo: o tempo instável de Interlagos. Pouco antes da volta de apresentação, uma chuva repentina com fortes ventos surpreendeu os pilotos e o começo da prova foi adiado. Minutos depois, sol. Esse era apenas o prenúncio do que estava por vir nas próximas horas. Intermediários calçados, pilotos liberados, hora de ir para a pista. A primeira baixa ocorreu logo no S do Senna. Em sua última corrida, David Coulthard foi tocado por Nakajima e teve que abandonar o GP do Brasil, um final melancólico para uma carreira vitoriosa. Na ponta, Felipe protegeu sua liderança sem sustos e Hamilton perdeu seu escudeiro, uma vez que Heikki Kovalainen foi superado por Vettel e Alonso e abriu caminho para possíveis ameaças ao título mundial do inglês. Restavam 69 voltas.
Oito voltas se passavam e os ataques de Kimi contra Trulli pela 2ª posição continuavam a ser em vão. Entretanto, mesmo com previsão de chuva em alguns minutos, esse curto espaço de tempo foi suficiente para alguns pilotos decidirem se arriscar com os pneus para pista seca. Bourdais e Button foram os primeiros a fazer a troca. Na volta seguinte foi a vez de Vettel e Alonso, que ocupavam a 5ª e a 6ª posição, respectivamente. No 10º giro, Massa fez a troca e foi seguido pelo seu adversário na briga pela taça na volta seguinte. Kimi enfim superou o italiano da Toyota, mas agora ocupava a 4ª colocação, visto que Alonso e Vettel saltaram para o pódio com as paradas antecipadas. Com Massa na ponta e Lewis em 6º, o título estava agora nas mãos do brasileiro. Restavam 58 voltas.
Hamilton sofreu, mas 4 giros depois foi enfim capaz de superar a tartaruga no poste que era a presença de Fisichella em 5º. A taça voltava para o inglês. Mesmo com a aproximação do Vettel na briga pela ponta, o pelotão permaneceu estável durante algumas voltas. Felipe liderava, seguido por Sebastian, Alonso, Raikkonen, Hamilton e Trulli. Com o céu azul, Vettel e Glock partiram para mais uma parada nos boxes na volta 37. Um giro depois foi a vez de Massa, entregando a liderança para Fernando Alonso. O espanhol passou pelos pits na 40ª volta, acompanhado por Hamiton. Mais três giros e Kimi finalmente fez sua troca, devolvendo a liderança para seu companheiro de equipe. Felipe em 1º, Lewis em 5º. O título continuava com o inglês. Todavia, o que poderia parecer um certo equilíbrio nada mais era que a calma antes da tempestade. Restavam 27 voltas.
Sete giros depois, Vettel foi para os boxes e promoveu Hamilton para 4º, entretanto, os céus de Interlagos ficavam cada vez mais escuros. O alemão se aproveitou dos pneus novos para rapidamente recuperar o tempo perdido e encostar no inglês. Apenas 8 voltas restavam e a chuva resolveu castigar o circuito de uma vez. A corrida agora tomava contornos dramáticos, todos com pneus para pista seca e muita água ensaboando o asfalto. Alguns no pelotão intermediário partiram para a troca na volta 66 e na seguinte os líderes fizeram o mesmo, com exceção das Toyotas de Jarno Trulli e Timo Glock. Restavam 5 voltas.
Felipe voltou na ponta, mas a permanência de Glock na pista colocou Lewis em 5º com a Toro Rosso de Sebastian Vettel enorme nos retrovisores. Apenas mais 3 passagens pelos 4.3Km de Interlagos aguardavam os pilotos. Glock rendia mais com os secos em relação ao resto do grid em intermediários. Em uma confusão com o retardatário Robert Kubica, que tentava recuperar a volta perdida, Sebastian aproveitou a oportunidade para mergulhar por dentro na subida para a reta e tomar a 5ª posição, levando o público presente em Interlagos ao delírio. Massa em 1º, Lewis em 6º. O título voltava para o brasileiro. Restavam 2 voltas.
A chuva aumentava muito e a missão agora era permanecer na pista. Lewis buscava recuperar a posição perdida de todas as formas enquanto Massa, soberano na ponta, abria a última volta da prova como campeão mundial. Angústia nos dois boxes, tensão na torcida e tudo parecia apontar para uma tempestade perfeita que culminaria no título do brasileiro em casa, uma verdadeira apoteose se armava no templo de Interlagos. Felipe cruzou em primeiro, fez tudo que precisava fazer e agora torcia para que o pelotão se mantivesse assim por mais meia volta. Restavam mais alguns metros.
Vettel se segurou na pista e controlou o ímpeto de Lewis Hamilton, mas a chuva quer apertara demais nos últimos minutos da prova comprometeu demais a performance de Timo Glock, que ocupava a 4ª posição calçando pneus de pista seca. Na última curva da última volta do último GP do ano, Lewis ultrapassou a Toyota e conquistou o 5º lugar necessário para ser campeão. Um título merecido e conquistado de maneira espetacular, a primeira cereja no bolo de uma jovem estrela no mundo do automobilismo. No pódio, Massa tentava conter as lágrimas e manter a cabeça erguida, agradecendo aos torcedores brasileiros por todo o apoio durante o ano. Felipe mostrou hombridade e classe em meio a frustração de ter ficado a uma curva do título mundial. Um último ato em uma temporada sensacional.
O GP do Brasil coroou o que foi uma das melhores temporadas da história da categoria. Desde a vitória incrível de Lewis Hamilton no dilúvio de Silverstone, passando pela primeira vitória de Robert Kubica no mesmo circuito em que ele havia quase morrido um ano antes e pelo triunfo improvável do jovem Sebastian Vettel com uma modesta Toro Rosso em Monza. Independente do resultado final, as 71 voltas em Interlagos foram um final apropriado e merecido, colocando um ponto de exclamação ao invés de um ponto final no almanaque do ano de 2008 na Fórmula 1.