A IndyCar Series chegava ao Brasil. Calma leitores, a “outra Indy” que correu em Jacarepaguá no final dos anos 90 era a Cart. A São Paulo Indy 300 foi acertada meio às pressas e o local escolhido para abrigar a prova foi o complexo do Anhembi, o sambódromo com suas arquibancadas fixas e o pavilhão do Anhembi como garagem para os carros tiveram peso decisivo na escolha do local. A capital paulistana tem locais bem mais bonitos que a região escolhida, mas o traçado era bem interessante. A volta iniciava-se no sambódromo percorrido no sentido inverso das escolas de samba, a primeira curva era o S do samba, então os carros faziam uma curva a esquerda para e outra à direita ganhando a Avenida Olavo Fontoura, entravam por dentro do estacionamento do Anhembi, saindo ao lado do pavilhão e ganhando a marginal tiete na maior reta do circuito e a maior da temporada retornando ao sambódromo para completar a volta de 4.180 km.
Por tratar-se de uma prova nas ruas de uma das maiores megalópoles do mundo a programação do evento não contava com atividades de pista na sexta feira como habitualmente acontece. Os problemas começaram quando os carros entraram na pista no sábado pela manhã. Ao entrar na reta do sambódromo simplesmente não conseguiam acelerar pois a pista não apresentava condições mínimas de aderência, o sambódromo tem piso de concreto pintado para o carnaval, e tal piso não aguentava a tração dos carros da Indy. O treino classificatório foi adiado para o domingo de manhã. Os pilotos criticaram muito, e com razão, a situação. Dario Franchitti (Ganassi) e Tony Kanaan (Andretti) foram os mais duros nas reclamações. O brasileiro culpou abertamente o projetista do traçado, Tony Cotman.
O evento esteve de fato sob risco, afinal não se sabia como resolver o problema de aderência da reta de largada e chegada do circuito, cogitou-se até mesmo asfalta-la durante a noite, uma temeridade pois o asfalto para ser bem feito precisa de tempo para secar. Mas felizmente tiveram a ideia de fazer ranhuras no piso. Essa medida salvou a cidade de São Paulo de passar um vexame mundial.
Uma sensação de alivio tomou conta dos promotores da prova quando os carros puderam acelerar a toda velocidade na reta principal. O campeão de 2009 Dario Franchitti marcou a pole tendo a seu lado Alex Tagliani da Fazzt Racing, a segunda fila contava com Justin Wilson (Dreyer & Reimbold) e Ryan Hunter Reay (Andretti), na terceira fila Will Power (Penske) e Tony Kanaan (Andretti), completavam o top 10 Scott Dixon (Ganassi), Ryan Briscoe (Penske), Hélio Castroneves (Penske) e Takuma Sato (KV). Quatro mulheres participariam da prova, Danica Patrick (Andretti), Simona de Silvestro (HVM), Bia Figueiredo (Dreyer & Reimbold) e Milka Duno (Dale Coyne), talvez tenha sido a primeira vez que 4 mulheres tenham disputado juntas uma etapa de uma categoria top, fato bem bacana. A categoria contava com mais brasileiros no grid, Vitor Meira (Foyt), Raphael Matos (Luczo Dragon), Mario Romancini (Conquest) e Mario Moraes (KV).
A São Paulo Indy 300 começou movimentada com o rookie Takuma Sato fazendo um strike levando consigo Hélio Castroneves e Scott Dixon, dois pilotos que vinham do fim do grid proporcionaram um assustador acidente, Mario Moraes decolou sobre o carro de Marco Andretti ficando literalmente sob o cockpit do americano, apreensão geral no circuito, mas o susto foi dissipado quando Marco disse a equipe pelo rádio que estava bem. A confusão rendeu 8 voltas em bandeira amarela. Na relargada nenhuma grande disputa, Franchitti liderava com segurança, Raphael Matos fazia uma excelente prova estando no top 5, a primeira troca de posições ocorreu entre Hunter Reay e Tagliani, no principal ponto de ultrapassagem do circuito, o final da reta da marginal. Os carros da Penske vinham bem atrás nesse momento, Scott Dixon em uma impressionante prova de recuperação já era o 10° colocado na volta 22. Coube a Milka Duno provocar a segunda bandeira amarela do dia quando seu carro ficou parado na curva 3, nesse momento quase todos os carros foram aos boxes. A rookie Simona de Silvestro arriscou ficando na pista a assumindo a liderança. Quando a prova é reiniciada Hunter Reay assume supera a piloto suíça e assume a ponta.
Nuvens carregadas anunciavam que um dilúvio se aproximava do Anhembi. Volta 29, Ryan Briscoe arrisca colocar pneus de chuva caindo para a 16° posição, Dixon já era o 4° colocado nesse momento, no final da reta da Olavo Fontoura Dan Wheldon abalroa Alex Tagliani e Tony Kanaan. Volta 30, a chuva chega forte, Alex Loyd bate na reta da marginal e a direção de prova resolve dar a bandeira vermelha interrompendo a prova. A São Paulo Indy 300 ficou paralisada pouco mais de 30 minutos, a chuva passou e a prova pode ser reiniciada, desta vez com tempo pré-determinado para o final, 38 minutos.
Na relargada a classificação era a seguinte: Dario Franchitti, Scott Dixon, Mike Conway, Justin Wilson, Hélio Castroneves, Ernesto Viso, Bia Figueiredo, Simona de Silvestro, Ryan Hunter Reay, Will Power, Ryan Briscoe era o 12° e Vitor Meira o 14°. A partir da volta 43, Power, Briscoe e Hunter Reay começaram a se destacar escalando o pelotão. Nesse momento a dupla da Ganassi vai aos boxes e a novo top 5 era esse: Ryan Hunter Reay, Raphael Matos, Ryan Briscoe, Will Power e Vitor Meira. Restando 15 minutos Briscoe assume a liderança e parece rumar para a vitória, mas na volta seguinte o australiano escorregou no final da reta da Olavo Fontoura e estampou seu carro na barreira de pneus.
A partir daí a disputa pela vitória ficou entre Ryan Hunter Reay e Will Power. O australiano da Penske superou o americano da Andretti restando apenas 4 voltas para o final. Vitor Meira em uma ótima apresentação com a nanica Foyt fechou o podium. Fecharam o top 10: Raphael Matos com uma excepcional 4° posição, Dan Wheldon, Scott Dixon, Dario Franchitti, Mike Conway, Hélio Castroneves e Tony Kanaan. A São Paulo Indy 300 de 2010 foi movimentada, emocionante, teve um vencedor que não figurava entre os favoritos, mas que a partir dali arrancava para um grande ano.