Há 16 anos, no dia 11/04/1993, em Donington Park, a 190 km de Londres, acontecia o 38º GP da Europa. Esta, que foi a 3ª prova das 16 agendadas para a temporada (e a de número 535 na história), tinha 76 voltas programadas no circuito de 4.023m, em um total de pouco mais de 305 km. Ela entrou para os anais do esporte quando o piloto do carro nº 8, Ayrton Senna, com sua McLaren MP4/8, após largar na 4ª colocação e perder mais uma se recuperou de forma brilhante, ultrapassando os quatro pilotos à sua frente, incluindo as duas Williams FW15C de Alain Prost, que ostentava o número 2, e de Damon Hill, que passou o ano com o número 0 após a saída do então campeão Nigel Mansell. A volta de Senna, em pista molhada, é considerada por muitos como a melhor 1ª volta da história. Mas não é sobre ela que vamos falar.
Não que não mereça, é claro, e quem sabe na terceira temporada (caso nossos apoiadores queiram), nós nos aprofundamos no assunto. Mas este texto está sendo publicado originalmente no dia de abertura do final de semana número 1.000 da Fórmula 1 e, se o editor deixar*, vou fugir do tema para celebrar o momento da maneira mais nerd possível: falando de números.
*Nota do Editor: Lógico que eu deixo, melhor texto sobre o GP de n.º.: 1000 já publicado!
Vocês perceberam que eu forcei nas informações numéricas do primeiro parágrafo, certo? É porque neste esporte que amamos os números têm lugar especial. Eles estão nos décimos de segundo a menos na pista que decidem um vencedor, nos cavalos de potência a mais no motor da equipe campeã, no comparativo de classificações entre os companheiros de equipe… e nas contas bancárias dos patrocinadores, nos litros de champagne no pódio e até na quantidade de copos da torre do Setor A de Interlagos. Por isso, com a licença de vocês, quero deixar uma ou outra informação inútil que será de grande serventia na próxima mesa de bar entre amigos. Os números da Fórmula 1.
lll Construtores
Comecemos com as equipes. Claro, pois esse colunista clubista já quer jogar direto na cara a supremacia da Scuderia Ferrari, que conquistou 16 dos 61 títulos possíveis (o WCC só começou a ser entregue em 1959). São mais de 26% do total de taças, embora a mais recente já tenha quase a mesma idade de George Russel. Em seguida temos a garagista Williams, com 9 títulos (todos entre 1980 e 1997), a McLaren com 8, a Lotus com 7 e a Mercedes com os cinco mais recentes (2014 a 2018). Se colocarmos na conta os 4 da Red Bull na era Vettel, veremos que a única chance de outra equipe nos anos 10 é agora.
Inclusive, o feito da Red Bull é semelhante ao daquela McLaren espetacular, que papou 4 seguidas entre 88 e 91. Estão empatadas em terceiro no quesito “títulos sem tirar de dentro”, atrás deste cinco da Mercedes e dos 6 que a Ferrari levou de 99 a 04.
Para conseguir títulos é preciso fazer muitos pontos, e a lista das equipes que mais faturaram é bem parecida:
- Ferrari: 7.801,5
- McLaren: 5.216,5
- Mercedes: 4.460
- Red Bull: 4.338,5
- Williams: 3.554
Só que recordes também podem ser negativos, e não vamos deixar de tirar sarro do pessoal do fundo da tabela, não. As equipes tiveram mais corridas sem marcar um único pontinho sequer foram:
- HRT, 56 corridas
- Caterham, 56 (mas conseguiram uma 11ª posição, ao contrário do 13º melhor dos espanhóis)
- Virgin, 38
- Lotus – o renascimento – 38 (12º x 14º da terceira colocada)
- RAM, 31
E a meiúca, o pelotão do Afeganistão, onde até dá pra descolar uns pontinhos mas sem ver a quadriculada na frente de todo mundo? No quesito de maior número de pontos sem nenhuma vitória temos a Racing Point Force India com 987 pontos, seguida da Toyota (278,5), BAR (227), Haas (177) e Arrows (167).
E poles? Ser rápido no sábado também é importante, então vamos aos times que mais vezes largaram de nariz para o vento:
- Ferrari, 220 poles
- McLaren, 155
- Williams, 128
- Lotus, 107
- Mercedes, 102
Mas, se formos contar as poles como percentual de largadas, a lista fica um tanto diferente:
- Mercedes, com 53,4% das participações largando da pole
- Lancia, 50%
- Brawn, 29,4%
- Vanwall, 24,1%
- Ferrari, 22,6%
Ok, largaram da frente, mas terminaram lá? Em número absoluto de vitórias, o top five tem Ferrari (235), McLaren (182), Williams (114), Mercedes (89) e Lotus (79). Em termos percentuais:
- Brawn, ganhou 47,1% das corridas em que participou
- Mercedes – 46,6%
- Vanwall – 32,1%
- Ferrari – 24,2%
- Red Bull – 22,1%
Considerando vitórias em uma única temporada, a Mercedes tem o primeiro, segundo e terceiro lugares, em 2016 (19 de 21), 2014 e 2015 (ambas com 16 de 19). Mas a genial McLaren de 1988 tem o maior percentual (93,8%), vencendo 15 das 16 corridas daquele ano, 11 delas consecutivas (também um recorde).
Alguns GPs tem donos, e podemos citar a Ferrari na Alemanha (21 vitórias), Itália (18), França e Bélgica (17) e Inglaterra (16). A McLaren fica com Mônaco (15), Canadá (13) e Brasil (12).
lll Pilotos
Ah, agora a chapa esquenta, e as reações começam a ficar exacerbadas. Lembrem-se, esse é apenas um exercício estatístico, não um juízo de valor de quem é melhor. Mas as informações podem ser usadas para embasar seus argumentos…
Um total de 857 pessoas já pilotaram um carro de Fórmula 1 de forma oficial em um fim de semana de corrida (embora 93 não tenham tido a oportunidade de alinhar no grid para largada, incluindo aí nomes como Colin Chapman e Bernie Ecclestone). A maior parte delas (163, ou 19%) nasceram na Grã-Bretanha. Na sequência temos os Estados Unidos, com 158 pilotos, Itália com 99, França com 71 e Alemanha com 53. O Brasil vem em sexto lugar, com 31 pilotos, uma história que começou no GP da Itália de 1951 com Chico Landi e entrou em “stand by” após a segunda despedida de Felipe Massa no GP de Abu Dhabi de 2017. De 40 países que nos deram pilotos, oito mandaram um único representante: Polônia, Marrocos, Malásia, Liechtenstein, Hungria, República Checa, Chile e Indonésia, que foi a última a entrar no clube com a estreia de Rio Haryanto em 2016.
Os que mais tiveram o gosto de correr por aí foram Rubens Barrichello, com 322 largadas, seguido de Fernando Alonso (311), Jenson Button e Michael Schumacher (306) e Kimi Raikkonen (293). Kimi inclusive tem contrato até o final de 2020 e, se participar de todas estas corridas, vai encabeçar a lista.
Dos 857 pilotos, 107 sentiram o gosto da vitória, e apenas 33 foram campeões do mundo. Vamos listar todos:
- Com um título, temos Nino Farina, Mike Hawthorn, Phil Hill, Jochen Rindt, James Hunt, Denny Hulme, Jody Scheckter, Keke Rosberg, Damon Hill, Alan Jones, Mario Andretti, Jacques Villeneuve, Nigel Mansell, Nico Rosberg, Kimi Raikkonen e Jenson Button.
- Mostrando que o primeiro não pode ser considerado apenas um golpe de sorte, repetiram o feito mais uma vez Alberto Ascari, Jim Clark, Emerson Fittipaldi, Mika Hakkinen, Graham Hill e Fernando Alonso.
- Já incontestes, os tricampeões são Jackie Stewart, Jack Brabham, Niki Lauda, Ayrton Senna e Nelson Piquet.
- Com quatro, temos apenas Sebastian Vettel e Alain Prost.
- A galeria dos pentacampeões também conta apenas com dois integrantes, Lewis Hamilton e Juan Manuel Fangio.
- E o cara que levou sete títulos, ou 10% do total, é Michael Schumacher.
Mas isso é de conhecimento geral. Não vamos aqui listar maior número de poles (Hamilton, 84), vitórias (Schumacher, 91) ou vitórias consecutivas (Vettel, 9). Isso qualquer googlada te dá. O divertido é ir onde ninguém pensou antes, como por exemplo:
- Quatro dos 10 pilotos mais jovens a disputar sua primeira corrida estão na ativa: Daniil Kvyat, Lando Norris, Lance Stroll e o recordista Max Verstappen, que chegou ao GP da Austrália de 2015 com 17 anos e 166 dias.
- Já entre os dez mais velhos estreantes, o que fez seu début mais recente foi o francês Louis Rosier, e isso em 1956. O ancião da turma é o monegasco Louis Chiron, que alinhou no seu GP de casa de 1955 com 55 anos e 292 dias.
- Schumacher e Raikkonen nunca correram juntos pela Ferrari, mas são os dois pilotos que mais fizeram provas pela mesma equipe: o alemão tem 179 corridas com a Scuderia, e o finlandês, 151. Felipe Massa, que correu com ambos lá, é o quarto colocado nesta lista, com 139 corridas (o terceiro é David Coulthard, que tem 150 provas com a McLaren).
- Três pilotos venceram suas primeiras corridas: Nino Farina, na corrida inaugural em Silverstone, 1950, Johnnie Parsons, em Indianápolis naquele mesmo ano e Giancarlo Baghetti, no GP da França de 1961. Já os que demoraram mais a comemorar uma vitória foram Mark Webber, que esperou 130 provas, Rubens Barrichello com 123 e Jarno Trulli, 119.
- Pior são aqueles que mais correram e nunca venceram. E não, Nico Hulkenberg não é top 3 (ele está em 5º, empatado com Sérgio Pérez, ambos com 160 provas). Os “campeões” desse quesito são Andrea de Cesaris (214 GPs e nenhuma vitória), Nick Heidfeld (185) e Martin Brundle (165).
- Quem ganhou vindo lá do fim do grid? Os recordistas são John Watson, que largou da 22ª posição em Long Beach 1983, Bill Vukovich, 19º no grid da Indy 500 de 1954 e Rubens Barrichello, saindo em 18º na Alemanha, 2000.
- Voltando a Nico Hulkenberg. Se ele (ainda?) não é o piloto com mais corridas sem vitória, no quesito abstenção de champanhe ele vence disparado. São 160 corridas sem um único pódio, bem à frente de Adrian Sutil (128) e Pierluigi Martini (124).
- Mais doído deve ser ter uma carreira inteira na Fórmula 1 e não marcar um mísero pontinho. E olha que Luca Badoer teve 50 chances de fazer isso. Charles Pic (39) e Max Chilton (35) vêm logo em seguida.
- Voltemos a falar de coisa boa. Um “grand slam”, ou “grand chelem”, é o final de semana perfeito. O piloto abocanha pole, vitória, volta mais rápida e lidera todas as voltas da corrida. Quem mais conseguiu isso foi Jim Clark, 8 vezes no total. Alberto Ascari, Michael Schumacher e Lewis Hamilton tem 5 cada.
- Enquanto Jacques Villeneuve e Lewis Hamilton só precisaram de dois anos para sagrarem-se campeões, os mais insistentes foram Mansell (que venceu na sua 13ª temporada) e Nico Rosberg (na 11ª).
- Sebastian Vettel foi o campeão mais jovem. Ele tinha 23 anos e 134 dias quando conquistou seu título em 2010. Quem viu a série da Netflix Drive to Survive sabe que Max Verstappen quer bater esse recorde. Ele igualará a idade de Vettel em 13 de abril de 2021, ou seja, só tem esse ano e o próximo para conseguir o feito.
- O neozelandês Chris Amon foi o cara mais “promíscuo” da história do esporte. Ele correu pelas seguintes equipes: Lola, Lotus, Brabham, Cooper, Ferrari, March, Matra, Tecno, Tyrrell, Amon, BRM, Ensign e, por último, Williams.
- Embora o inesquecível Pastor Maldonado detenha o recorde de maior número de penalidades em uma única corrida (3) e temporada (10), o piloto que levou menos tempo para ser advertido na história é Sebastian Vettel, que passou o limite de velocidade nos boxes com 9 segundos de carreira, no GP da Turquia de 2006.
lll Corridas
Foram 999 Grandes Prêmios até agora. Muita história para contar, e muitos recordes inusitados.
- Embora a Indy 500 de 1951 tenha tido o maior número de pilotos abandonando uma prova (25, dos 33 que largaram), a corrida com maior número de abandonos percentualmente falando foi o GP de Mônaco de 1996, quando dos 21 que alinharam no grid 18 (ou 85,7%) não viram a bandeirada. Não à toa são dois templos do esporte a motor.
- Por outro lado, o GP da Europa de 2011, em Valência, teve 100% de aproveitamento: todos os 24 carros que largaram terminaram a corrida.
- A galera dos boxes trabalha para caramba, mas nunca como no GP da Hungria de 2011. Foram 88 pit stops no total. Bem diferente do GP da Holanda de 1961, quando ficaram de braços cruzados, já que ninguém parou nem uma vez.
- Tivemos quatro GP sem nenhuma ultrapassagem na história da Fórmula 1, todos neste século: Mônaco 2003, Estados Unidos 2005, Europa 2009 e Rússia 2017. Mas calma lá, patrulha da corrida chata e do “antigamente era melhor”: os dois GP com maior número de ultrapassagem também são recentes: Brasil 2012, recordista em pista molhada, com 144 trocas de posição, e China 2016, com 161 ultrapassagens, o maior número até hoje.
- A corrida mais curta foi o GP da Austrália de 1991, abortado por chuva forte após 16 voltas, ou pouco mais de 24 minutos. A corrida completa com menor tempo de duração foi o GP da Itália de 2003, apenas 1h14min de diversão.
- O GP da Suíça de 1950 teve o pódio mais “geriátrico” da história. Giuseppe Farina, Luigi Fagioli e Louis Rosier tinham juntos média de idade de 46 anos e 263 dias. Já na Itália em 2008 Vettel, Heikki Kovalainen e Robert Kubica formaram o pódio-bebê, com média de 23 anos e 350 dias.
- Enquanto no início, ainda confinada à Europa, a Fórmula 1 fazia temporadas curtas (em 1950 e 1955 tivemos apenas 7 provas), a tendência agora é de cada vez mais corridas (2016, 2018 e a atual, 2019, terão 21 provas cada). Ou seja, temos mais provas para saborear, e estas efemérides como a corrida 1.000 vão acontecer com mais frequência, como mostra o gráfico abaixo:
Bom, é isso. Números não contam exatamente uma história, e o projeto 365 dias é a prova de que, por trás dessa frieza matemática, batem milhares de corações. Que venham então mais mil corridas!
lll FORA DAS PISTAS
Não. Hoje não sairemos do autódromo. Hoje é dia de festa, dia de comemoração, e convido a todos para ficarem também com os olhos marejados com o vídeo oficial da F1 para a corrida número 1.000.
lll A Série 365 Dias Mais Importantes do Automobilismo, recordaremos corridas inesquecíveis, títulos emocionantes, acidentes trágicos, recordes e feitos inéditos através dos 365 dias mais importantes do automobilismo.