Ele poderia muito bem ter sido um dos maiores pilotos da história. Talento e tempo para isso, tinha. Porém os deuses das pistas não quiseram lhe dar esta chance.
Ricardo Rodriguez de la Vega nasceu em 14 de fevereiro de 1942 na Cidade do México. Seu pai, Pedro Natalio, era um entusiasta da velocidade, e o levava junto ao irmão mais velho, Pedro, para primeiro ver e depois participar de corridas. Don Pedro Rodriguez, o pai, era um empresário bem sucedido que era íntimo de Adolfo López Mateos, o presidente do país. Foi Don Pedro que o convenceu a construir um autódromo no bairro Magdalena Mixhuca que se parecesse com um Coliseu romano, e insistiu para que o circuito tivesse uma parte oval, como a de Monza.
Aos 14 anos e com todo o apoio paterno Ricardo já era campeão nacional de motociclismo. Foi questão de tempo para preparar seu próprio Fiat Topolino e entrar nas provas de automóveis. Aos 16 anos tentou participar das 24h de Le Mans, levado pelo seu irmão, porém não o deixaram realizar a inscrição por conta da idade.
Depois de um período na OSCA (Officine Specializzate Construzioni Automobili, dos irmãos Maserati) em 1959,quando o deixaram competir no endurance francês, na classe 750cc, ele se juntou a Pedro no ano seguinte na equipe da NART, a equipe americana da Scuderia Ferrari. Nesse mesmo ano, ele participou novamente das 24h mais famosas do mundo e, ao lado do belga André Pilette e a bordo de uma Ferrari 250 TR59 da North American Racing Team chegaram em segundo lugar geral. Ricardo tinha pouco mais de 18 anos.
Em 1961, terminou em terceiro nas 12 horas de Sebring e em segundo nas 3 horas de Daytona. Diante desses resultados impressionantes, a Scuderia Ferrari decide que era hora de lhe dar uma chance na F1.
O Grande Prêmio da Itália de 1961 foi lotado de efemérides. Foi a última vez que a prova aconteceu no traçado de 10 quilômetros do circuito, além de ter marcado o título mundial de pilotos para Phil Hill e o de construtores para a Ferrari. Também foi neste GP que se deu um dos acidentes mais terríveis da categoria, quando Wolfgang von Trips perdeu o controle de seu carro, matando 15 espectadores e perdendo a própria vida. Neste dia tão conturbado Ricardo Rodriguez se tornou o primeiro piloto com menos de 20 anos a correr na classe rainha. O recorde de piloto mais novo só foi batido em 1980, e apenas três competidores estrearam na Fórmula 1 com menos idade que o mexicano que, com apenas 19 anos e 208 dias já mostrou seu cartão de visitas com um magnífico segundo lugar no grid, a apenas um décimo de Von Trips e à frente de nomes como Graham Hill, Jim Clark, Jack Brabham e Stirling Moss. Uma pane hidráulica o tirou da corrida na 13ª volta, quando lutava pela liderança. Foi o único GP dele no ano pois, em luto, a Ferrari não participou da última prova da temporada em Watkins Glen.
Em 1962, Ricardo começou o ano com um segundo lugar no Grand Prix extracampeonato de Pau, depois venceu um dos grandes eventos da época, o Targa Florio com Willy Mairesse em uma Ferrari Dino 246. Na F1, ele participou dos GPs da Holanda (abandonou), da Bélgica (marcou seus primeiros pontos em Spa-Francorchamps, terminando em quarto lugar, a apenas um décimo de seu companheiro de equipe, Phil Hill, após largar em sétimo), da Alemanha (em Nürburgring, na chuva, e novamente nos pontos, com um sexto lugar após largar da décima posição) e da Itália (outro abandono); ou seja, a Ferrari o escalou quatro vezes e ele pontuou nas duas em que conseguiu ver a quadriculada.
E a Scuderia, tão importante na trajetória do garoto, também foi fundamental para o fim precoce dela, mesmo que indiretamente. Sem chances no mundial de construtores, mais uma vez preferiu não cruzar o Atlântico e faltou novamente ao GP dos Estados Unidos. Com dois meses entre este e a prova final do campeonato, na África do Sul, o circuito Magdalena Mixhiuca sediou uma prova não válida para pontuação. Ricardo, animado com a chance de correr em sua cidade natal, pediu permissão à Maranello para participar da corrida a bordo de um Lotus 24 com motor Climax. Querendo fazer um agrado para um rapaz que tinha potencial para ser campeão, o Comendador lhe deu sua bênção.
Ainda no primeiro dia de testes, rápido o bastante para fazer o melhor tempo, Ricardo Rodriguez tentava uma última volta quando perdeu a suspensão traseira na terrível curva oval Peraltada. Ele estava a 180 km/h e sem cinto de segurança, que não usava por medo de morrer queimado em caso de um acidente. Jogado para fora do carro, chocou-se violentamente contra uma barreira, morrendo instantaneamente. O piloto que era jovem demais para participar de Le Mans, que foi o mais jovem a estrear na Fórmula 1, e a largar da primeira fila (só Max Verstappen lhe tirou este título), foi também o mais jovem a perder a vida fazendo aquilo que ele nasceu para fazer.
Em 1973, o autódromo onde ele perdeu a vida foi renomeado, em sua honra e de seu irmão, como Autódromo Hermanos Rodriguez.
FORA DAS PISTAS
Nasceram na data de hoje o diretor de cinema Alan Parker, o mágico americano Teller (da dupla com Penn), o ator Simon Pegg, o jogador de futebol uruguaio Edinson Cavani e o cantor Dicró.
Em 1990, num 14 de fevereiro, a sonda Voyager 1 tirou uma foto do planeta Terra onde ele parecia estar suspenso em um raio de luz. Esta foto ficou depois conhecida como Pale Blue Dot, o pálido ponto azul. Esse é um dos textos mais belos já escritos, e eu compartilho este vídeo todos os anos, no meu aniversário. Vou adiantar um pouco e compartilhar aqui com vocês.
lll A Série 365 Dias Mais Importantes do Automobilismo, recordaremos corridas inesquecíveis, títulos emocionantes, acidentes trágicos, recordes e feitos inéditos através dos 365 dias mais importantes do automobilismo.