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F1: O formato reduzido do fim de semana e suas questões

A Fórmula 1 realizou em Ímola a 13ª etapa do campeonato 2020, nesta prova a categoria utilizou o formato de dois dias com as atividades ficando concentradas no sábado e domingo. Os pilotos lidaram com uma sessão de treinos livres de 90 minutos, mais a classificação no primeiro dia, enquanto no domingo os pilotos realizaram a corrida.

O formato sempre foi muito questionado, levantando diversas perguntas sobre como as coisas funcionariam e se isso é realmente bom para a categoria. Vamos aos fatos, neste ano tivemos duas amostras deste formato, já que em Nürburgring os times perderam as atividades de sexta-feira por conta da forte nebrina, no entanto o resto do fim de semana foi realizado sem problemas e ainda trabalharam com uma sessão de treinos livres de uma hora.

Foto: @Scuderia Ferrari Press Office

Aqui no Brasil, a Stock Car adotou este formato na temporada de 2019 em algumas etapas, os times chegavam um dia mais tarde no autódromo, reduziam o gasto com estádias em um dia e retornavam mais cedo para às fábricas. Para todos os times parecia ser uma questão bem vinda, já que na época mais funcionários estavam presentes na corrida, e os gatos que envolviam eles eram custeados pelos times. Quando a imprevisibilidade? A Stock Car é uma categoria bem disputada, então a sua competição seguiu desta forma.

Mas retornando a Fórmula 1, a escolha seria uma alternativa para a realização de  mais corridas durante o ano, ainda que os times não sejam favoráveis as rodadas triplas – para a realização de mais eventos. Em Ímola a “oportunidade” surgiu, mas foi por conta do tempo disponível, os times não teriam como se deslocar de Portugal até a Itália rapidamente, desta forma a sexta-feira foi anulada, o formato surgiu por necessidade e não por teste.

E como o site The Race aponta com a fala do diretor esportivo da Renault, Alan Permane disse: “A primeira coisa a destacar é que tínhamos que fazer um fim de semana de dois dias vindo de Portimão. São 2500 km para os caminhões. Teria sido incrivelmente difícil, senão impossível, fazer uma etapa de três dias aqui. É por isso que estamos aqui. Não acho que estamos fazendo isso aqui para experimentar ou tentar algo novo, fomos forçados a essa situação.”

Foto: Renault F1 Team

Os 23 finais de semana com corrida, significam mais trabalho nas pistas, mas também nas fábricas já que os carros vão rodar por mais tempo. São 23 semanas longe de casa, já que os funcionários não têm o mesmo tipo de liberdade que os pilotos.

“Para a mecânica, é uma tarefa enorme. Eles viajam ao redor do mundo em condições menos do que ideais em comparação com os outros. Viajar para uma pista em uma segunda-feira, ficar lá por uma semana, são 23 semanas longe de casa. Chega em um ponto em que estamos saturados, quase precisamos de uma segunda equipe”, disse Christian Horner, o chefe de equipe da Red Bull.

Em circunstâncias assim Horner acredita que o fim de semana com dois dias possa ser bem-vindo: “Um fim de semana de dois dias pode ser bastante interessante, especialmente no que esperamos ser um final de semana muito cheio. Teremos apenas que ver e ser versáteis e abertos.”

A Fórmula 1 ainda não divulgou o calendário oficialmente, mas como o próximo ano o mundo ainda pode estar passando pela instabilidade provocada pelo Covid-19, seria interessante ter este formato como algo disponível, já que a categoria precisaria se adaptar mais uma vez.

O dinheiro arrecadado, como fica?

O publico na sexta-feira segue aumentando em algumas pistas, o site The Race até aponta isso como nas corridas realizadas na Austrália e Silverstone pré-pandemia, passavam dos 80 mil espectadores. No GP do Brasil de 2019, o público na sexta-feira também havia crescido e pós evento os 158.213 torcedores compareceram no evento no fim de semana.

Muitos promotores fazem questão da sexta-feira, já que existem outras categorias que acabam atuando como suporte da Fórmula 1 no fim de semana. Além disso, é mais um dia com o público consumindo no local e até movimento a economia da cidade, desta forma a opção de um fim de semana reduzido pode ser um problema para algumas pistas.

Neste momento da pandemia, com os portões fechados e o publico longe, parecia até mais viável realizar etapas assim.

Televisão

O tempo em pista também implica nas receitas que a F1 consegue com a televisão, as sessões de sexta-feira são maiores e mesmo que o pessoal que assista estas atividades não seja o mesmo público de uma classificação e corrida, o público ainda tem o poder de impactar o mercado.

A Fórmula 1 trabalha com os eventos no formato de três dias, os acordos são baseados neste período, assim como os valores que são pagos e com a redução não é possível manter as negociações nos mesmos valores, já que o tempo de exibição cai. As marcas querem ser vistas e divulgadas, então tudo isso acaba influenciando nesta tomada de decisão.

Foto: Red Bull Racing

A quinta-feira também é um dia importante na Fórmula 1, já que é quando as equipes realizam as coletivas e grande parte das entrevistas, antes do início do fim de semana movimentado. Ele também teria que ser encaixado de outra forma neste formato e acabam sendo muitos pontos para se pensar, mas o trabalho terá que ser feito, mesmo com o corte de um dia, muitas atuações só vão ser concentradas não significa diretamente a redução de gastos.

Aliás, este ponto poderia também afetar os empregos dentro da Fórmula 1, parece simples, mas não é.

E imprevisibilidade? Mais disputas?

A fórmula neste esquema não traz a solução, os times que têm mais dinheiro dispõem de mais recursos para analisar dados e conseguir mais desempenho. A Fórmula é uma competição onde os times querem se superar e mostrar que são melhores, dominar temporadas não é algo ruim para eles, pois implica mostrar o quanto eles dominam a categoria e até mesmo o mercado.

Com o tempo reduzido de atividade, todas as equipes são afetadas em trabalho, acabam dispondo de menos tempo para testar peças e trabalhar nos simuladores. Poderia provocar uma mudança a longo prazo, mas os times sempre encontram uma forma de obter o máximo de eficiência no tempo que for. O dinheiro será investido em simuladores melhores, mas tempo nos dinamômetros e por aí vai. Equipes menores preferem as pistas, pois é possível realizar uma análise melhor e compensar naqueles recursos que eles não têm disponível.

Foto: Racing Point

O formato reduzido é algo incerto, pois são muitos pontos para serem analisados e sempre existem os prós e os contras, é claro que sem muito testes é difícil dizer se funcionariam, mas não eles realmente se arriscariam nestes testes já que é um formato que já está enraizado na categoria?

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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