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Da falta de dados ao desgaste da prancha: a origem da punição da McLaren em Las Vegas

Entenda como a falta de simulações, a oscilação excessiva e a baixa altura do carro resultaram na exclusão da dupla de pilotos da McLaren

A McLaren viveu um dos momentos mais frustrantes da temporada 2025, após lidar com uma desclassificação dupla no GP de Las Vegas. A equipe perdeu o segundo lugar de Lando Norris e a quarta colocação de Oscar Piastri, após a inspeção técnica da FIA constatar o desgaste excessivo da prancha.

O resultado, faz com que a etapa do Catar e Abu Dhabi seja de um duelo ainda mais acirrado pelo título de pilotos. Norris agora tem 24 pontos de vantagem para Piastri e Max Verstappen – pois com a desclassificação e a vitória do neerlandês, eles empataram em pontos.

O que levou à desclassificação

Assoalho de um Fórmula 1 (Mercedes) – Foto: reprodução

A prancha que fica na parte inferir do assoalho, deve ter no mínimo 9mm de espessura após a corrida. O regulamento técnico cobra que o carro esteja em conformidade em qualquer momento do evento para que sua participação seja legal.

Sobre a prancha, ela possui quatro pontos oficiais de medição, dois à frente e dois atrás. Qualquer valor abaixo do limite implica, por regulamento, na desclassificação automática.

Lando Norris

  • Dianteira direita: 8,88 mm (0,12 mm abaixo do mínimo)
  • Traseira direita: 8,93 mm (0,07 mm abaixo)

Oscar Piastri

  • Dianteira esquerda: 8,96 mm (0,04 mm abaixo)
  • Dianteira direita: 8,74 mm (0,26 mm abaixo)
  • Traseira direita: 8,90 mm (0,10 mm abaixo)

A desclassificação está um tanto atrelada ao fato de a equipe não ter realizado a simulação de corrida, onde geralmente eles conseguem estimar o desgaste da prancha e a altura que precisam deixar o carro para corrida. O TL2 foi atrapalhado devido às bandeiras vermelhas causadas por um novo incidente com tampas de bueiro enquanto o TL3 ocorreu em pista molhada, impedindo simulações realistas de corrida.

Sem referências confiáveis de desgaste, a McLaren adotou uma configuração agressiva, rodando com altura traseira muito baixa. A aposta tinha como objetivo maximizar downforce, mas se tornou um risco em um circuito cheio de ondulações e curvas que exigem carga aerodinâmica extrema.

Andrea Stella explicou que, durante a corrida, os carros apresentaram oscilação vertical muito acima do normal, não observada nos treinos. Essa oscilação — fez o assoalho bater no solo repetidamente, acelerando o desgaste da prancha.

“Estamos investigando as razões para esse comportamento do carro, incluindo o efeito de danos acidentais sofridos por ambos os carros, que constatamos após a corrida, e que levaram a um aumento na movimentação do assoalho”, comentou Andrea Stella no pós-corrida.

A McLaren alegou que as condições inesperadas com o circuito, os treinos com chuva que reduziram a possibilidade de fazer a simulação de corrida, afetaram eles no evento. A FIA, por sua vez, reconheceu que a violação por parte da equipe não foi intencional e que não houve tentativa de burlar o regulamento, mas afirmou que não existe alternativa legal à desclassificação, que é automática.

Norris perdeu a liderança da corrida, logo depois da largada e ao longo da prova, o objetivo foi alcançar George Russell para recuperar ao menos a segunda colocação. Além disso, o piloto também foi orientado pelo seu engenheiro, Will Joseph, a aliviar o pé nas curvas 5, 11 e 17 do circuito. A curva 5 do circuito é fechada para direita, mas com ondulações na aproximação que poderia fazer o assoalho raspar no asfalto; enquanto as curvas 11 e 17 são curvas rápidas para a esquerda, onde o carro fica muito baixo por conta do downforce e a velocidade que se atinge nesse trecho.

Próximo ao final da corrida, sem querer alertar os rivais, os rádios trocados com Norris e Piastri, deram a instrução para eles diminuírem o ritmo, o que geralmente é visto como uma forma de poupar pneus, combustível ou controlar a temperatura dos freios – aquele tal do LiCo que toda hora é mencionado na Ferrari. Surgiu até mesmo uma dúvida sobre se os carros teriam combustível suficiente, não apenas para terminar a corrida, mas que fosse drenado para verificação posterior.

Norris reduziu tanto o ritmo, que Verstappen conseguiu cruzar a linha de chagada com uma diferença de mais de 20 segundos para o britânico.

Em São Paulo, evento que antecedeu o GP de Las Vegas, a FIA proibiu o uso de um dispositivo que permitia o aquecimento da placa de titânio usada para a proteção do assoalho.

A prancha instalada no assoalho de um carro de Fórmula 1 é feita por uma prancha de madeira e conta com pequenos blocos de titânio – os skid blocks. Essas peças metálicas ajudam a controlar a altura mínima do carro em relação ao solo e são elas que ao tocar o asfalto produzem faíscas visíveis.

Em São Paulo, na sexta-feira e no sábado da Sprint, algumas equipes estavam usando o dispositivo – exclusivo para aquecer o titânio, para que ele conseguisse proteger a prancha de madeira e permitir que as equipes andassem ainda mais próximo do solo. Com o titânio expandindo, ele recebia toda a carga, evitando que a prancha sofresse o desgaste e por consequência, o piloto não seria desclassificado.

A FIA não tinha conhecimento do dispositivo até São Paulo, dessa forma tomou uma medida para a classificação e corrida principal, o que explicaria o desempenho tão divergente de algumas equipes na segunda classificação do fim de semana e corrida. A mudança era difícil de notar, já que na volta de desaceleração e retorno aos boxes, o titânio resfriava e retornava para a posição original que ele deveria estar. Para 2026 a FIA já está pensando em formas de coibir a ação dos times nessa peça.

Com São Paulo sendo uma Sprint e em Las Vegas com as equipes afetadas pela falta de fazer uma simulação de corrida e sem o uso do tal dispositivo, os times estavam sujeitos a uma desclassificação.

Anterior a desclassificação da McLaren, ainda em 2025, também ocorreram as desclassificações de Lewis Hamilton (no GP da China) e Nico Hülkenberg (no Bahrein).

No documento emitido pela FIA, comunicando a desclassificação da dupla da McLaren, duas coisas chamaram a atenção: a primeira delas foi que a FIA adquiriu em maio de 2025 um Micrômetro Mitutoyo – onde eles alertam que, conforme o fabricante, o dispositivo é preciso em 0,001. A informação não conta nos documentos emitidos pela FIA para as desclassificações de Hamilton e Hülk, pois elas aconteceram antes de maio.

A outra informação que traz o mesmo documento, é que uma nova medição aconteceu na presença dos comissários e de três representantes da McLaren e essas medições confirmaram que as proteções não estavam em conformidade com os regulamentos. As medidas relevantes foram ainda menores do que as medidas originais”, obtidas pelo delegado técnico.

Independente da variação que aconteceu, os carros estavam fora do padrão esperado, dessa forma ocorreu a desclassificação.

Após a desclassificação da Ferrari na China, a equipe enfrentou vários problemas nas provas seguintes, pois, para evitar uma nova desclassificação, andaram mais alto. No entanto, essa é uma das equipes que estaria se beneficiando do dispositivo para aquecer o titânio.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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