CEV – Carlos Eduardo Valesi: A Fórmula 1 tem DNA europeu. A primeira corrida da história aconteceu na França, os melhores motores são alemães, as melhores equipes, italianas, e tudo isso se juntou no caldeirão de Merlin da paixão inglesa pelo automobilismo. Daí para atravessar o Atlântico e chegar a terras do Tio Sam foi questão de tempo.
lll CEV: Mais ou menos o caminho contrário do que fez o rock and roll, que nasceu nos Estados Unidos nos anos 40, filho do som negro do Mississipi e de New Orleans e que saiu disso aqui:
até virar isso daqui:
lll CEV: OK, Bunnyman, aproveita para mostrar alguma banda inglesa melódica dos anos 80 agora, porque nós vamos voltar pros States.
lll RBS – Ricardo Bunnyman Soares: Os anos 80 tem melodias até demais, Valesi. Não que isso seja ruim, oras! Ah! Obrigado por chamar de “banda inglesa melódica” dessa vez e não de “bandas avós dos emos”!!!!! Mas depois de duas apresentações maiúsculas apresentadas por você, fica difícil manter o nível então vou apostar numa Mercedes dessa vez. O que dizer desse som de uns caras que saíram da Irlanda, conquistaram o Reino Unido em 1983 com seu álbum War e em 1987 foi a banda europeia com, talvez, o álbum europeu mais americano da história: O icônico Joshua Tree.
lll CEV: Logo após a Guerra, a economia europeia estava devastada, e o auxílio do governo americano com o plano Marshall, que injetou uma montanha de dinheiro na recuperação do Velho Continente, foi parte fundamental da retomada. A doutrina do presidente Truman esteve ativa entre 1947 e 1951, então nada mais justo que, ao reiniciar as competições internacionais de automobilismo, se fizesse um agrado para o patrão e fosse incluída uma prova em solo dos Estados Unidos no calendário (além do quê, não faria mal nenhum dar um verniz “mundial” a um campeonato que era na verdade da Europa).
lll CEV: O local escolhido não poderia ser outro se não um autódromo que sediava Grands Prix (tive que procurar esse plural no Google) desde 1908, a mítica Indianápolis. É verdade que nas provas da Indy 500 que contavam pontos para o mundial não tínhamos a participação dos nossos conhecidos pioneiros da Europa, com ilustres exceções (Alberto Ascari foi o primeiro não americano, de Ferrari, em 52), mas em 1959 tivemos duas provas por lá. A outra foi uma corrida em Sebring, na Flórida, e essa foi recheada de nomes conhecidos – o vencedor foi Bruce McLaren, por exemplo. Numa conexão forçadíssima aqui, diremos que Bruce nasceu na Nova Zelândia, vizinha da Austrália, cuja capital é Melbourne. E, olhem só que coincidência, não muito longe de Sebring nós temos uma cidade na Flórida também chamada Melbourne, onde nasceu James Douglas “Jim” Morrison, que fez um belo blues falando de carros que assobiavam sob a sua janela.
lll CEV: Assim como Morrison, a Fórmula 1 mudou de costa e fez o caminho da Flórida para Califórnia, desembarcando em Riverside em 1960, onde Stirling Moss fechou o ano com a vitória.
lll CEV: Mais uma mudança, mas agora para passar um bom tempo. O casamento da Fórmula 1 com Watkins Glen foi duradouro, um total de 20 provas em um circuito difícil e cheio de curvas. Graham Hill e Jim Clark venceram 3 cada, mas tivemos triunfos de James Hunt, Niki Lauda e Emerson Fittipaldi por lá também. Infelizmente, olhar a lista de vencedores nos faz lembrar que a prova que acontecia no estado de Nova York foi vencida por gênios que não ficaram o suficiente entre nós, como Jochen Rindt, Ronnie Peterson, Gilles Villeneuve e François Cevert, que venceu lá em 1971 e perdeu a vida no mesmo local em 1973. Punk.
lll RBS: E por falar na Nova York dos anos 70, tudo daquele movimento punk deturpado pelos ilustres fakes dos Sex Pistols em Londres, o CBGB passava de uma simples casa de shows fulêra para não só uma incubadora do punk americano com os Ramones, mas ser também um dos templos do rock e marco inicial para muitas outras bandas como podemos ver nessa apresentação de um Talking Heads nas fraldas.
lll CEV: Em 1976 os USA tornaram-se a primeira nação após a Itália a receber mais de um Grand Prix no ano. Convencionou-se chamar o GP de Watkins Glen de Grande Prêmio dos Estados Unidos Leste, e fazer outra prova no Oeste (essa mesma mania que eles tem no basquete e no futebol americano, por exemplo). De 76 a 83 a prova aconteceu em Long Beach, na California. Depois que a prova no leste saiu de cena, eles incluíram um monstrengo chamado Caesars Palace Grand Prix, que acontecia no estacionamento do cassino. O evento fez parte do circuito da Fórmula 1 em 81 e 82, e o primeiro viu Piquet tornar-se campeão mundial.
lll CEV: Entre 82 e 88, mais um cenário: Detroit, terra das grandes montadoras, decidiu sediar um GP em suas ruas. Ou seja, em 1982 tivemos TRÊS GPs em terras gringas, Long Beach, Detroit e Las Vegas. Um pesadelo de logística. Mas as ruas da maior cidade do Michigan foram dominadas pelos brazucas: em 7 anos foram uma vitória de Piquet e três de Senna. Como dizem por lá, they rock the city.
lll RBS: Eu confesso que estou quase com pena de fazer essa referência depois de “rockarem a cidade” pois lá pelo ano de 81-82, uma garota de olhar febril e pouco acostumada com os playbacks nos vídeos clips da época, cantava sobre os Garotos na America. Kim Wilde, uma representante do New Wave que abusava dos efeitos sintetizados das músicas.
lll CEV: Os cowboys do Texas começaram a perceber que talvez seus cavalos não fossem o jeito mais rápido de perseguir foras da lei em 1984 com o GP do Texas em Dallas. Mas guardaram a velocidade da Brabham de Piquet na memória para futuras referências, deixando Detroit sozinha até que esta passou o bastão para Phoenix, no Arizona. O quente e empoeirado GP nas ruas da capital no meio do deserto durou três anos, com uma vitória de Prost e duas de Senna, mas a má organização fez com que a prova deixasse de ser disputada, alijando os Estados Unidos do circuito por um tempo.
lll CEV: O circo voltou a pegar a fila da imigração em 2000, quando retornou ao seu local de origem, o Indianápolis Motor Speedway em Indiana. O público deste comeback foi de impressionantes 225.000 pessoas, talvez o maior da história da categoria até hoje. No ano seguinte, a prova aconteceu menos de três semanas após o ataque às Torres Gêmeas, e um clima de velório pairava no ar. Em 2005, a mais infame de todas as mil corridas até hoje, aquela com apenas 6 carros. Em 2007, os organizadores anunciaram que não receberiam mais a Fórmula 1, visto que as contas não estavam fechando. Foi a despedida (até então) da categoria do estado que nos deu Michael Jackson. Um crime.
lll CEV: Em 2012, os rangers que tinham visto aquela prova em Dallas cederam aos apelos de Bernie Ecclestone e decidiram sediar novamente um GP nos Estados Unidos, no chamado Circuito das Américas, em Austin, o primeiro na terra dos livres e lar dos bravos a ser construído com o propósito de sediar a Fórmula 1. Suas 20 curvas (a primeira, no topo de uma ladeira íngreme, sempre nos deu momentos sensacionais) foram palco de brigas épicas entre os atuais protagonistas, Vettel e Hamilton, mas também testemunharam corridas incríveis de pilotos como Romain Grosjean, Max Verstappen e Kimi Raikkonen, o vencedor em 2018.
lll RBS: Cowboys… Um campo frutífero para histórias, duelos hoje em dia de pilotos e claro para influencias na música. Eu adoro uma banda de um álbum só. O Walk The West é um estilo que acabei de ver um rótulo: Cowpunk. Não concordo muito com esses rótulos mas o Walk The West fez talvez o máximo que conseguia nesse álbum homônimo de 1986. Living At Night é na minha opinão uma das melhores músicas dos 80’s e digna de tocar no 80Watts, podcast do nosso amigo Shi. Acho que esse som combina muito com o fechamento a seguir do nobre Valesi. Mais uma bela descoberta vem a frente.
lll CEV: Em resumo, ao contrário do que o senso comum adora tentar nos fazer acreditar, a longa história de provas da categoria nos Estados Unidos, somadas à atual controladora do esporte, a Liberty Media, fazem com que o USA GP de F1 seja tão ianque quanto uma bela dose de Jack Daniels.
lll BPBeats é uma produção da dupla que não é sertaneja, contudo é a prova que panela velha faz comida boa sim, Carlos Eduardo Valesi que já era residente fixo do BP em conjunto com Ricardo Bunnyman peça única da podosfera tupiniquim que foi recentemente adquirido em um leilão beneficente e por uma força do destino do qual nem os búzios, nem os zodíacos e muito menos os físicos teóricos da Magrathea poderiam prever que o encontro desses dois surgiria uma série tão empolgante e digna das melhores revistas do ramo musical tal qual como Rolling Stones e da saudosa MTV, apreciem sem moderação.