A temporada de 2005 trouxe profundas mudanças no regulamento da Fórmula 1 de tal modo que interferiu na visão em relação à categoria pelos próximos anos. Após uma sequência de cinco campeonatos dominados por Michael Schumacher e pela Ferrari, o desejo era mudar brecar o domínio vermelho a qualquer custo. Assim, novas forças emergiram naquele ano.
Um dos principais fatores foram as mudanças de regulamento aprovadas para aquele ano. A principal mudança foi a proibição das trocas de pneu ao longo da corrida, assim, a Bridgestone e a Michelin tinham que se virar com um composto resistente e rápido o suficiente. Pior para os japoneses, que tinham apenas três das dez equipes como clientes (a campeã Ferrari, a claudicante Jordan e a sempre miserável Minardi), enquanto as demais escuderias dispunham da borracha francesa. A situação levaria a consequências desastrosas ao longo do ano…
Outra alteração foi na classificação. A fim de criar mais um evento nos domingos, a FIA dividiu a definição do tempo em duas sessões: uma aos sábados e outra na manhã dominical. O grid seria formado pela soma dos tempos de ambas as etapas (algo similar ao que acontece no bobsled, por exemplo). Mas tinha um detalhe: no sábado, cada piloto ia para a pista com o mínimo de combustível possível e no dia seguinte, se classificava com a quantidade de gasolina que usaria na largada! Obviamente, isso não caiu nas graças do povo e não durou mais de seis corridas.
No entanto, toda esta balbúrdia estava em vigor para o Grande Prêmio da Austrália, realizado em 6 de março, no circuito citadino de Albert Park. A prova em Melbourne traria uma forte mudança no panorama, com a ascensão de algumas equipes e queda de outras. Porém este efeito acabou mascarado por conta da chuva que caiu no meio da classificação de sábado, que embananou o grid completamente.
Ainda assim, a Renault, que se destacava desde a pré-temporada, conseguiu abocanhar a pole, com Giancarlo Fisichella, que retornava a escuderia após quatro anos (quando ainda era Benetton). Ao seu lado, partia Jarno Trulli, correndo pela Toyota. Na sequência, vinha Mark Webber (em sua primeira jornada pela Williams) e Jacques Villeneuve, que buscava renascer na carreira pela Sauber.
A maior novidade, no entanto, estava na terceira fila com dois carros: Era a Red Bull Racing. A equipe foi adquirida pela marca dos energéticos após a Jaguar desistir da F1 no fim de 2004. O experiente David Coulthard ponteava o time, seguido pelo austríaco Christian Klien, egresso do programa de pilotos dos touros vermelhos e que estava na escuderia quando ainda era gerida pela montadora.
Já outros favoritos tinham desempenho bem aquém do esperado. A McLaren foi prejudicada pela chuva e a dupla Kimi Raikkonen e Juan Pablo Montoya ficaram no meio do grid. Já Fernando Alonso ficou longe de repetir o feito do companheiro de equipe ficou em 13º, ensanduichado entre as Jordan com dois estreantes: o indiano Narain Karthikeyan (primeiro piloto de seu país) e o português Tiago Vagaroso Monteiro (sim, o sobrenome dele é esse!)
E a Ferrari? Rubens Barrichello ainda fez apenas um modesto 11º tempo. Já Mcihael Schumacher, o heptacampeão da categoria, teve uma volta desastrosa e abortou a sua segunda passagem, largando apenas de 19º, à frente apenas de Takuma Sato (BAR), que não marcou tempo após bater na primeira classificação.
O fim de semana de Raikkonen continuou complicado, com o carro morrendo antes da largada e o finlandês partia do pit-lane. Quando as luzes vermelhas apagaram, Fisichella disparava na ponta, enquanto Villeneuve era ultrapassado por quase todo mundo. Barrichello, Alonso e Montoya avançavam na medida do possível.
Schumacher e Raikkonen tentavam subir na classificação acelerando o que podiam, mas com a estratégia atrelada apenas ao combustível pouco podiam fazer, além de um duelo. Schumi chegou a perder a posição para o finlandês em uma das paradas, mas conseguiu recuperar a posição com sobras na última parada. No entanto, o alemão tinha que se defender do compatriota Nick Heidfeld, outro estreante da Williams.
O ferrarista, mais lento ao sair dos boxes, tentou bloquear a passagem, mas Heidfeld estava muito rápido e não conseguiu frear, acertando o carro de Schumacher. O heptacampeão voltou para os boxes, mas a dupla germânica estava fora da prova. Definitivamente, o reinado de Michael estava por um fio.
Já Barrichello ainda salvou as honras da Ferrari. Com uma boa estratégia, conseguiu chegar ao segundo posto após a sequência de paradas, além de controlar o ímpeto de Alonso nas voltas finais. Apesar disso, a escuderia de Maranello não conseguia derrubar a Renault. A equipe francesa, comandada por Flavio Briatore, já demonstrava o poderio para o ano de 2005.
E na ponta, Fisichella confirmava seu domínio no fim de semana e vencia com autoridade. O italiano viveu talvez seu momento máximo na carreira e demonstrava estar preparado para brigar pelo título, inspirando confiança de muita gente como o cara que seria o líder daquela Renault, como alguns apostaram.
(P.S. Não julgo a visão do Reginaldo Leme daquela época, pois era o que este escriba pensava num eventual duelo interno, afinal Fernando Alonso viria a estourar nas etapas seguintes e, a partir daquele momento, mostrou-se o piloto fora de série que viria a ser)
Com as duas Renault no pódio, outra a equipe a se colocar bem foi a Red Bull. Com Coulthard em quarto e Klien em sétimo, a turma dos energéticos somou sete pontos, tendo um bom começo de jornada. A McLaren também colocou os dois carros nos pontos (Montoya em sexto e Raikkonen em oitavo), mas ainda era pouco pelo almejado pela equipe de Woking.
Já a Williams, teve que se contentar com o quinto lugar de Webber, que igualava seu melhor resultado na corrida local (conquistado pela Minardi em 2002), mas longe de inspirar confiança, dando os primeiros sinais de decadência na qual a escuderia passaria nos anos seguintes.
Após a Austrália, a Fórmula 1 teve mais dúvidas que certezas, mas os ventos da mudança já estavam começando a soprar para uma nova F1.
Etapa na íntegra Dailymotion.co
lll A Série 365 Dias Mais Importantes do Automobilismo, recordaremos corridas inesquecíveis, títulos emocionantes, acidentes trágicos, recordes e feitos inéditos através dos 365 dias mais importantes do automobilismo.