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Carlos Sainz conquista vitória em Singapura e prova mais uma vez que é um piloto cerebral

Nem sempre o mais rápido da pista, mas ser consciente do que está acontecendo em pista, tem ajudado nos resultados de Sainz. O piloto é um destaque pelo trabalho que tem realizado na Ferrari

Neste fim de semana em Singapura, a Ferrari quebrou a sequência de vitórias da Red Bull. Carlos Sainz foi o responsável, o espanhol conquistou a sua segunda vitória da carreira e marca o seu nome em uma temporada que está sendo dominada pelo time austríaco e por Max Verstappen.

Sainz não é o piloto favorito da Ferrari, não é a cria da casa e passou por outros times antes de chegar a equipe italiana. Em um outro texto, ainda do ano passado, comentei o quanto o espanhol foi um aluno dedicado para conseguir uma vaga na Ferrari. Em seu primeiro ano defendendo o time de Maranello, Sainz superou o companheiro de equipe e ainda encerrou o ano obtendo quatro pódios, três à mais que Charles Leclerc.

De certa forma, Sainz é um piloto subestimado por alguns fãs da categoria, algumas vezes existe até mesmo uma má vontade para fazer uma análise sobre o desempenho do piloto. Os erros de Sainz são muito mais cobrados que os de Leclerc, o piloto prata da casa.

A Ferrari teve a chance de disputar o título em 2022, mas padeceu diante dos erros, não apenas do time, mas também os cometidos pelo monegasco. A equipe gostaria de ter uma parcela do desempenho de 2023, mas infelizmente foi um começo de ano conturbado.

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Até o GP da Itália, Carlos Sainz era o único entre os primeiros colocados que não tinha passado pelo pódio. Tirando a dupla da Red Bull, os pilotos da Mercedes, Lando Norris da McLaren, Fernando Alonso da Aston Martin e a dupla da Alpine tinham ao menos um pódio em seu nome em 2023.

Em Singapura, Carlos Sainz foi mais uma vez o pole e desta vez tinha chances de conquistar sua segunda vitória pela Ferrari – Foto: reprodução

Sainz estava apresentando uma performance regular, até Monza tinha ficado fora da zona de pontuação na Austrália e na Bélgica, em todas as outras corridas o espanhol tinha faturado. Leclerc por sua vez, não tinha completado as provas do Bahrein e Austrália, não pontuou na Espanha e abandonou na Holanda, mas tinha os pódios do Azerbaijão e Áustria.

A Ferrari já tinha informado que não tratava os pilotos com diferença, que Charles Leclerc não tinha prioridade, mas a equipe errou com Sainz, segurou o piloto e fez algumas manobras em pista para proteger o monegasco, até que por fim Leclerc superou Sainz na tabela de pontos no GP da Bélgica e a Fórmula 1 se encaminhou para as férias. Na Holanda Sainz voltou a ultrapassar o companheiro de equipe, enquanto em Monza, Sainz mostrou todo o seu domínio e fez valer aquele pódio. Resultado que foi quase uma vitória, pois só perderam para a dupla da Red Bull.

A prova na casa da Ferrari foi espetacular, Sainz conquistou a pole e naquela prova mostrou muito controle. Liderou a corrida até onde deu, fez excelentes defesas de posição, realmente foi uma aula. Sainz teve que batalhar até o final com Charles Leclerc para evitar ser ultrapassado pelo monegasco e perder o pódio.

Foi uma aula de defesa, até mesmo para Charles Leclerc que em alguns momentos vende a posição fácil, pois não tem muito o que fazer e prefere poupar o equipamento. Mesmo ciente que os carros da Red Bull eram melhores em Monza, Sainz não abriu, defendeu, ficou com os pneus desgastados, mas lutou muito pelo pódio.

Depois de sofrer pressão da dupla da Red Bull e do companheiro de equipe, Sainz celebra pódio em Monza – Foto: reprodução Ferrari

Duas semanas depois deste episódio, a Fórmula 1 retornou em Singapura. Um circuito que logo na sexta-feira feira mostrou que faltava alguma coisa para a Red Bull, essa era a oportunidade para outro time se dar o luxo de buscar uma vitória e derrotar o time austríaco.

Leclerc liderou o TL1, enquanto Carlos Sainz liderou as duas sessões mais importantes do fim de semana: o TL2 – quando as equipes estão trabalhando para obter os dados para a corrida e o TL3 – sessão que antecede a classificação. O espanhol mostrou que era o favorito, mas a definição do grid seria apertada.

Sainz faturou a sua quinta pole na noite de sábado, mas tinha ao seu lado George Russell, enquanto Charles Leclerc ficou com a terceira posição. Tempos que eram bem próximos na tabela.

Seguindo para o domingo, essa era a chance de alguém quebrar a sequência de vitórias da Red Bull. A Ferrari tinha um plano, Sainz era a prioridade pelo trabalho que o piloto tinha realizado durante todo o fim de semana. Leclerc ganhou pneus macios para superar George Russell e na sequência precisava abrir mais de três segundos para Sainz, mantendo uma distância entre eles, para a Ferrari ter como trabalhar no momento que as paradas fossem realizadas, evitando um undercut entre os companheiros de equipe.

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A Ferrari seguiu o cronograma, Sainz ditava o ritmo na ponta, mas Leclerc permaneceu por tempo demais no DRS de Sainz. No momento que o Safety Car pintou em pista por conta da batida de Logan Sargeant, Leclerc estava no processo de se distanciar de Sainz. Na parada dupla realizada pela Ferrari, o monegasco ficou vendido, com a ação no pit-lane a equipe o segurou por um tempo, para evitar uma punição – a corrida de Leclerc foi prejudicada, pois ele não seguiu o delta que tinha sido combinado antes do início da prova.

Depois da classificação, os dois pilotos deixaram claro que queriam ordem de equipe, diferente do que aconteceu em Monza quando eles ficaram livres para disputar o pódio e quase se atrapalharam.

Sainz foi extremamente cerebral durante toda a prova, estava atento ao que acontecia atrás dele, quais eram as disputas que estava travando. Informou à Ferrari que tinha um segundo no bolso e que poderia acelerar quando fosse liberado. George Russell que passou uma parte da prova atrás de Sainz, tentou buscar essa vitória e por mais que quisesse muito, ele não tinha como fazer a aproximação.

Como mencionei, Sainz sempre foi um aluno dedicado, não faz parte daquele time de pilotos mais rápidos que a luz, mas é um competidor que se adapta rápido. Foi piloto da Academia da Red Bull, guiou pela Toro Rosso, Renault e McLaren, fez praticamente o mesmo caminho que Daniel Ricciardo e se destacou pela rápida adaptação.

O espanhol é muito consciente do equipamento, desde o retorno das férias tem feito o possível para extrair mais do SF-23. Monza e agora Singapura são a prova dessa tentativa de fazer mais. Sainz dobrou o companheiro de equipe, enquanto Leclerc experimenta uma má fase.

Como um aluno bem aplicado e sabendo o que pode entregar, Sainz deu mais uma prova no final da corrida. Solicitou à Ferrari que avisasse volta a volta a distância de Lando Norris para ele. Quando o britânico entrou na zona de DRS, Sainz foi alertado e respondeu ao time que tinha consciência e era isso mesmo que ele buscava. Deixando Norris entre ele e Russell, o espanhol bloqueou os ataques da Mercedes, Russell ainda errou na última volta e foi parar no muro, abandonando a corrida após uma batalha épica.

Carlando, pilotos que trabalharam juntos na McLaren e essa força tarefa no final da corrida para conquistar a vitória e manter o pódio de Lando só funcionou pois esses dois competidores se conhecem bem. Lando sabia que esse domingo não era sobre ele, sobre o britânico faturar a sua primeira vitória, mas trabalhar em conjunto, mesmo que o piloto do carro da frente seja de uma equipe diferente, pois juntos eles poderiam obter esse resultado. Foi brilhante.

Para os olhos de muitos, Sainz ainda precisa de mais vitórias para se firmar, mas em várias corridas é interessante observar o quanto o espanhol cresceu. Sainz é muito consciente das estratégias, tem uma leitura de corrida grandiosa e fez a diferença, mesmo em algumas provas de Leclerc. Concentrado em levar o melhor resultado para casa, permitiu algumas vezes o espanhol obter mais pontos que o companheiro de equipe.

Carlos Sainz fatura segunda vitória da carreira em Singapura – Foto: reprodução Ferrari

Por fim, Sainz tem uma personalidade forte, discute com a equipe, toma decisões, não aceita tudo de bandeja. Mesmo não sendo o mais veloz, esses detalhes que ele se atenta já fizeram muita diferença em várias corridas do espanhol. Alguns tentam diminuir Sainz, comparando ele a pilotos pouco expressivos, no entanto, Alain Prost, ‘o professor’ seria uma melhor comparação ao espanhol.

A imprensa italiana está em polvorosa com a vitória de Sainz, a Gazetta Italiana também comparou Sainz com Niki Lauda, um piloto também cerebral, com grandes características estratégicas.

Sem cometer muitos riscos, Sainz tem chamado a atenção. Mesmo na Fórmula 1, nem sempre você precisa ser o mais rápido em pista, mas ser consciente dos atos, certamente faz muita diferença. Isso é algo que tem feito a diferença na tempora de Sainz, não correr riscos quando não são necessários, não brigar com o equipamento para ir além do que é preciso. Leclerc infelizmente em vários momentos, foi traído justamente por ter deixado a agressividade dominar.

A Ferrari atualmente busca superar a Mercedes nos Construtores, mas a equipe precisa também ser firme no momento de tomar as decisões em pista. Ainda não sabemos se a Ferrari vai renovar com Carlos Sainz, mas em 2024 o espanhol ainda estará defendendo o time de Maranello. É nesse momento que a Ferrari precisa projetar o próximo ano e fazer uma escolha que evite atritos entre os companheiros de equipe.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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