“Tudo começa num ponto”, já dizia o artista plástico russo Wassily Kandinsky. Toda História começa graças a iniciativas de um grupo ou de alguém. O que aconteceria se Dom Pedro I não tivesse bravado às margens do rio Ipiranga? Ou, se 67 anos depois deste evento Marechal Deodoro da Fonseca não tivesse proclamado a nossa república? Se Francisco Ferdiando, príncipe do Império Austro-Húngaro, não tivesse sido assassinado? Se a Alemanha não tivesse fracassado ao tentar invadir a Rússia em 1945? O que aconteceria se Maria Teresa Filippis, aos 22 anos, não tivesse corrido pela primeira vez?
Após ser vice-campeã italiana de carros de turismo, Filipis foi convidada pela Maserati em 1958 para disputar corridas na Fórmula 1, tornando-se a primeira mulher do mundo a disputar Grandes Prêmios. Seu melhor resultado foi a 10ª colocação no GP da Bélgica. No mesmo ano, foi impedida de disputar o GP da França. Toto Roche, diretor de provas naquele ano, alegou que o único capacete que “uma mulher tão bonita” deveria usar era “o do salão de cabeleireiro”. Maria Teresa brigou, mas não conseguiu reverter a decisão.
No GP da Alemanha disputado no dia 1 de Agosto de 1959, Jean Behra sofreu um acidente no evento suporte da corrida. Na quarta volta, Behra seguia na terceira colocação, atrás de Wolfgang Von Trips e Joakim Bonnier, mas devido a pista úmida, o francês derrapou, chocou-se contra um poste e morreu na hora. Esta fatalidade marcou o fim da carreira de Filippis. Behra, além de amigo, era o dono da equipe pela qual Teresa fez a última tentativa de correr em um GP. Em 1979, Maria Teresa entrou para o Clube Internacional de Ex-Pilotos de Fórmula 1. No dia 9 de Janeiro de 2016 a ex-piloto faleceu e as causas não foram reveladas.
Depois de Filippis, outras mulheres embarcaram na F1: Lella Lombardi – que terminou em sexto lugar no GP da Espanha de 1975, obtendo o melhor resultado de uma mulher na Fórmula 1; Divina Galica; Desirée Wilson e Giovanna Amati – se tornando, até o momento, a última mulher a se inscrever uma corrida de Fórmula 1. O ano era 1992 e o GP foi realizado no Brasil.
Outros nomes femininos são fortes no automobilismo, como Michele Mouton (vice-campeã mundial de Rali em 1982), Jutta Kleinschmidt (vencedora do Rali Paris-Dakar em 2001) e Danica Patrick (única mulher a vencer uma corrida na Fórmula Indy).
Brasileiras também já fizeram e fazem História no automobilismo, como Bia Figueiredo, Suzane Carvalho, Débora Rodrigues, entre outras. Bia Figueiredo foi a primeira mulher no mundo a vencer uma corrida de Fórmula Renault e a primeira mulher a vencer uma corrida na Indy Lights, em 2008. Em 2010, se tornou a primeira brasileira a disputar as famosas 500 Milhas de Indianápolis e também disputou a São Paulo Indy 300. Em 2011, tornou-se piloto oficial da Equipe Dreyer & Reinbold e estreou em Tampa Bay, na Flórida, no dia 27 de Março. Nesta mesma etapa, fraturou o punho direito na quarta volta ao se chocar com o piloto Graham Rahal. Mesmo a corrida tendo 100 voltas de 2897 metros, Bia foi até o fim. Dois dias após, a piloto foi submetida a uma cirurgia no hospital Indiana Hand to Schoulder Center, em Indianápolis.
Atualmente, Bia corre na Stock Car Brasil e é embaixadora das Karteiras, uma competição de Kart composta por mulheres. Além disso, disputa provas de Turismo fora do país em uma equipe formadas somente por mulheres, composta por Jackie Heinricher, Katherine Legge e Simona de Silvestro. A piloto de 34 anos é espelho para jovens automobilistas, como a catarinense Bruna Tomaselli, que corre pela USF2000 nos Estados Unidos e vai tentar pela segunda vez uma vaga no grid da W-Series, uma categoria de carros de fórmula exclusiva para mulheres. Na íntegra, segue uma curta entrevista da piloto de 34 anos concedida ao Boletim do Paddock:
B.P.: Você fez História sendo a primeira mulher do mundo a vencer uma corrida de Fórmula Renault. Nos dias atuais, temos mulheres competindo e que vêem você como um espelho, como por exemplo, a Bruna Tomaselli. Qual é o seu sentimento em relação a isto?
BIA FIGUEIREDO: Eu nunca pensei nisso. Quando eu via mulheres (no automobilismo) sempre gostei. Ficava admirada. Ficava feliz. E, agora, por esse lado, fico orgulhosa e feliz de alguma maneira inspirar novas mulheres. Ajudo a Bruna de alguma forma e sou embaixadora do Karteiras. Eu acho que tem que mudar esta mentalidade de que automobilismo é só pra homens e a começarem a apoiar as mulheres.
B.P.: Você participou das 24 Horas de Daytona com uma equipe composta somente por mulheres. Foi um marco. Como você enxerga o futuro das mulheres no automobilismo?
BIA FIGUEIREDO: Somos minoria ainda, né? São pouquíssimas, raríssimas… Você é apaixonado, tem talento, mas ainda tem a parte financeira que é muito difícil. Hoje eu vejo meninas que amariam ter tido a mesma oportunidade e não tiveram, e que poderiam ser grandes talentos também. Eu até brinco perguntando: quantos pilotos cearenses já tivemos na Fórmula 1 até hoje? Nenhum, pois não há pilotos lá. Usando este exemplo, precisamos preparar mulheres, incentivar mulheres, para que a gente ganhe volume e possamos nos destacar.
Capa: Bia Figueredo – Foto: Duda Bairros/Vicar Stock Car 2019 – 7ª etapa – Interlagos – CORRIDA DO MILHÃO
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