O final da temporada 1999 da Cart foi extremamente marcante, para o bem e para o mal.
O campeonato foi espetacular coroando como campeão Juan Pablo Montoya que havia substituído Alessandro Zanardi na Ganassi após uma intensa disputa com Dario Franchitti da Green (atual Andretti), para se ter uma ideia do quão equilibrada foi a disputada ambos terminaram empatados com 212 pontos, o colombiano levou o título por ter mais vitórias.
Infelizmente 2 acidentes fatais nas provas finais do certame tiraram um pouco o brilho de um ano tão bom para a categoria norte americana. Curiosamente tais acidentes envolveram pilotos ligados a equipe mais tradicional dos EUA, a Penske. Foi um ano terrível para o time de Roger Penske: já na primeira etapa do ano acidente forte com Al Unser Jr que teve que se ausentar das provas seguintes, então se revezaram na pilotagem do time o brasileiro Tarso Marques, o americano Alex Barron, o próprio Al Unser Jr e o uruguaio Gonzalo Rodriguez.
Foi o último ano em que a Penske fabricou seu próprio chassis, mas o carro era tão ruim que foi substituído por um Lola, sempre com motor Mercedes. Para o ano 2000 Roger Penske promoveu uma revolução geral: a equipe passaria a contar com a combinação que dominava a categoria desde 1996, chassis Reynard e motor Honda. A dupla de pilotos seria fortíssima, o brasileiro Gil de Ferran (Walker) e o canadense Greg Moore (Forshyte). O recado era claro, em 2000 a Penske disputaria o título.
Infelizmente o primeiro golpe no otimismo do time patrocinado pela Marlboro aconteceu em Laguna Seca, durante os treinos de sábado o uruguaio Gonzalo Rodriguez passou reto na famosa curva do saca rolha, o carro bate de frente na barreira de pneus sendo catapultado morro abaixo, ao cair de cabeça para baixo o piloto quebra o pescoço e morre. Fim trágico para a carreira promissora de um piloto que tinha rivalizado com Juan Pablo Montoya e Nick Heidfeld na F3000, tendo como grande conquista a vitória em Mônaco na categoria de acesso a F1.
Mas o golpe mais duro e quase fatal à Penske ocorreu na última etapa no oval de Fontana, à época propriedade de Roger Penske. Greg Moore contratado do time para 2000 caiu de uma scooter no sábado machucando a mão, logo passou a ser dúvida para a prova. O canadense insistiu em participar; partindo da última colocação vinha escalando o pelotão, até escapar na curva 2, ao entrar na grama o carro foi projetado violentamente na direção do muro externo da pista. O impacto foi brutal, creio eu que o piloto morreu na hora, mas seu passamento só foi confirmado no hospital fazendo com que a prova tivesse bandeira amarela quando a terrível noticia se confirmou. A comoção na categoria e mundo do esporte a motor foi grande, Greg tinha apenas 24 anos e era uma estrela ascendente na Cart, além de ser muito querido pelos outros pilotos no paddock e pelos fãs por seu arrojo e talento.
A tragédia de Fontana acabou salvando a carreira de um promissor e jovem piloto brasileiro que estava a pé para 2000, Helio Castroneves. Pilotando para a pequena Hogan, Helio conseguia boas performances em ovais curtos e circuitos travados onde o chassis Lola se adaptava melhor. Ocorre que no final da temporada o time anunciou que estava encerrando suas atividades, o que deixou o brasileiro em uma situação delicada, afinal as principais equipes estavam fechadas para a nova temporada.
Após perder 2 pilotos em pouco mais de um mês, Roger Penske contratou Helio Castroneves. Iniciou-se ali um dos casamentos mais bem sucedidos do automobilismo norte americano. De 2000 até 2016 foram 29 vitórias, sendo 3 delas na lendária e centenária Indy 500.
Greg Moore, Gonzalo Rodriguez e Helio Castroneves tem seus destinos ligados, afinal Moore seria piloto da Penske a partir de 2000, e hoje vendo o renascimento do time naquele ano sempre ficará a pergunta: teria Greg Moore superado Gil de Ferran na equipe?
Com o passamento do canadense, talvez Gonzalo Rodriguez pudesse ter sido escolhido para ser companheiro de Gil, afinal estaria fazendo as provas finais de 1999 pela equipe, caso mostrasse resultado, a vaga poderia ser sua.
Mas o destino quis que o segundo carro da Penske fosse pilotado por Helio Castroneves. Nenhum demérito ao talento de Helinho, mas os tristes acontecimentos daquele final de 1999 foram decisivos para que sua carreira internacional não chegasse ao fim de forma prematura.
Foi bem difícil escrever este texto, pois o acidente fatal de Greg Moore foi o primeiro que me levou as lágrimas e me fez questionar se valia a pena continuar acompanhando automobilismo. Após muita reflexão e ainda arrasado com o estúpido acidente do canadense que eternizou o belíssimo carro #99 azul turquesa com o patrocínio da Players, cheguei à conclusão que o vírus do automobilismo já havia me infectado há muito tempo, e para ele não há tratamento, muito menos cura.