A tão ventilada contratação de Sergio Pérez pela Red Bull foi confirmada nesta sexta-feira (18). A equipe fechou suas vagas para o ano que vem colocando o mexicano como companheiro de Max Verstappen. Alex Albon agora será piloto de testes.
Apesar de não ser uma surpresa, o movimento da Red Bull cria inúmeros cenários na tentativa de explicar por que a equipe estaria certa ou errada quanto a rebaixar um de seus titulares e trazer alguém de fora do seu programa de jovens pilotos para sua equipe principal.
Aliás, não é de hoje que esse programa e sua condução vêm sendo questionados pelo mundo do automobilismo. Apontado por muitos como um “moedor de carne”, o projeto conduzido por Helmut Marko lançou vários pilotos ao longo dos últimos anos, porém poucos foram realmente capazes de agradar ao sisudo austríaco.
A Red Bull estreou na Fórmula 1 em 2005, de lá para cá 11 pilotos ocuparam o posto de titular da equipe em algum momento. Parece pouco, mas se compararmos com suas duas principais concorrentes, veremos que a Ferrari teve 9 no mesmo período e a Mercedes teve 5 (desde o seu retorno à F1 em 2010).
O número é ainda maior na Alpha Tauri. Fundada um ano após o time principal, com o nome de Scuderia Toro Rosso, a equipe “B” teve 14 ocupantes em sua história na F1. São 14 pilotos diferentes em 14 anos de existência.
A grande rotatividade nos cockpits das duas equipes da marca representa claramente a urgência da alta cúpula da RBR em revelar um novo talento e o curto período que cada piloto tem para se provar. Características que foram acentuadas depois da saída de Sebastian Vettel no final de 2014.
A contratação de Sérgio Pérez ajuda a pôr em cheque um sistema que aparenta ser mais prejudicial do que benéfico para boa parte dos que passam por ele. Pérez integra um seleto grupo de pilotos que chegaram à Red Bull sem passar pelo programa Júnior da equipe. Ao seu lado estão David Coulthard e Mark Webber.
Ter alguém de fora pode fazer bem a todos. Como bem observado por Will Buxton, Pérez não terá “os caprichos de Helmut Marko pairando sobre ele a cada curva”. Isso deve lhe dar mais liberdade que qualquer outro já teve, além de identificar outros possíveis problemas de gestão do programa.
The signing of Perez marks change in direction for RBR. The last non-Red Bull affiliated driver they signed was Mark Webber in 07.
The fact Checo won’t have Dr Marko’s whim hanging over him at every turn could give him a freedom no other driver has experienced in a decade.
— Will Buxton (@wbuxtonofficial) December 18, 2020
Pérez é um piloto que possui 10 anos de experiência na Fórmula 1, sete deles na Racing Point (Force India). Ele ficou ainda um ano na McLaren após duas temporadas na Sauber, onde fez sua estreia.
O mexicano demonstrou diversas vezes que consegue entregar bons resultados e a temporada de 2020 foi a melhor prova disso, Pérez está em seu auge. A Red Bull precisa de alguém que seja capaz de, pelo menos, andar próximo a Max Verstappen e, aparentemente, ninguém da sua academia de pilotos oferece o que a equipe precisa atualmente.
ALEX ALBON
Manter um ritmo parecido com o de Verstappen sem necessariamente ameaçar a jovem estrela da equipe, conquistar pódios e ajudar no campeonato de construtores. É isto. É esse cara que a Red Bull quer. Alex Albon parecia ser esse cara, mas a campanha de 2020 mostrou o contrário.
Albon criou uma expectativa muito grande em torno de si mesmo quando substituiu Pierre Gasly na segunda metade da temporada de 2019. Os bons resultados conquistados pelo tailandês fizeram todos acreditarem que a Red Bull seria capaz de desafiar a Mercedes, mas a inconsistência de Albon o levou ao pior lugar da equipe em 2021: a reserva.
Na prática, Albon vai ficar nos simuladores da RBR trabalhando no carro de 2022, “um papel fundamental” como descreveu Christian Horner. Talvez ele tenha uma chance de voltar ao posto de titular com carro que vai ajudar a desenvolver, mas ele não depende apenas de si mesmo.
Confira: Opinião – O futuro de Alexander Albon
A disputa direta entre Albon e Gasly na Alpha Tauri poderia ser um grande atrativo para 2021, mas agora além de Gasly, Albon enfrentará um novo adversário: Yuki Tsunoda.
A nova dupla da Alpha Tauri terá uma temporada inteira para evoluir, enquanto Albon estará preso aos simuladores e à fábrica. Com sorte, participará de algum treino livre. Quem sabe?
É difícil dizer se Albon terá uma nova chance em 2022. Esteban Ocon conseguiu voltar ao grid em 2020 depois de ficar uma temporada afastado, mas essa é a exceção. Daniil Kvyat também conseguiu uma chance mais rara ainda de voltar para a Alpha Tauri após ser demitido da equipe.
Albon precisa se agarrar a esses fatos e dedicar-se ainda mais se quiser uma nova chance. E também precisa lidar melhor com a pressão. Não é fácil ser um piloto Red Bull e lamentar-se no rádio como GP de Eifel (“They race me so hard”) não ajuda muito.
SERGIO PÉREZ x MAX VERSTAPPEN
Pérez e Verstappen são dois pilotos arrojados, de personalidade forte e que não costumam facilitar a vida de ninguém dentro da pista.
Sergio Pérez nunca foi exatamente conhecido por seu grande relacionamento com seus companheiros de equipe. Ocon e Button foram provavelmente os casos mais explícitos, mas nem de longe Verstappen pode se esperar uma relação minimamente parecida com qualquer outro companheiro que já teve.
Mariana Becker revelou no GP de Abu Dhabi que o carro da RBR de 2021 será 60% ajustado para Max Verstappen. O experiente Pérez agora tem que mostrar uma grande capacidade de adaptação para entregar o que se espera dele.
É pouco provável que ele aceite ser o “segundo piloto” – a não ser que seu contrato seja bem explícito quanto a isso. Então as chances de termos uma boa briga interna são bem altas.
Em todo caso, Pérez não teve sua personalidade de piloto moldada pela Red Bull e esse é outro motivo para acreditar que ele deve questionar o que lhe for imposto. Além disso, o mexicano é um homem político, não podemos esquecer que ele foi um dos principais articuladores do plano que salvou a Force India da falência em 2018.
Mais maduro, o dono do carro #11 tem experiência e jeito para lidar com cartolas, patrocinadores e outros homens de negócio. Certamente terá jogo de cintura para tratar com Christian Horner.
Além disso, Pérez tem patrocinadores muito fortes e dizem que sua permanência do grid também tem a ver com a manutenção do GP do México.
Todos esses elementos somados à já conhecida história de Max Verstappen com a Red Bull fazem com que essa seja a dupla que atrairá mais olhares no grid do ano que vem.
Será Sergio Pérez capaz de bater de frente com Max Verstappen? Ele conseguirá ficar mais tempo na equipe? Albon volta para a Red Bull em 2022 ou vai para outro lugar? Verstappen continua na Red Bull?
Todos esses questionamentos e mais outros serão respondidos com o tempo, mas já derruba o mito de que um piloto tem o poder de vetar seu companheiro de equipe. Pérez teoricamente representa uma ameaça muito maior para Verstappen, não faz sentido ele concordar com essa contratação, certo?
De qualquer forma, o contrato de Pérez tem duração de um ano, tempo suficiente para que o mundo da Fórmula 1 descubra “o que acontece quando você coloca dois galos de briga na mesma equipe”.