Neste fim de semana a Fórmula 1 vai realizar o primeiro GP de Las Vegas. A prova acontece em Nevada e está sendo amplamente divulgada, com a categoria tentando de todas as formas conseguir sucesso com a terceira prova nos Estados Unidos.
No entanto, essa não é a primeira vez que a Fórmula 1 corre em Las Vegas, entre os anos de 1981 e 1982, a categoria organizou duas provas no Caesars Palace. O traçado foi montado no estacionamento do hotel e não era nada popular entre os pilotos. Na época, Bernie Ecclestone (ex-chefão da Fórmula 1) fez vários esforços para que a prova em Las Vegas prosseguisse.
O traçado não tinha nada que chamasse a atenção. Em uma superfície plana, não oferecia muitos desafios aos competidores e no fim acabou entrando para a lista de piores circuitos que a F1 já visitou. A prova era disputada em sentido anti-horário, tinha algumas áreas de escape, mas a área era um fator que complicava. Ainda entre as reclamações dos pilotos, era um traçado que não oferecia referências, pois era delimitado por blocos de concreto, a passagem para os competidores era extremamente monótona.
Outra vez em Las Vegas
Desde a confirmação do GP de Las Vegas em 2022, a Fórmula 1 tem realizado uma propaganda em massa para a realização da prova. Ao longo dos últimos anos, com a categoria sendo controlada por uma empresa norte-americana, a Liberty Media fez questão de cada vez mais adentrar nos Estados Unidos.
Esse é o motivo pela segunda vez na história da F1, a categoria realizar três provas nos Estados Unidos. Temos uma busca incessante e um apelo ainda maior para que o país aceite a Fórmula 1 que já é popular em outros lugares do mundo.
O GP dos Estados Unidos disputado em Austin já é uma prova tradicional, o circuito tem os seus desafios e o traçado acaba agradando. A Fórmula 1 também levou a categoria para Miami nestes dois últimos anos, mesmo os locais tentando rejeitar de várias maneiras a realização de uma prova por lá.
Em Las Vegas não foi diferente, pois mais que a atmosfera do local seja de festas, pompa, a cidade do pecado, onde as luzes de neon reinam, os moradores mostraram toda a sua aversão para a realização desta prova.
Enquanto a Fórmula 1 panfletava a corrida, os locais faziam uma campanha contra. Carros com adesivos sinalizando que a F1 não era bem-vinda, foram avistados e publicados nas redes sociais. A prova se tornou um transtorno, principalmente quando relatos começaram a surgir de árvores que foram cortadas, para a construção das arquibancadas – algo que desagradou a população massivamente.
this is so fucked up pic.twitter.com/iXLkVlYzth
— nat 🌸🇵🇸 (@hamiltocon) November 7, 2023
Segundo a imprensa local, um trabalhador morreu durante a construção de uma arquibancada temporária planejada para o GP de Las Vegas. A morte foi definida como um acidente de trabalho.
As polémicas são a janela desta prova, mas a Liberty precisou passar por cima de todas essas coisas e realmente panfletar a prova, pois a categoria está atuando como promotora do evento. Eles precisam de retorno, é necessário transformar a prova em um grande evento, mas em algo que ao menos seja vendida como uma corrida de sucesso.
Às vésperas do início das atividades em Las Vegas, Lewis Hamilton que a população local não deveria ser afetada negativamente pela chegada da categoria e aquilo não deveria ser transformado em um circo.
“Temos que garantir que as pessoas sejam atendidas. Não podemos ser um circo que mostra todo brilho e glamour e as pessoas são afetadas negativamente por isso, na minha opinião.”
Assim como aconteceu com o evento de Miami, o GP de Las Vegas não é uma prova para qualquer um. Os ingressos que foram disponibilizados tinham preços extremamente altos e pouco convidativos, conseguindo ser cerca de 50% mais caro que os preços praticados em Miami. Nas últimas semanas foram forçados a abaixar um pouco o valor dos ingressos para tentar aumentar as vendas. Com relação a acomodação, os preços praticados também eram extremamente fora do comum, a chegada da prova acabou provocando toda uma inflação em cadeia.
Também ocorreu uma polêmica com relação as sacadas de restaurante e clubes, a categoria estava exigindo que uma taxa fosse paga, além de que aquela visão fosse comercializada, com as pessoas pagando cerca de US$ 1.500 para poder ficar no local e assistir a prova. Se os comércios optassem por não realizar o pagamento, foi comentado que a visão poderia ser bloqueada.
Diferente da prova que aconteceu no Caesars Palace – que ao menos viu a disputa de dois títulos, a Fórmula 1 retorna aos Estados Unidos com tudo decidido. Max Verstappen e a Red Bull se consolidaram como os campeões de 2023, depois de uma temporada marcada pelo amplo domínio da Red Bull.
Antes de realizar essa prova em um circuito de rua em Las Vegas, a Fórmula 1 visitou outros 12 traçados nos Estado Unidos, foram eles: Sebring, Riverside, Watkins Glen, Phenix, Dalas, Detroit, Long Beach, Caesars Palace, Long Beach, Indianápolis (oval e misto), Austin e Miami.
Neste momento a Fórmula 1 acredita que está nas praças corretas para a divulgação da categoria.
O GP de Las Vegas fugirá do convencional, a prova será disputada em um sábado, em novembro, provavelmente no fim de semana que ocorre a Ação de Graças, desta forma a categoria pode pegar um público que estará em casa nesta data. O horário de realização das provas sempre priorizou os Europeus, mas desta vez estão pensando no público americano, com a realização de uma corrida noturna nos Estados Unidos.
Os desafios de Las Vegas e os pneus
A Fórmula 1 escolheu novembro para realizar o primeiro GP de Las Vegas, a prova acontece quando as temperaturas se tornam mais baixas a noite. Por ser uma corrida noturna, os competidores vão enfrentar uma dificuldade adicional para gerenciar os pneus.
A categoria normalmente corre em climas mais quentes, formando um calendário que seja possível enfrentar as melhores situações climáticas. Por mais que a prova aconteça em uma parte de deserto, em novembro em Nevadas as temperaturas começam a cair.
A classificação acontecerá a noite, assim como a corrida que tem largada prevista para as 22 h local no sábado. A categoria já enfrentou corridas frias, os próprios testes de pré-temporada quando eram realizados na Espanha, também ofereciam temperaturas mais baixas durante o inverno, no entanto a situação é incomum ao longo do calendário.
Os competidores vão enfrentar um circuito estreito, que já demanda muita atenção. Com a temperatura mais baixa, enquanto os pneus também não são aquecidos mais em 100°C pelas mantas térmicas, vai gerar uma dificuldade maior para os pilotos colocarem temperatura nos compostos.
Ao longo das sessões, mas principalmente na classificação e na corrida, isso é um problema. Na sessão que define o grid de largada, os pilotos precisam ser ágeis para colocar temperatura nos compostos e buscar a melhor volta, evitando erros para não comprometer os jogos de compostos disponíveis. Na corrida, o problema com a aderência é um ponto de atenção, principalmente no início da prova, quando acidentes podem acontecer pois os competidores estão próximos.
Em uma pista como essa, a presença do Safety Car é esperada, períodos de neutralização da prova também são complicados para os compostos e os pilotos que precisam controlar a temperatura dos pneus e podem simplesmente virar passageiros, gerando outro incidente.
A Pirelli optou por fornecer aos competidores a gama macia de pneus: C3 (faixa branca – duro), C4 (faixa amarela – médio) e C5 (faixa vermelha – macio), que pode fornecer mais aderência em um momento como esse e se torna ideal para trabalhos em circuitos de rua. No entanto, por conta das temperaturas, os pneus podem sofrer com a granulação, se os competidores não conseguirem trabalhar bem com a preparação dos pneus quando estão se deslocando ao traçado.
Parte do circuito foi reasfaltada, enquanto outra parte do traçado segue com o asfalto que os locais usam no dia a dia. Assim como Mônaco, será necessário liberar o traçado durante o dia para a circulação das pessoas e o tráfego da cidade, isso vai impactar diretamente na aderência do traçado, pois por mais que os competidores tentem emborrachar a pista durante a noite, ela sofrerá uma alteração quando a vida ‘voltar ao normal’.
A Fórmula 1 não terá o auxílio de outras categorias neste evento para colaborar na preparação do asfalto.
Nas últimas imagens que foram divulgadas, com a chegada dos jornalistas ao local, é a saída estreia do pit-lane que contorna a curva 1 do traçado. Os competidores após realizarem as suas trocas de pneus, vão precisar deixar a pista pelo lado esquerdo, permanecendo nesta linha até completara curva. No entanto, foi apontado que os competidores que estão no traçado regular, também buscaram o lado esquerdo, para concluir a curva, o que significa que os pilotos cruzariam o pit-lane.
Las Vegas Pit exit 👀😬 pic.twitter.com/Y2ZAEfUh6j
— Mercedes.F1Motorsports (@MF1motorsports) November 10, 2023
A dinâmica precisará ser observada ao longo das sessões regulares, mas é uma preocupação, principalmente quando os pilotos vão deixar a pista usando pneus que estarão frios.
O circuito conta com 17 curvas (11 para a esquerda e 6 para a direita) e é formado por 3 retas principais, além de duas zonas de DRS. A velocidade máxima estimada está na casa de 342 km/h. Foram avaliados cerca de 31 layouts diferentes para formar o traçado que receberá a Fórmula 1 neste fim de semana.
Essa é uma pista de alta velocidade, por conta das retas longas, mas é um traçado separado por curvas fechadas e sinuosas. Assim como Monza, é esperado que aproximadamente 78% da volta é realizada em velocidade plena. As curvas 4 e 14 devem ser os pontos mais favoráveis para as ultrapassagens.
Está será a primeira corrida da F1 em um sábado a noite, a última prova disputada em um sábado pela categoria aconteceu em 1985, durante o GP da África do Sul.
Assim como era esperado para Las Vegas, shows serão realizados, além de atividades diversas fora da pista. Essa será uma corrida onde se espera ver vários artistas. Na madrugada de quinta-feira a Fórmula 1 realizou uma cerimônia apresentando os pilotos em Las Vegas, além das equipes.
Diversos times optaram por pinturas especiais para a prova de Las Vegas.
Que texto incrível! Retratou de forma ampla os desafios e possibilidades da prova! Estou curiosa para saber no que esta etapa do calendário vai dar !