Como criança que cresceu nos anos 1990 e que teve contato com automobilismo, sou a pessoa que se encantou por Michael Schumacher. Acompanhando o esporte de forma mais enérgica também tomei mais ciência sobre quem foi o alemão e o que ele representou para a Fórmula 1.
A Netflix disponibilizou o documentário ‘Schumacher’, o texto de hoje é para fazer algumas considerações sobre o que achei do documentário, portanto nas próximas linhas vão conter spoilers.
Para quem já acompanha a Fórmula 1, certamente viu outros relatos sobre Schumacher ou consumiu corridas dele, nada que é mostrado no documentário é muito novo, mas é um compilado de alguns momentos que o alemão viveu. Um tributo para os fãs que vão reviver alguns momentos da sua carreira.
Onboards, falas do piloto, imagens de pista, uma combinação que sinto que foi uma tentativa de desmistificar aquele que muitos colocaram no pedestal. Era algo que Schumacher não queria, principalmente quando iniciou uma carreira de sucesso.
As imagens da sua vida pessoal, fotos com a família e momentos de descontração, são usadas para dar uma dimensão entre piloto e pessoa, algo que enriquece a narrativa e aí sim é novo. Schumacher mantinha a vida privada como algo reservado, portanto, é interessante ter alguns takes de momentos que foram especiais em sua vida. No entanto, essa sensação de ser reservado permanece, algo que o documentário aborda, mas não consegue quebrar.
Corinna Schumacher, esposa de Michael Schumacher é a responsável por conduzir boa parte do documentário, tentando levar para o espectador uma parcela daquilo que ela desfrutou compartilhando a vida com ele.
As pessoas escolhidas para dar os seus depoimentos sobre Schumacher também são importantes, como Mick Schumacher que relata como é não ter o pai 100% presente para poder dividir com ele o momento que está vivendo hoje no automobilismo. Como ele diz, aquela conversa de piloto para piloto, pois hoje ele compreende os momentos que o pai viveu em pista pois vive essa experiência.
Algumas lágrimas são facilmente arrancadas principalmente quando estamos chegando mais próximo do final do documentário, mas também se aproximamos do acidente.
Fiquei esperando que o depoimento de Sebastian Vettel fosse mais longo, principalmente pela troca que o piloto pode ter com Schumacher desde os seus primeiros passos no automobilismo. Vettel chegou na Fórmula 1 se tornando rapidamente uma estrela – tal qual foi Schumacher. Eles dividiram pista por um curto período, mas foi justamente quando Vettel estava no auge, além disso, senti que faltou imagens deles juntos, justamente para explicar melhor quem Schumacher foi na vida deste outro alemão.
Ao passo que faltou Vettel, senti que sobrou Mark Webber, as falas do australiano são interessantes, mas não faz muito sentido ter Webber, mas ignorar completamente Rubens Barrichello e Felipe Massa que foram companheiros do alemão.
Em termos de produção, acredito que faltou um pouco de cuidado da Netflix, mas é algo que já ocorre em Drive to Survive. Fazer uso de imagens que não se casam/ou são daquele momento (corridas de anos diferentes), assim como distorcer a linearidade saltando muito tempo à frente.
O documentário aborda o começo da sua carreira, a conquista do primeiro título mundial em 1994, seu começo na Ferrari, mas não consegue explorar a marca dos sete títulos, ou os números conquistados pelo alemão, que muitos só foram quebrados recentemente. A meu ver, naquele início conseguem mostrar o quão grande foi Ayrton Senna e sua importância na Fórmula 1, conseguem até mesmo mostrar o que o brasileiro representou para Schumacher, mas deixam um pouco a desejar quando tentam mostrar a mesma grandeza do alemão. Não dá aquela sensação do heptacampeonato e o que ele representou para outros pilotos.
Assim como senti falta de alguns companheiros de Schumacher, também senti que faltou a contextualização melhor de quem foram os seus adversários, afinal foram 19 temporadas na Fórmula 1, mas apenas três pela Mercedes.
Naquele momento em que abordam sobre a Ferrari ter pensado em um substituto para Schumacher, principalmente quando os títulos não apareceram rapidamente, me transportou totalmente para o momento que Sebastian Vettel viveu com o time italiano. Com Schumacher eles tiveram um pouco mais de paciência. Além disso, consigo ver traços da dedicação de Vettel, iguais aos do Schumacher, o piloto esforçado, que tenta conhecer o seu time e quer entregar o seu melhor.
O documentário conta com depoimentos de Damon Hill, David Coulthard e Mika Hakkinen, pilotos que fazem a balança do lado controverso do alemão – mas é uma marca que sentiria falta, pois é justamente o lado agressivo nas pistas e a tomada de algumas decisões que fazem uma parcela não gostar de Schumacher.
A minha avaliação, é que a produção é bem-feita, conseguimos visitar alguns momentos da vida de Schumacher, da infância a fase adulta. É aquele documentário que revive as lembranças dos fãs e homenageia Schumacher. Gostaria que tivesse mais, pois não tenho certeza se a nova geração de pessoas que estão acompanhando a Fórmula 1 agora, com este documentário, vão ter a sensação do quão grandioso ele foi nas pistas.
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Realmente a fala dos brasileiros fez falta. O documentário é muito bonito, embora ficado com a impressão que passou pano para Michael em várias situações.