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‘Lift and Coast’: a técnica que virou rotina nos rádios da Ferrari

Dependência crescente do “Lift and Coast” expõe desafios da Ferrari para lidar com o SF-25

Quem acompanha as comunicações entre pilotos e engenheiros já deve ter ouvido o famoso ‘Lift and Coast’ — ou simplesmente LiCo. No caso da Ferrari, essa expressão tem se tornado cada vez mais comum nos rádios, aparecendo em diversos momentos ao longo das corridas.

Traduzindo o ‘Lift and Coast’ (levantar-se e deslizar) é uma técnica muito usada para poupar combustível, resfriar o motor e gerenciar a temperatura dos freios. A Ferrari tem dependido muito neste ano, por conta das condições do carro, precisando levar em consideração até mesmo o desgaste da prancha – que gerou a desclassificação da dupla de pilotos na China.

O ‘LiCo’ é baseado no piloto tirar o pé do acelerador um pouco antes do ponto de frenagem e deixar o carro rolar com o seu impulso. Dessa forma, ele chega muito menos carregado e por reduzir um trecho de aceleração consegue poupar um pouco de combustível. Por volta a economia é pequena, mas ao longo de muitas voltas e curvas, compensa trabalhar dessa forma ou contornar um problema momentâneo.

Economizar o combustível não é a única forma para colocar o ‘LiCo’ em ação, os engenheiros também podem realizar a solicitação ou lembrar os pilotos dos planos, para poupar equipamento, por conta da confiabilidade e também do desempenho, dependendo de como a prova está se desenrolando.

No caso da economia de combustível, é importante lembrar que o carro deixa os boxes para a corrida, com o tanque cheio, programado para durar o número de voltas daquele evento, sem contar com o reabastecimento. Pilotos que ficam presos no tráfego, tem uma corrida completamente diferente daqueles que conseguem ar limpo e não precisam reduzir o tempo de volta para chegar em outro competidor. No início da prova, com o carro mais pesado, o desgaste é ainda maior e colabora para o superaquecimento dos freios.

O uso do “Lift and Coast” não é novidade para a Ferrari — nem para outras equipes do grid —, mas neste ano a técnica tem chamado mais atenção pelo número de vezes que os engenheiros de Charles Leclerc e Lewis Hamilton recorrem a ela durante as corridas.

Ainda em 2023, durante a Sprint no Autódromo de Interlagos, Leclerc e Carlos Sainz foram solicitados para fazer o ‘LiCo’ a fim de poupar os pneus. O resultado da corrida não foi incrível, o monegasco terminou em 5° enquanto o espanhol foi o 8°, mas ambos lutaram para gerenciar o desempenho do SF-23. Ao final da corrida de 100 km, Sainz até mencionou: “Foi, sem dúvidas, o maior ‘lift and coast’ que já fiz em toda a vida”.

O problema também chamou a atenção no GP do Bahrein de 2024, quando os freios dianteiros de Leclerc apresentaram superaquecimento. Constantemente o monegasco é alvo da necessidade do ‘LiCo’ para terminar o evento.

No caso de Lewis Hamilton, lidar com os freios da Ferrari se tornou ainda mais complicado. O competidor falou da dificuldade para se acostumar com os eles, enquanto a Brembo, fornecedora dos freios da equipe italiana, também precisou ajustar o heptacampeão mundial.

Em outro texto aqui no BP, já falamos do quanto a Ferrari subestimou a mudança de Hamilton ao deixar a Mercedes, por ele ser um piloto mais experiente. No entanto, o heptacampeão mundial passou os seus anos de Fórmula 1 guiando com motores da Mercedes e em uma plataforma diferente.

16 LECLERC Charles (mco), Scuderia Ferrari SF-25, action during the 2025 Formula 1 Singapore Grand Prix, 18th round of the 2025 FIA Formula One World Championship from October 3 to 5, 2025 on the Marina Bay Street Circuit, in Singapore – Photo Xavier Bonilla / DPPI

Com tudo isso, Hamilton está passando por um momento duro com a Ferrari, pois o time decidiu no último ano de regulamento apresentar um carro novo. Embora tentassem disfarçar e até negar os problemas no início da temporada, eles perceberam falhas no projeto ainda no começo do campeonato. Só o fato do carro não poder andar tão baixo como os equipamentos de outros times, roubou parte da performance do carro de efeito solo.

A Ferrari precisou recorrer a uma atualização do assoalho, introduzido na Áustria, além da suspensão traseira preparada para o GP da Bélgica, para permitir que o carro rodasse um pouco mais próximo do solo e evitasse o desgaste da prancha.

No entanto, o desempenho da equipe ficou extremamente limitado, enquanto as atualizações disponibilizadas para o SF-25 não cobriram de forma alguma os problemas do carro; sem contar os pacotes de atualização da Red Bull, conseguiram aquilo que a Ferrari não obteve.

Em Singapura, o chefe de equipe da Ferrari, Frédéric Vasseur explicou que a corrida foi baseada principalmente em evitar o superaquecimento dos freios, desde a primeira volta. Isso interferiu diretamente no ritmo de Leclerc.

“Da volta 8 em diante, tudo se resumia a administrar os freios. Acho que todo mundo precisa administrá-los até certo ponto em uma pista como esta. Mas acho que estávamos em pior situação que os outros. Resumindo, nossa corrida foi realmente difícil”, comentou o monegasco depois do término da prova em Marina Bay.

Apesar da boa largada de Leclerc no começo da prova, ele não conseguiu manter a 5ª posição, ultrapassado por Andrea Kimi Antonelli quando a corrida se aproximava do final, no giro 53. Três volta depois foi a vez do monegasco perder a posição para Hamilton, pois o competidor estava em outra estratégia. Por fim, Leclerc terminou a prova como 6° colocado e o britânico foi o 8°, já que Hamilton enfrentou uma falha dos freios e fez as últimas duas voltas da corrida cortando os limites de pista – sendo penalizado pelos comissários.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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