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HALO na Fórmula 1 em 2018 – Estou com elefantes atrás da orelha!

Como todos nós sabemos, exceto aqueles que estavam morando em Plutão nas últimas semanas, a proteção de cockpit, nomeada “Halo”, foi aprovada pela FIA para a temporada de 2018. Segue a notícia:

F1 – FIA torna dispositivo halo obrigatório para 2018

Eu, Bruno Shinosaki, não sou contra a adoção de uma proteção. Desde que seja algo muito bem elaborado, planejado, e provado que funciona. E não que está alí só por estar. Tudo isso eu explico melhor ao longo do texto.

Para ser bem sincero, eu du-vi-de-o-dó que veremos os carros da F1 em 2017 com o Halo. E a explicação é bem simples: Já vimos esta mesma conversa em 2016, sobre 2017. Inclusive, eu até estranhei não ver o Halo nas apresentações dos carros da F1 para a temporada de 2017.

Fórmula 1 opta pelo sistema “halo” de proteção ao cockpit para 2017

No começo de 2016, logo após os primeiros testes com o Halo, eu fiz um vlog em meu antigo canal do Fim Do Grid no YouTube (que não existe mais), e eu disse com todas as letras: É muito cedo para acreditar que veremos o Halo, ou qualquer outra proteção, nos carros em 2017. Estava na cara que queriam aprovar qualquer coisa para mostrar que estavam preocupadíssimos com a segurança dos pilotos. Ou seja, tudo feito nas coxas. Justamente o que eu mais temia, e temo até agora.

Fonte: @ScuderiaFerrari

Um Formula 1 é muito sensível a qualquer detrito que pega na pista, pressão dos pneus, dutos e asas. Eu acredito (aqui de fora, a quilômetros de distância) que qualquer proteção implantada no carro pode influenciar muita coisa, principalmente a aerodinâmica, no carro. Se fosse implantado um outro projeto, como o Aeroscreen (projeto da Red Bull), teríamos mais problemas. A chuva, por exemplo, já que não há um “limpador de para-brisa” externo, e nem interno. Mesmo sem a chuva, e se sujar de óleo na parte externa? O Halo parece ser a solução mais simples, em todos os aspectos. É o que tinha mais chances de ser aprovado, mas mesmo assim, será que dá tempo de as equipes colocarem o aparato em seus projetos? Me intriga que o Halo não teve nenhuma evolução desde o projeto do ano passado, nem vemos mais sendo testado. Foi aprovado por ser o melhor, ou o menos pior? Se for a segunda opção, não me surpreende a enorme rejeição por parte das equipes.


Mas, enfim… Agora que foi “aprovado”, e “com certeza” veremos o Halo na F1 em 2018. Vamos falar sobre isso.

Project Aeroscreen GP da Rússia 2016 Fonte: @RedBullRacing

Uma coisa que eu preciso comentar é o exagero do pessoal ao criticar a visão dos pilotos com o uso do Halo. Faça o seguinte, pegue um celular, ou algo do formato de um celular, e coloque na sua frente, a cerca de uns 30 ou 40cm de distância. Mas não com a tela, ou a parte traseira virada para os seus olhos, e sim de perfil. Agora olhe para um ponto mais à frente, por exemplo, o seu monitor. Há uma diferença entre você olhar para o ponto mais à frente, e olhar diretamente para o seu celular de perfil. Olhando para o ponto mais à frente, assim como os pilotos estarão olhando para a pista e não para o Halo, o celular não interfere tanto na sua visão. Pelo menos, não tanto como alguns estão exagerando, achando que vai se tornar uma parede na cara do piloto.

Vi circulando uma screenshot da visão do cockpit (acredito que de um jogo de F1 da Codemasters, ou um mod para rFactor) e pintaram o Halo para mostrar como o piloto não vai enxergar nada. Boa tentativa! Mas o problema é, não é assim que fica realmente pelos olhos humanos. O “sistema” dos olhos funciona de um jeito diferente. Os jogos e simuladores não vão conseguir emular o olho humano olhando para a pista e não para o Halo. Basta fazer a experiência que eu acabei de explicar, que desmistifica essa screenshot photoshopeada.

Mas mesmo que a explicação não tenha ficado clara, e você ainda queira acreditar nos exageros da Internet, veja este vídeo abaixo. O simulador é o Assetto Corsa, com um mod com o Halo. Mesmo não conseguindo emular os olhos humanos, sinceramente, não achei que atrapalha tanto. Mas, obviamente, que um vídeo na Internet e estar dentro de um carro de F1 de verdade em uma pista de verdade são coisas completamente diferentes.


Fonte: Canal “zodixh” no YouTube

A FIA errou em não explicar de forma clara o motivo da aprovação do Halo, em relação aos outros modelos apresentados. E nem do que ele deve proteger os pilotos. Vamos lembrar que após o acidente do Jules Bianchi, a conversa era um COCKPIT FECHADO. E, obviamente, nem o Halo e nem o Aeroscreen são cockpits fechados. Cockpit FECHADO é ooooooooutra coisa. São proteções, ou seja, podemos chamar de COCKPIT PROTEGIDO. Mas… protegido contra o quê? Uma mola (causa do acidente de Felipe Massa) pode passar pelo Halo. Um pedaço de asa (causa da morte de Justin Wilson) pode passar pelo Halo. No acidente de Jules Bianchi, o Halo não iria diminuir a força G em que o carro bateu no trator. Por isso que eu ainda acho que a aprovação desse Halo é algo feito totalmente nas coxas, pra mostrar serviço. Pelo menos até a FIA divulgar um relatório completo e muito bem explicado.

Duas coisas que me preocupam. Como vai ser para um piloto sair do carro em uma situação de alto risco, como incêndio. Na verdade, é até incomum ver essa cena. Mas a última vez não faz muito tempo. A Renault do Kevin Magnussen (ou James Magnussen?) pegou fogo no FP1 do Grande Prêmio da Malásia de 2016. Mas foi dentro do pit-lane, e com toda a equipe em volta. E se acontecer em outro ponto da pista, o piloto vai conseguir sair sem problemas, com o Halo no carro? E a outra coisa é quanto à construção e uso de cada equipe. É um aparato padrão, ou cada equipe deve construir o seu e usar como bem entender? Se for a segunda opção, a equipe pode escolher, por exemplo, o posicionamento? E as outras equipes, será que não vão reclamar que equipe tal está levando vantagem? E se for posicionado em um lugar que melhora a aerodinâmica, e deixa a segurança de lado? Huuuuummmm… A FIA tem que explicar muita coisa ainda.

Por fim, não estou irritado com a escolha pelo Halo, mas apenas com algumas dúvidas, já que a FIA não explica. Pode até ser que o Halo não salve vidas. NÃO, não estou torcendo para falhar. Afinal, é a vida dos pilotos que está em jogo. Mas, se não for bem-sucedido, é provável que o seu sucessor, ou seus sucessores, salvem vidas. Ou seja, ainda é um começo. Seria uma revolução muito grande já ter carros como o Red Bull X2010, com cockpit fechado de fato, como um caça. Uma revolução desse tipo, de um ano para o outro, poderia ser até muito perigoso.

Red Bull X2010 Prototype Full Reveal Fonte: Site oficial do Gran Turismo

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Rubens Gomes Passos Netto

Editor chefe do Boletim do Paddock, me interessei por automobilismo cedo e ao criar este site meu compromisso foi abordar diversas categorias, resgatando a visão nerd que tanto gosto. Como amante de podcasts e audiolivros, passei a comandar o BPCast desde 2017, dando uma visão diferente e não ficando na superfície dos acontecimentos no mundo da velocidade. Nas horas vagas gosto de assistir a filmes e séries de ação, ficção científica e comédia. Atuando como advogado, também gosto de fazer análises e me aprofundar na parte técnica.

Um Comentário

  1. Minha opinião, o Halo será bem-vindo após todas as equipes testarem exaustivamente e quem rebater por estética o uso do Halo, não deve conhecer a história da F1, quem rebater por falta de maiores informações sobre a funcionalidade, sinta-se abraçado e beberei por sua felicidade!
    O modelo foi aprovado e deve evoluir como os carros, 2018 é bem provável que seja um circo de horrrores, porém com o tempo, o Halo será incorporado ao design do carro e será menos horroroso!
    Excelente post do Bruno, primeiro texto coerente e correto, vimos nos últimos dias muitas idiotices ditas por blogueiros e youtubers como também vimos muita coisa boa e estas merecem ser compartilhadas!

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