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Estratégias em Miami – Ferrari tinha alguma alternativa no Virtual Safety Car?

Aquela prova onde muita expectativa foi depositada, mas ficou devendo. A Fórmula 1 investiu de forma pesada no GP de Miami, vários convidados VIPs, diversas atrações para quem compareceu. A única desvantagem é o que o circuito não favoreceu uma prova competitiva. O traçado é bem veloz, mas não existem muitos pontos de ultrapassagem. A ativação do DRS até intensificou algumas batalhas (com três zonas), mas ele foi muito mal posicionado na reta após a curva 16, por liberar a ativação muito tarde, quem estava atrás não tinha como chegar de forma competitiva no adversário.

A saída do pit-lane de Miami também não colaborou muito, por vezes durante a prova vimos os pilotos cumprindo as suas paradas obrigatórias, mas retornando ao traçado no meio de duelo. Com os pneus mais frios, o competidor não sabia se defendia ou se tentava atacar para já garantir a posição.

A Pirelli apostou nos pneus intermediários da gama, trabalhando em uma estratégia mais conservadora. Vários pilotos começaram a prova com os pneus médios, para contar com um pouco mais de aderência. A pista perdeu o emborrachamento adquirido na sexta e sábado – depois que a chuva caiu na noite de sábado. No domingo antes da prova, um pouco de chuva voltou a cair pelo circuito e as temperaturas oscilaram por conta da instabilidade climática.

A Pirelli apostava na realização de duas paradas em Miami, principalmente após a chuva que lavou o circuito e tirou o seu emborrachamento. Os pneus usados na largada tiveram um desgaste mais elevado, pois estavam ‘preparando’ a pista mais uma vez – Foto: reprodução
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A fornecedora de pneus apostava em uma prova com duas paradas, mas poucos pilotos optaram por ela – a segunda troca foi mais utilizada por aqueles que rapidamente se prepararam para agir, quando Virtual Safety Car foi ativado depois da batida de Pierre Gasly com Lando Norris.

Os pneus da largada consumiram de forma mais rápida, pois estavam cumprindo o papel de emborrachar a pista novamente. O traçado de Miami se mostrou muito traiçoeiro, principalmente quando os pilotos deixavam o trilho emborrachado, para pegar a parte mais verde da pista.

Sem um Safety Car e com a proximidade do grid, para alguns pilotos não compensava realizar uma segunda parada. Substituir os pneus significava voltar no tráfego e com poucas chances de ultrapassar, o competidor do desgastaria os compostos, sem nenhuma chance de recuperar as posições perdidas.

Os pneus médios desgastaram rapidamente em alguns carros, além disso, apenas os pilotos da Red Bull e Haas reservaram um jogo de pneus médios novos para usar durante a corrida (além daquele composto que foi usado na largada); enquanto a dupla da Aston Martin foi a única que guardou um conjunto de médios usados para usar durante a corrida. Grande parte dos pilotos no grid que optasse por uma segunda parada teria que usar mais um jogo de pneus duros e lutar com o aquecimento desses compostos ou instalar os pneus macios (pouco duráveis) e correr o risco de ficar sem goma até o final.

Pós-corrida, muito se discutiu sobre a estratégia da Ferrari. A Red Bull aproveitou o Virtual Safety Car para conduzir Sergio Pérez mais uma vez aos boxes e instalar em seu carro aquele segundo jogo de pneus médios novos. A Ferrari não respondeu essa parada ou buscou essa reação imediata quando o VSC foi ativo, pois o seu carro não operou bem com os pneus médios no começo da prova e eles também não tinham mais um pneu médio disponível além daquele que foi usado na largada. Instalar os pneus macios poderia ser uma opção, mas tanto Charles Leclerc como Calos Sainz só poderiam contar com pneus macios usados. A outra opção da dupla da Ferrari era recorrer aos pneus duros.

Hipótese: após a relargada era esperado que o monegasco atacasse Verstappen, mas se estivesse com esses pneus macios, provavelmente seria um embate de pneus duros (do Max) contra os macios do F1-75 de Leclerc. A Red Bull está gerindo bem os pneus, evitando o desgaste, desta forma, mesmo que Leclerc recuperasse a liderança, poderia perder ela até o final da prova, pois os carros da Ferrari estavam consumindo muito os pneus. Leclerc além de prestar atenção no gerenciamento dos pneus pós-relargada, provavelmente lidaria com voltas alucinantes, precisando se defender de Verstappen que contaria com o uso do DRS em três partes do circuito.
A Ferrari poderia no máximo instalar o seu segundo jogo de pneus duros, mas certamente enfrentaria um problema na relargada – lidando com competidores que estavam com pneus médios que são mais aderentes e atingem a temperatura ideal mais rápida. Resumindo, a Ferrari ficou completamente vendida depois que perdeu a liderança para a Red Bull.

Carlos Sainz fez o final da prova se defendendo dos ataques de Pérez, o mexicano que estava com os pneus médios e foi realmente para cima, mas cometeu um erro e teve que se contentar com o quarto lugar.

Na Mercedes vimos mais um ‘erro’ acontecendo. George Russell que não se classificou bem começou a prova com os pneus duros, portanto a equipe adiou ao máximo a sua parada obrigatória. Russell falou pelo rádio que estava ‘aguardando’ uma possível neutralização da prova que poderia acontecer antes do seu final. Quase como um vidente, o VSC ativo, o time alemão viu a melhor oportunidade para trocar os pneus de Russell. O gap para Esteban Ocon da Alpine era grande e com todos os carros reduzindo a velocidade, a equipe alemã poderia ter optado até mesmo por uma parada dupla.

A Mercedes não parou Hamilton e esperou o Safety Car entrar na pista para saber se o piloto gostaria de parar uma próxima vez e qual pneu deveriam colocar. Hamilton ficou irritado com a equipe, pois obviamente o seu estrategista tinha mais dados que o piloto. A Mercedes voltou a colocar Hamilton e seu companheiro de equipe em uma saia justa, pois com os pneus médios novos Russell atacou Hamilton e até viu uma oportunidade para brigar por uma posição melhor.

Neste duelo interno, Bottas cometeu um erro e assim Russell e Hamilton passaram o piloto da Alfa Romeo. Essa é a terceira vez no ano que uma estratégia/sorte favorecem Russell, enquanto só resta ao heptacampeão mundial encerrar a prova na posição que o deixaram em pista.

A prova foi realizada sob uma cautela impressionante, sem incidentes na corrida e com apenas uma aparição do Safety Car.

Os pneus da rodada

As melhores voltas que foram completadas com cada um dos compostos do fim de semana – Foto: reprodução Pirelli

C2 (duro – faixa branca): os pneus duros foram incluídos na estratégia pois ofereciam uma durabilidade maior. A Pirelli acreditava que os times apostariam em duas paradas, mas os compostos duros foram fundamentais para as equipes que não quiseram arriscar em uma segunda parada.

Com as temperaturas altas, o problema com o aquecimento dos compostos ficou um pouco mais de lado neste GP. Para a Ferrari, foi o composto que melhor operou em seu carro durante a prova.

C3 (médio – faixa amarela): grande parte do pelotão optou pelos pneus médios para a largada, exceto cinco competidores (Russell, Ocon, Stroll, Latifi e Vettel) optaram pelos pneus duros para a largada.

Em alguns carros esse composto acabou rapidamente, desta forma alguns pilotos foram perdendo o ponto de freada, principalmente quando eles estavam chegando próximo do final da sua vida útil. Alguns pilotos conseguiram ir um pouco além, alongando o seu stint antes de trabalhar com os pneus duros.

C4 (macio – faixa vermelha): os times estão tendo uma resistência para introduzir os pneus macios em suas estratégias, desta forma ninguém do grid optou por esses pneus na largada, pois seria necessário realizar uma parada muito cedo. Vemos que as equipes têm uma certa resistência a adicionar paradas em suas estratégias, pois é o momento que tudo pode dar errado. Ocon não viu necessidade alguma de trabalhar com os pneus médios, pois ao largar com os compostos duros, instalou os pneus macios para a fase final da prova.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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