Mulheres e automobilismo são temas que andam lado a lado. Ao longo da História, é notório a presença das mulheres e a importância delas para o esporte a motor. Pilotos como Danica Patrick, Jamie Chadwick e Bruna Tomaselli, por exemplo, fizeram e estão escrevendo uma página importante para o universo das corridas.
Elas no Endurance
No ano passado, duas equipes femininas participaram das 24 Horas de Le Mans. Na equipe Richard Mille Racing Team, o Oreca #50 na categoria LMP2 foi guiado pela Tatiana Calderón, pilota de desenvolvimento da Alfa Romeo na Fórmula 1, Sophia Flörsch pilota na Fórmula 3 e Beitske Visser que disputa atualmente a W Series. Na classe GTE AM, com a equipe Iron Lynx e a Ferrari 488 GTR Evo #85, tivemos Manuela Gostner que já participou da Le Mans Series, assim como Michelle Gatting, Rahel Frey, e o time também contou a francesa Deborah Mayer, que desenvolveu o projeto Team Kessel.
Ainda no ano passado, as mulheres marcaram presença na edição das 24 Horas de Daytona. A Gear Racing, que já tinha Katherine Legge e Christina Nielsen em seu grid para a temporada completa, na ocasião anunciou também Bia Figueiredo e Tatiana Calderón para a prova.
Fazendo História
No dia 25 de Janeiro, durante o aniversário da cidade de São Paulo, as 1000 Milhas do Brasil irão receber uma equipe composta somente por mulheres. As pilotos Renata Camargo e Thaline Chicoski (Copa HB20), Fernanda Aniceto (Formula 1600) e Lu Klai (Hot Classics), irão compor o time. A engenheira Erika Prado, formada pela Porsche Cup, vai fazer parte do backstage.
O Projeto Automusas, que visa alavancar o cenário feminino no mundo automotivo vai entrar como um forte apoio. O nome estará estampado na lataria do carro. Nascido em 2020, se popularizou rapidamente e o Boletim do Paddock conversou com a fotógrafa carioca fluminense Sandra Moreira (32), portadora da ideia, para entender um pouco melhor como ele funciona. Confira a conversa na íntegra:
BOLETIM DO PADDOCK: Sandra, como surgiu a ideia do projeto?
SANDRA MOREIRA: A ideia do AutoMusas começou diante um debate em um grupo só de meninas que eu fazia parte. Na época era do Volta Rápida. Quando eu entrei na fotografia automotiva eu ainda estava tentando me encontrar. O que eu queria fotografar? Projetos? Empresas automotivas. Na época eu conversei com o Yuri Ravitz, editor-chefe do Volta Rápida, e ele me perguntou aonde eu queria chegar e o que eu queria fazer. Foi quando eu entrei no grupo VR Vip Girls, que era das meninas. Lá tinha a Ludmila Duarte, que era Do Salto Pro Asfalta, a Paula Mascari, entre outras meninas. O Yuri perguntou quais pautas queríamos no VR. Como eu estava sem graça, chamei ele no privado e pedi pro “Ravita” falar sobre as mulheres no mundo automotivo, porque eu vejo pouco conteúdo sobre. Foi quando ele me pediu para eu abordar o assunto com todas. E eu falei e isso gerou um debate sobre preconceito, o que elas passavam, que homens achavam que elas estavam ali por interesse.
A gente nasceu numa cultura onde acham que carro é só pra homem. E essa cultura está aí até hoje e muitos não acompanharam a evolução. Tanto homem quanto mulher gostam e trabalham com esse setor automotivo. Foi quando eu tive um estalo e quis começar a mostrar essas mulheres no mundo. Então eu esbarrei com meninas que gostam de carros rebaixados, mecânicas, que trabalham com detailing. Encontrei com pessoas como Priscila Breves, entre outras mulheres, tanto no Rio quanto em São Paulo. Então eu comecei a trabalhar no meu instagram, que é meu forte, e foi evoluindo. Fui curtindo a ideia. E no dia 3 de Maio de 2020, eu resolvi de uma vez por todas criar o AutoMusas e compartilhei textos e fotos e tento incentivar a mulherada para dentro do mundo automotivo.
BP: O seu projeto cresceu muito em questão de meses. Como você vê isso?
SANDRA: Sim. O projeto cresceu um absurdo em 7 meses. Eu não imaginava que ele teria esse crescimento todo. Estamos descobrindo mais mulheres nesse mundo e não imaginamos quantas mulheres estão nesse meio e querem fazer um projeto, querem fazer um curso, e ainda tem receio de serem julgadas. Existe isso. Pelo o que eu já conversei com as meninas, ouvi coisas absurdas. Eu já vi comentários machistas em comentários de mulheres que estão compondo este cenário feminino. Então inspirar essas moças e ler mensagens tanto de homens quanto de mulheres dizendo que eu estou tendo uma atitude bonita.
BP: Como você enxerga o futuro das mulheres no automobilismo?
SANDRA: Eu vejo mulheres determinadas e inspiradas. Mulheres mais fortes e que ganham coisas na raça. Eu acredito que ser apaixonado por carros já vem no sangue. Eu digo por mim. Quando eu era criança eu amava ver as corridas do Ayrton Senna. Eu via sempre com meu pai. Claro que depois que eu cresci eu fui para outros lados, mas eu acredito que se tivesse alguém que alimentasse verdadeiramente meu gosto, eu estaria nisso há mais tempo. Porém, de todos esses acontecidos, acabou que eu só fui adentrar mesmo agora, depois de mais velha. O que eu vejo, hoje em dia, são mulheres que lutam o tempo todo por um espaço. E elas conseguem fazer mais que muitos homens. Elas conseguem crescer e fazem com amor. Hoje eu vejo um crescimento enorme e mais fortes. Estamos quebrando um tabu importante. O futuro da mulher é algo que vai crescer muito ainda.
BP: Você estará nas 1000 Milhas do Brasil apoiando uma equipe 100% feminina. Conte-nos sobre.
SANDRA: Cara, o projeto está saindo do interior, porque ele nasceu na cidade de Barra Mansa (RJ),aí ele foi para a capital do Rio, e agora está indo para São Paulo, onde o cenário automobilístico é muito mais forte. Estamos falando de 1000 Milhas, uma equipe feminina e Interlagos. Esse autódromo é muito forte pra mim. Eu sempre quis conhecer Interlagos e eu só via pela televisão. É um avanço muito grande você sair de onde você está e ir para outra cidade representando uma ideia. O AutoMusas tem gente de todo o Brasil. É um avanço enorme. Estar representando essas mulheres em Interlagos. Passa uma sensação de confiança e fidelidade ao público que compõe o projeto.
BP: Qual mensagem você pretende passar para o público?
SANDRA: A mensagem é simples. Você pode estar aonde você quiser estar. E isso vale para o mundo automotivo. Como eu disse, ainda é uma parte um pouco limitada. Mesmo tendo grandes exemplos ainda tem um pouco de preconceito. Então a mensagem que eu quero passar é para elas terem garra, força, foco e determinação para chegar aonde elas quiserem chegar. Ninguém para elas. Então é sempre se mostrar demonstrando respeito e nosso real interesse é seguir conquistando o nosso espaço.
BP: Quais são os seus planos para o AutoMusas?
SANDRA: Olha, se eu for contar tudo, vamos ficar aqui até amanhã. Mas o meu maior plano é a expansão. Quero estar em mais estados, eventos, encontros e empresas. Eu quero ser uma incentivadora nesse mundo automotivo. Quero ser conhecida como aquela mulher que tomou essa iniciativa e que conta essas histórias. Eu falo que o AutoMusas não é um projeto de uma pessoa só. Tem várias pessoas por trás disso. É aquela velha história que “uma andorinha só não faz verão”. O que dá força são as meninas que estão apoiando o projeto todos os dias. Isso que é legal. Quando as pessoas se perguntarem o que tem de tão especial no projeto, a resposta é que o que há de tão especial é o fato de exaltarmos essas mulheres. E unidas vamos criando mais metas e mais planos.