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Vergne: “Perder é um sentimento que eu odeio mais do que qualquer coisa. É muita tortura mental às vezes”

Jean-Eric Vergne, piloto da DS Techeetah e campeão da Fórmula E nas temporadas 4 e 5, teve um difícil na 6ª temporada da categoria. A busca pelo terceiro título revela um desafio ainda mais complicado que ele mesmo classifica como uma luta interna.

A temporada 2019/20 da Fórmula E foi um desafio à parte para Vergne. O bicampeão era certamente um dos nomes mais fortes antes do início da campanha, mas uma sequência de resultados ruins o tirou da briga pelo campeonato e ainda o deixou totalmente à sombra do companheiro de equipe que havia acabado de chegar. 

O francês falou sobre o assunto numa entrevista para o FIAFormulaE.com.

A ‘luta interna’

A segunda metade da temporada foi “horrível” para Vergne, suas chances de recuperação foram minadas e ele terminou o campeonato no 3º lugar, um ponto atrás de Stoffel Vandoorne da Mercedes.

Vergne aproveitou o período pós-temporada para refletir, reconstruir sua confiança e se preparar para voltar mais forte para sua sétima campanha, que começa em Santiago, em 2021.

Como visto na temporada 6, sua maior ameaça deve vir de dentro de sua própria equipe, na forma de Antonio Félix da Costa, por isso, o bicampeão terá que trabalhar sua determinação para recuperar o primeiro lugar.

“Acredito nas minhas chances”, diz Vergne. “Tenho muita confiança na minha equipe. Eles provaram nos últimos anos que eram o melhor. Além disso, já fui campeão duas vezes antes”.

“Você sempre duvida de si mesmo, mas eu acho que é assim em todos os esportes. Então, essa é uma luta interna com a que você sempre tem que lutar. Vir para as corridas sem saber se você vai ser rápido o suficiente, não saber se você pode vencer e ter a expectativa de outras pessoas nunca é fácil”, admite o francês.

Jean-Eric Vergne na DS Techeetah – Foto: Fórmula E

Apesar do golpe dado por seu próprio baixo desempenho, bem como a excelente sequência de resultados de seu companheiro de equipe ao longo da final da temporada em Berlim, Vergne deixou a derrota para trás durante a off-season, pelo menos temporariamente. 

E como pilotos de corrida se distraem pilotando em outras categorias, um dos meios utilizados por Vergne foi participar das 24 Horas de Le Mans.

“No papel, nós éramos o carro a ser batido”, ele começa. “Mas nós não ganhamos… Bem, porque é Le Mans! Quero dizer, é como a ex-namorada que você estava loucamente apaixonado e todo ano ela só te dá um tapa na cara… Então, às vezes você se diverte muito, você vence e imediatamente se apaixona de novo. De certa forma, Le Mans é a ex que você nunca superou!”

Testando o progresso

A distração temporária, que rendeu o 11º lugar na famosa prova de resistência, durou pouco, pois a DS TECHEETAH não perdeu tempo e já começou seu programa intensivo de testes para o desafio 2020/21 antes dos testes oficiais de pré-temporada em Valência, que virão no final do mês. Vergne está otimista com que viu até agora.

“Testamos o novo carro e o novo powertrain, o que é bom”, disse Vergne. “Eu acho que o trabalho está valendo a pena e que nós temos uma boa atualização. Mas o powertrain não faz tudo. Você vê a Mercedes, eles voltaram muito fortes no final do ano, mas eles tinham o mesmo powertrain do início da temporada”.

“Então, eu acho que é realmente meio a meio. Metade é sobre ter um bom powertrain, mas a outra metade é que você precisa de uma equipe fantástica de engenheiros e pilotos”, afirmou o piloto.

Jean-Eric Vergne da DS Techeetah – Foto: Fórmula E

Por falar em equipe fantástica, Vergne agora tem um novo engenheiro, Thibault Arnal. “Thibault foi meu engenheiro de performance no ano passado. Ele também foi o cara no rádio nas duas últimas corridas em Berlim. Meu engenheiro anterior agora tem um papel diferente que será anunciado em breve”, disse Vergne.

Apesar dos passos que estão sendo feitos, a equipe tomou a decisão de começar a temporada com seu powertrain da temporada 6 e planos de lançar sua nova configuração ao longo da competição.

Vergne: ‘Não quero sentir isso de novo’

O título de campeão mundial está em jogo e com tantos preparativos à vista, Vergne refresca seu estado mental enquanto espera pela nova temporada e faz ainda um balanço do seu desempenho mais recente, que ele garante que não deseja reviver.

“Não foi um bom ano”, disse Vergne. “Eu acho que quando seu nível de confiança está baixo, pode ser muito difícil se recuperar, especialmente quando você tem seu companheiro de equipe em um nível tão alto de confiança, vendo você não marcar nenhum ponto enquanto ele faz corridas muito boas”.

“Isso elevou [da Costa] a um lugar onde parecia quase impossível vencê-lo porque ele estava em um momento muito bom, e eu não estava no meu melhor depois de uma série de corridas ruins. Não foi um bom ano para mim, e ainda estou muito infeliz com o resultado da minha temporada.”

Ao final da campanha, a diferença entre da Costa e Vergne foi de 72 pontos, com o português conquistando o campeonato com um total de 158 no momento em que a bandeira quadriculada final foi agitada em Tempelhof.

Vergne Foto: Sam Bloxham / LAT Images

Antes de sua mudança para a DS TECHEETAH, a melhor classificação de Félix da Costa havia sido a sexta colocação na temporada 2018/19, com 99 pontos [contra 136 de Vergne]. Poucos esperavam que Da Costa acabasse o ano com a margem que teve, especialmente dado o pedigree de Vergne e com o parisiense contando com as mesmas ferramentas à sua disposição.

“No final do dia, somos todos esportistas e quando alguém te vence, ele fez um trabalho melhor do que você”, acrescenta Vergne. “Eu respeito Antonio. Eu acho que ele é um companheiro de equipe fantástico, mas isso não muda o fato de que internamente eu estou, é claro, fervendo. Estou muito zangado comigo mesmo e com a temporada que foi jogada fora. Isso não tem nada a ver com ele, só comigo. Eu só não quero sentir isso de novo”.

Claro, a 7ª temporada traz novas oportunidades para Vergne. Enfrentando uma concorrência acirrada dentro da equipe, e de um grid cada vez mais competitivo, o bicampeão precisará estar mais focado do que nunca para chegar ao tão almejado terceiro título de campeão.

“Estou com muita fome para a próxima temporada. Estou motivado porque não quero que isso aconteça de novo. Porque ganhar é um sentimento agradável, mas perder é o sentimento que eu odeio mais do que qualquer coisa”. 

Ele finaliza: “Pensando em si mesmo e no que você pode fazer ou não. É muita tortura mental às vezes. Mas eu acredito fortemente, e no dia em que eu achar que não posso mais ganhar, eu vou fazer outra coisa”.

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