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Venda de carros usados no Brasil vira termômetro da economia brasileira

Por que o mercado de carros usados revela o verdadeiro estado da economia brasileira

Nos últimos anos, a dinâmica do mercado automotivo mudou radicalmente, e a performance do setor de usados passou a refletir, com precisão quase cirúrgica, o humor econômico do brasileiro.

Em meio à alta dos juros, crédito restrito e oscilações na renda, muitos consumidores têm buscado alternativas mais acessíveis, principalmente modelos seminovos e populares, como ocorre na compra de um HB20, que se tornou um exemplo claro do comportamento atual do consumidor em 2024 e 2025.

Historicamente, os carros usados sempre tiveram peso relevante no país, mas especialistas apontam que, agora, eles se consolidaram como um verdadeiro termômetro da economia brasileira.

Quando o poder de compra diminui, o mercado de usados acelera. Quando a confiança melhora, os modelos zero-km voltam a ganhar força. Os números recentes confirmam essa correlação.

O mercado de usados supera o zero-km, e o motivo é econômico

Segundo dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), o Brasil vende cerca de 3 a 4 carros usados para cada 0km.

Em 2023, por exemplo, foram mais de 9,5 milhões de veículos usados comercializados, contra aproximadamente 2,2 milhões de novos.

Esse padrão se manteve ao longo de 2024 e se intensificou com a manutenção dos juros altos.

A explicação é simples:

1. Crédito caro e restrições bancárias

O financiamento de veículos novos costuma exigir entradas mais altas e apresenta juros maiores. De acordo com dados do Banco Central, a taxa média de financiamento de veículos girou entre 1,6% e 2,1% ao mês em 2024. Com isso, muitos consumidores são empurrados para o mercado de usados, onde os valores são mais baixos e o financiamento se torna menos pesado.

2. Aumento do preço dos carros novos

Estudos da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) mostram que o preço médio do carro novo no Brasil subiu mais de 50% nos últimos cinco anos, resultado da inflação acumulada, do câmbio desfavorável e da modernização obrigatória dos veículos (como ADAS, ESC, 6 airbags, entre outros).

Com isso, modelos que antes eram considerados populares, como o próprio Hyundai HB20, Chevrolet Onix, Fiat Argo e Renault Kwid, hoje estão mais caros. Isso aumenta ainda mais a atratividade dos seminovos.

3. Depreciação menor em modelos usados

No primeiro ano, um carro zero-km pode depreciar entre 15% e 20%, enquanto um modelo com 2 ou 3 anos costuma ter depreciação anual inferior a 10%.

Por isso, o consumidor mais racional enxerga nos usados um melhor custo-benefício, especialmente modelos com manutenção barata, ampla oferta de peças e forte demanda, como ocorre na compra de um HB20 usado.

Carros usados como indicador no padrão de compra dos consumidores

A relação entre economia e mercado automotivo sempre existiu, mas hoje ela é mais explícita.

Quando a economia aperta, o usado dispara

Durante períodos de inflação alta, desemprego crescente ou crédito limitado, as vendas de usados aumentam. Isso foi observado:

  • na recessão de 2015–2016;
  • na pandemia em 2020–2021;
  • na fase pós-pandemia com juros acima de 13% ao ano.

Em todos esses momentos, o mercado de seminovos funcionou como uma válvula de escape para o consumidor, que desistiu do zero-km para evitar dívidas longas e pesadas.

Quando há melhora econômica, os novos voltam a receber atenção

Conforme mostram análises do IBGE e do FGV-Ibre, a confiança do consumidor voltou a crescer em 2024, o que melhorou a intenção de compra de bens duráveis.

Ainda assim, o impacto é gradual: primeiro crescem as buscas por seminovos premium; só depois a intenção migra para carros zero-km.

Essa transição é considerada por economistas um dos melhores indicativos do início de um ciclo de recuperação econômica.

O papel dos carros populares na leitura econômica

Entre os modelos usados, os populares têm papel ainda mais importante como termômetro econômico.

Eles mostram a realidade de grande parte da população, revelando o impacto direto da renda, do crédito e até da confiança no emprego.

Modelos como HB20, Onix, Gol, Argo e Sandero representam cerca de 60% das vendas de usados leves, segundo a Fenauto.

Por isso:

  • Quando esses modelos ficam mais caros e continuam vendendo bem, significa que o brasileiro está priorizando o custo de manutenção e o consumo eficiente;
  • Quando a busca por modelos mais novos (2021+) cresce, isso indica melhora da renda e da disposição para assumir financiamentos;
  • Quando o consumidor migra para veículos mais antigos (2010–2015), é sinal claro de aperto financeiro.

Esse movimento é monitorado de perto por consultorias automotivas e bancos.

A força dos seminovos de 1 a 3 anos

Outro dado importante reforça o uso desse segmento como indicador da economia: a demanda por carros entre 1 e 3 anos de uso.

A KBB Brasil mostra que essa faixa teve um crescimento médio de 18% nas buscas em 2024, pois reúne três fatores muito valorizados:

  • Preço mais baixo que o zero-km;
  • Garantia de fábrica ainda vigente em alguns casos;
  • Menor probabilidade de problemas mecânicos.

É exatamente nessa faixa que se enquadram muitos modelos como o HB20, Onix e Argo seminovos, por isso, o volume de buscas na compra de um HB20 usado indica diretamente o interesse do consumidor em conciliar economia e segurança.

Usados também movimentam crédito e serviços

O setor de usados não afeta apenas as concessionárias e lojas. Ele é responsável por movimentar:

  • Seguradoras,
  • Bancos e financeiras,
  • Oficinas mecânicas e autopeças,
  • Despachantes e cartórios,
  • Plataformas de classificados automotivos.

Estimativas da Serasa Experian mostram que cerca de 70% das verificações de histórico veicular (como consulta de sinistros, leilões e restrições) são feitas em carros usados, reforçando a importância econômica do segmento.

Conclusão

A venda de carros usados no Brasil deixou de ser apenas uma alternativa mais barata e passou a funcionar como um indicador fiel da economia.

Quando o consumidor perde poder de compra, o mercado aquece; quando a confiança melhora, o movimento migra para modelos mais novos.

Em todos os cenários, o setor de seminovos reflete, quase de forma imediata, o comportamento do brasileiro diante do crédito, da renda e das expectativas para o futuro.

E modelos populares, como o Hyundai HB20, mostram essa relação de forma ainda mais clara: o aumento das buscas por usados revela tanto o foco no custo-benefício quanto a necessidade de decisões financeiras mais cautelosas em tempos de instabilidade.

Assim, observar o mercado de usados no Brasil é, em muitos sentidos, observar o próprio pulso da economia nacional.


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