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Streaming da Fórmula 1, mitos e verdades sobre a sua vinda ao Brasil

Nesta última terça feira (27/02) a Fórmula 1 anunciou a sua plataforma de streaming que será utilizada a partir desta temporada, no entanto o Brasil mesmo sendo sede de uma das etapas do calendário da competição está fora da lista de países que vão ter o conteúdo disponível.

Em algumas matérias pela internet é fácil encontrar suposições que levaram o Brasil a ser excluído, como por exemplo a não segurança por nós darmos sempre o “jeitinho brasileiro” de burlar o sistema é conseguir acesso ou a famosa culpa da Globo, já que a emissora é detentora dos direitos de transmissão da categoria no país, mas ainda na base da suposição eu convido vocês leitores a pensar em outros motivos para a plataforma não criar raízes nesse momento ainda nas nossas terras brasileiras.

Primeiramente o Brasil não é um país completamente desenvolvimento e nem sempre a condição de uma grande capital pode ser aplicada para todo o país, até porque ele tem uma grande extensão territorial e nem sempre a realidade das grandes cidades é a mesma que encontramos a dois km longe da capital, quem dirá nos grandes centros rurais.

Se para nós assistir Netflix e não consumir o conteúdo da TV aberta é uma realidade, não precisamos olhar muito longe, mas por exemplo meus pais e meus tios não fazem ideia do que é isso e para o que ela serve e o pouco acesso que eles têm da internet vem pelo smartphone, mas ficam limitado a pesquisas esporádicas e sim ao Facebook.

Ok, vai ter alguém que vai me dizer, mas os ”meus pais” fazem uso dessas plataformas. Ótimo, mas eles não são a realidade do país. Nossa cultura é ainda de consumir o conteúdo da TV aberta e muitos não tem a televisão por assinatura, basta olhar a dificuldade que foi quando precisamos migrar do sinal analógico para o digital a campanha ficou no ar por muito tempo e mesmo assim algumas pessoas se quer sabiam da mudança do sinal. Outras tantas ainda com os seus aparelhos antigos precisaram adquirir um conversor porque não tinham a opção de trocar os seus aparelhos para algo mais moderno, alguns também não enxergavam está necessidade, mas isso não quer dizer que devemos limitar o acesso a informação deles.

Uma plataforma de streaming ainda é muito setorizada, pois não é possível assistir todo o conteúdo que desejamos em uma plataforma só, a Netflix pode até ter as nossas séries favoritas, mas os fãs de GOT precisam da HBO para assistir ela e alguns pagam a plataforma apenas para ter acesso a série, porque também não tem a TV a cabo. No entanto a Netflix não tem os últimos lançamentos de filmes e todos esses recursos acabam seguimentos em outras plataformas.

Com o passar do tempo já se acredita que devido a esta segmentação de plataformas, acabe surgindo uma colaboração ou união entre elas até porque é difícil manter assinaturas em todas elas, mesmo o valor gasto em cada uma delas ser pequeno, são esses mesmos valores que somados dão um montante importante.

A Fórmula 1 é mais um desses setores que está buscando disponibilizar o conteúdo deles pela internet, mas existem outras questões que podem ser levantadas já que a plataforma vai demorar a vir ao Brasil, como por exemplo a qualidade da nossa rede, pois nem sempre temos na mão ou em casa uma conexão barata e boa, experimente assistir um vídeo no YouTube e logo vamos ter a mensagem que o nosso limite de pacote de internet já foi atingido e simplesmente o vídeo para de carregar ou fica em uma qualidade inferior. A gente pode até ter uma boa conexão em casa, mas nem sempre o tio que a gente vai visitar no interior no tópico almoço de domingo tem, e se você quiser assistir à corrida ao vivo, vai acabar refém da conexão ruim e não adianta reclamar, se você ainda tem o recurso na TV aberta ainda tem como pedir licença e assistir à corrida.

Outra barreira é a nossa língua pois, nós falamos o português e nem todo mundo que acompanha a categoria tem um pouco de inglês e acaba consumindo apenas o conteúdo que está disponível na nossa língua materna. Trazer uma plataforma de streaming para o nosso país e não adaptar às nossas condições é quase que pular de um avião sem paraquedas, se as pessoas não conseguem ter envolvimento com o conteúdo elas dificilmente vão continuar assinando. Também não adianta deixar o conteúdo de legendas disponíveis se os usuários vão ficar reclamando do tipo de tradução que foi feito e parece que veio direto do Google tradutor, não seria nada agradável ver motorista no lugar de piloto não é mesmo? A categoria tem vários termos que apenas quem acompanha, acaba sabendo do que se trata, talvez seja necessário arrumar tradutores que tem conhecimento para ajudar a melhorar o conteúdo que será fornecido.

Como serão as corridas? Comentadas pelos narradores estrangeiros ou vamos ter um narrador específico para o nosso país? Por mais que as imagens do carro na pista forneçam um conteúdo visual, nem sempre temos todas as informações necessárias e um comentarista faz o papel de direcionar a nossa atenção para momentos que passariam desapercebidos por nós, por isso que o recurso auditivo também faz diferença.

Em pesquisa levantada por meio de formulário no próprio Google, pude perceber que 274 pessoas que responderam à pesquisa, apenas 11,7% tem o aplicativo assinado, essa também pode ser uma base para não trazer a plataforma para o Brasil, pois dá para perceber que somos um público que não demostra o interesse necessário em ter todos os recursos disponíveis do aplicativo pago.

Outra pergunta que ficou bem dividida foi a porcentagem de pessoas que se quer tem o aplicativo baixado em seus dispositivos móveis, chega a ser 46%, como mostrar o interesse se nem o download e o uso do gratuito nós fazemos. Para querer chamar atenção do marketing de fora esses números precisam mudar.

Mais uma pergunta que fica bem dividida é o canal de assinantes de plataformas de streaming, na pesquisa levantada 54,7% assina alguma coisa como Netflix ou Spotify que são foram os mais populares, os outros 45,3% não tem nenhum tipo de assinatura o que acaba me remetendo ao começo do texto, não é somente a falta de desenvolvimento do país, mas também a nossa cultura e o também o serviço de internet que nos é prestado e que não é adequado para dar conta das multi possibilidades que temos a mão disponíveis no dia-a-dia.

Outra coisa que me chama a atenção e dessa vez é uma crítica, é que vejo algumas pessoas apedrejando a Globo, mas é exatamente dela que vem o consumo da Fórmula 1 o que acaba convergindo na assinatura da tv, os muitos que clamam pelo streaming, no domingo de manhã estão vendo pela própria Globo ou no canal da Sportv e algumas vezes buscando link de streaming para esses mesmos canais, justamente por existir a barreira da língua para conseguir acompanhar o streaming de uma Sky Sports F1 e é dessa emissora que nós deveríamos cobrar um conteúdo melhor e não a sua ”morte”, pois até o momento é mais possível que fiquemos órfãos de transmissão se a renovação de direitos não ocorrer em 2020, do que uma previsão da plataforma realmente vir para o Brasil.

 

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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