Depois de realizar o primeiro GP da temporada no mesmo circuito que recebeu a pré-temporada, várias perguntas estavam em aberto para o GP da Arábia Saudita. O circuito de Jeddah tem características diferentes do traçado do Sakhir, então era uma oportunidade para ver quem progrediu em quinze dias de pausa e o que temos de concreto até agora.
O GP da Arábia Saudita chamou a atenção para as forças que foram se formando e principalmente por conta da proximidade que os companheiros de equipe estiveram conforme a prova foi se desenvolvendo. Parzinhos foram se formando na tabela de tempos: Red Bull, Aston Martin (com Alonso), Mercedes, Ferrari, Alpine, – Haas, AlphaTauri, Alfa Romeo Williams (em um bloco) – e McLaren.
Com os desempenhos apresentados em Jeddah, o campeonato vai se desenhando para uma forte dominância da Red Bull, com disputas particulares entre Aston Martin, Mercedes e Ferrari. Por outro lado, os problemas relacionados as peças com desgaste excessivo chamam a atenção para possível abandonos das equipes grandes, bem como punições que devem começar mais cedo no pelotão.
A prova disputada neste fim de semana gerou mais uma dobradinha para a Red Bull e fica claro que a equipe está em outro patamar da competição. Quando comparados com os adversários, o time é superior em ritmo de corrida, mas também estão extraindo muito do RB19 durante a classificação.
Mesmo com o problema enfrentado por Max Verstappen durante a classificação, o piloto terminou a corrida no segundo lugar. O holandês ajudou a formar a dobradinha para o time, ainda que estivesse frustrado com a segunda colocação e os problemas que surgiram mais uma vez nos últimos momentos das corridas.
O começo da temporada expõe certa fragilidade das peças que estão sendo usadas nos carros, dado o alto número de trocas que já foram realizados de componentes do moto e até mesmo do câmbio. Os dois pilotos da Red Bull mencionaram problemas nos carros ao final da prova, Verstappen sentiu uma vibração, enquanto o mexicano relatou problemas nos freios.
Mesmo com essas adversidades Pérez representou a Red Bull na pole e conquistou a vitória. O piloto foi ultrapassado por Fernando Alonso na largada, mas recuperou a liderança da corrida na volta 4 e de lá não saiu mais, mesmo com a aparição do Safety Car.
O mexicano travou uma disputa com Max Verstappen pela volta mais rápida, tentando ficar à frente do companheiro de equipe na tabela de pontos e na liderança do Campeonato – foi um ponto de emoção na corrida que começou a ficar parada. Mesmo com o piloto holandês sendo considerado o favorito para obter o título ao final da temporada, Pérez está tentando participar de uma disputa direta com Verstappen.
É necessário dizer que a postura de Pérez no GP da Arábia Saudita era esperada, pois na falta de Verstappen estar na liderança, é o mexicano que deve representar a equipe, ainda mais contanto com um equipamento tão superior. Pérez fez exatamente isso, e ainda conseguiu manter uma certa distância para Verstappen, evitando um confronto direto com o companheiro de equipe. Conquistando a sua quinta vitória na carreira, Pérez está separado por um ponto de Max Verstappen, pois o holandês faturou o ponto da volta rápida.
Verstappen que se cobra muito por resultados ficou frustrado com o segundo lugar, mesmo depois de uma boa corrida. O holandês chamou a atenção para os problemas com o carro e salientou que “não estava ali para ser o segundo colocado.” Acompanhado pelo pai, Jos Verstappen também transpareceu o mesmo, não celebrou a conquista de Sergio Pérez e passou o fim de semana de cara fechada com o desempenho do filho.
El Plan
Fernando Alonso completou o pódio depois que a situação embaraçosa e desorganizada com a FIA foi resolvida. O espanhol apresentou novamente durante todo o fim de semana uma performance consistente e surpreendente, confirmando que a Aston Martin realmente tem um bom ritmo e acertou a mão no carro ao menos para esse início de Campeonato.
LEIA MAIS: FIA anula punição e Alonso recupera pódio do GP da Arábia Saudita
O espanhol demostra o motivo para ser bicampeão na categoria e o que pode fazer com um carro competitivo. O piloto liderou três voltas da corrida, obteve o seu 100º pódio da carreira, além do seu segundo pódio celebrado com a Aston Martin.
É interessante ver Alonso comemorando os pódios e feliz com a entrega da Aston Martin. O espanhol não esperava começar tão bem o ano. Alonso também estava um pouco reticente com as forças do Campeonato, mas a Aston Martin também consegue dar um passo à frente, pois pode desenvolver o carro, enquanto outros estão em busca de solucionar problemas.
Mesmo com a punição de cinco segundo recebida no início da prova, Alonso e a equipe trabalharam para fazer o pit-stop e o cumprimento da punição funcionarem. Alonso retornou à frente de George Russell e Max Verstappen, deixando que os pilotos duelassem pelo terceiro lugar. Perder o segundo posto para Verstappen era inevitável, dessa forma ele optou por não batalhar com o adversário e conservar os pneus se tivesse que lidar com a dupla da Mercedes.
Mercedes e drama com o W14
Falando em equipe alemã, realmente o déficit que a dupla da Mercedes tem para a Red Bull e Aston Martin ainda não foi resolvido, mas a equipe não esperava ficar à frente da Ferrari, mas conseguiram esse feito na Arábia Saudita.
O W14 está longe de ser o carro ideal, principalmente em classificação, mas a Mercedes acertou um pouco mais que a Ferrari em ritmo de corrida nesta prova e a dupla garantiu um quarto e quinto lugar, com George Russell e Lewis Hamilton respectivamente. Russell quase faturou o pódio de Alonso, mas depois que a FIA reverteu a penalidade, o britânico confirmou o quarto lugar.
LEIA MAIS: REPORTAGEM – Mercedes tenta acertar quando conceito do W14 já provou ser falho
A Mercedes ainda tem uma longa jornada pela frente, principalmente quando mencionamos a tarefa de extrair desempenho do W14 quando o projeto já provou que está errado. Durante as próximas corridas a equipe vai introduzir novas peças para tentar mudar a aparência do carro e por consequência a sua eficiência aerodinâmica.
Enquanto a Mercedes tenta resolver os seus problemas, a Ferrari também está tentando encontrar formas de lidar com o desgaste dos pneus e o ritmo de corrida que não é nada satisfatório, deixou os pilotos na mão mais uma vez.
Charles Leclerc e Carlos Sainz passaram por mudanças de elementos do motor, mas apenas o monegasco foi punido pois recebeu uma terceira central eletrônica para disputar essa etapa. A Ferrari passou o fim de semana todo preparando o carro para a corrida, fazendo simulações e isso não foi suficiente para superar a Mercedes no domingo. O time não tinha como prever, mas realizou as suas trocas de pneus antes da entrada do Safety Car e isso também contribui para perder espaço para a dupla da Mercedes.
Not an easy weekend for us…
We know there’s work to do. The only way we’re going to get back to where we want to be is through hard work.
This starts now 👊 pic.twitter.com/fpw30PW0c8
— Scuderia Ferrari (@ScuderiaFerrari) March 20, 2023
Ao longo da prova Leclerc tentou atacar Sainz, mas precisou recuar, pois não tinha mais o que extrair do carro e isso só comprometeria ainda mais a sua prova. O monegasco obteve pontos, mas permanece atrás do companheiro de equipe na tabela de pontos.
McLaren, o que acontece?
O início de temporada da McLaren tem sido bem complicada, são duas corridas consecutivas sem marcar pontos. Oscar Piastri era a esperança da equipe, afinal o piloto australiano representou o time no Q3, conquistando a oitava posição, mas pouco depois da largada se envolveu em incidente com um dos carros da Alpine e danificou a sua asa dianteira.
Piastri foi forçado a antecipar a sua parada para substituir a asa dianteira, na troca o piloto adicionou os pneus duros e permaneceu em pista até o final. O carro da McLaren tem problema com o arrasto, a equipe tem alguns picos de desempenho, mas ao mesmo tempo está bem limitada.
Lando Norris teve uma corrida igualmente complicada, pois o piloto bateu o carro ainda no Q1, danificando a barra de direção e foi forçado largar da décima nona posição. O trabalho de escalada no pelotão já seria trabalhoso, mas assim como Piastri, Norris perdeu contato com o restante do pelotão, pois precisou fazer uma parada na terceira volta por conta dos destroços que tinha pegado na pista e também danificaram a sua asa dianteira. A atividade se tornou uma sessão de testes para os pilotos, que travaram batalhas internas e na perseguição de Logan Sargeant.
Alpine com os dois carros no Top-10
A Alpine formou mais uma dobradinha nesse grid que foi formado por parzinhos. Esteban Ocon e Pierre Gasly fizeram uma boa classificação e levaram pontos para casa. Se Ocon viveu um desastre de fim de semana no Bahrein, deu preferência para ficar fora de confusões e somar os seus primeiros pontos da temporada.
Ocon obteve a oitava posição, seguido por Pierre Gasly que ficou em nono. A equipe teve uma performance mais aceitável neste fim de semana, podendo liderar o pelotão intermediário, enquanto as coisas estão se acertando naquela parte do grid.
Os desfalques
A prova contou com apenas dois abandonos. Lance Stroll não completou a corrida, após enfrentar um problema no sistema de recuperação de energia. O canadense ainda está se recuperando do acidente sofrido de bicicleta onde fraturou os dois pulsos e um dedo do pé.
A pista de Jeddah sendo bem perigosa, existia uma preocupação adicional com o comportamento de Stroll no traçado, afinal, uma batida poderia comprometer todo o seu processo de recuperação. Mas o fim de semana não foi marcado por acidentes e o piloto participou das sessões normalmente.
Stroll gerou uma grande expectativa pela busca da pole, pois fez um primeiro setor roxo na última volta rápida que completava do Q3, mas infelizmente o piloto cometeu um erro e ficou apenas com o quinto lugar para a largada.
Alexander Albon também foi um dos competidores que não completou a prova. O piloto já não estava satisfeito com o ritmo de classificação e ainda enfrentou um problema no sistema de freio. Logan Sargeant que largou da última posição por conta de diversos erros na classificação, completou a prova apenas na décima sétima posição, pois foi superado por Piastri.
E as outras equipes?
A AlphaTauri parece que ainda está tentando se encontrar depois de um 2022 desastroso. Yuki Tsunoda e Nyck De Vries não fizeram boas classificações, mas o piloto japonês ficou perto de terminar a corrida da décima posição e de faturar um ponto para a equipe. Mas ao final da corrida Kevin Magnussen optou por travar uma disputa com Tsunoda, mirando o mesmo objetivo do piloto: salvar um ponto para a Haas. Como apenas os dez primeiros recebem pontos, Magnussen foi contemplado com o pontinho.
Na Haas acontece uma disputa interna entre Nico Hülkenberg e Kevin Magnussen, os dois pilotos querem mostrar serviço. A Haas tem um desempenho um tanto competitivo. A grande vantagem é que até agora o time norte-americano e a Alfa Romeo não passaram por trocas no motor, como tem acontecido com a sua fornecedora de unidade de potência.
Nyck De Vries passou por trocas no motor nesse fim de semana e mesmo assim esteve lutando com o carro. O piloto foi apenas o décimo quarto colocado.
Neste limbo de equipes que tenta buscar algum pontinho, a Alfa Romeo também passou longe dos pontos. Valtteri Bottas danificou o carro no início da prova e ficou brigando para conseguir aderência com o carro. O piloto tomou volta do líder da corrida e terminou a prova na última posição. Zhou Guanyu experimentou um primeiro stint mais forte e com ritmo para brigar pelos dez primeiros, mas ao ficar preso no trem de DRS (uma questão que preocupava os pilotos) não conseguiu progredir na prova. A Alfa Romeo mira agora a prova em Melbourne.