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Raio-X do GP da Arábia Saudita – Os pontos sinalizados pelo Circuito de Jeddah

Em Jeddah, corrida é marcada por parzinho e o desenho das forças do Campeonato e conflitos da Temporada 2023

Depois de realizar o primeiro GP da temporada no mesmo circuito que recebeu a pré-temporada, várias perguntas estavam em aberto para o GP da Arábia Saudita. O circuito de Jeddah tem características diferentes do traçado do Sakhir, então era uma oportunidade para ver quem progrediu em quinze dias de pausa e o que temos de concreto até agora.

O GP da Arábia Saudita chamou a atenção para as forças que foram se formando e principalmente por conta da proximidade que os companheiros de equipe estiveram conforme a prova foi se desenvolvendo. Parzinhos foram se formando na tabela de tempos: Red Bull, Aston Martin (com Alonso), Mercedes, Ferrari, Alpine,  – Haas, AlphaTauri,  Alfa Romeo Williams (em um bloco) – e McLaren.

Com os desempenhos apresentados em Jeddah, o campeonato vai se desenhando para uma forte dominância da Red Bull, com disputas particulares entre Aston Martin, Mercedes e Ferrari. Por outro lado, os problemas relacionados as peças com desgaste excessivo chamam a atenção para possível abandonos das equipes grandes, bem como punições que devem começar mais cedo no pelotão.

A prova disputada neste fim de semana gerou mais uma dobradinha para a Red Bull e fica claro que a equipe está em outro patamar da competição. Quando comparados com os adversários, o time é superior em ritmo de corrida, mas também estão extraindo muito do RB19 durante a classificação.

Mesmo com o problema enfrentado por Max Verstappen durante a classificação, o piloto terminou a corrida  no segundo lugar. O holandês ajudou a formar a dobradinha para o time, ainda que estivesse frustrado com a segunda colocação e os problemas que surgiram mais uma vez nos últimos momentos das corridas.

Red Bull conquista mais uma dobradinha no GP da Arábia Saudita – Foto: reprodução Red Bull

O começo da temporada expõe certa fragilidade das peças que estão sendo usadas nos carros, dado o alto número de trocas que já foram realizados de componentes do moto e até mesmo do câmbio. Os dois pilotos da Red Bull mencionaram problemas nos carros ao final da prova, Verstappen sentiu uma vibração, enquanto o mexicano relatou problemas nos freios.

Mesmo com essas adversidades Pérez representou a Red Bull na pole e conquistou a vitória. O piloto foi ultrapassado por Fernando Alonso na largada, mas recuperou a liderança da corrida na volta 4 e de lá não saiu mais, mesmo com a aparição do Safety Car.

O mexicano travou uma disputa com Max Verstappen pela volta mais rápida, tentando ficar à frente do companheiro de equipe na tabela de pontos e na liderança do Campeonato – foi um ponto de emoção na corrida que começou a ficar parada. Mesmo com o piloto holandês sendo considerado o favorito para obter o título ao final da temporada, Pérez está tentando participar de uma disputa direta com Verstappen.

É necessário dizer que a postura de Pérez no GP da Arábia Saudita era esperada, pois na falta de Verstappen estar na liderança, é o mexicano que deve representar a equipe, ainda mais contanto com um equipamento tão superior. Pérez fez exatamente isso, e ainda conseguiu manter uma certa distância para Verstappen, evitando um confronto direto com o companheiro de equipe. Conquistando a sua quinta vitória na carreira, Pérez está separado por um ponto de Max Verstappen, pois o holandês faturou o ponto da volta rápida.

Verstappen que se cobra muito por resultados ficou frustrado com o segundo lugar, mesmo depois de uma boa corrida. O holandês chamou a atenção para os problemas com o carro e salientou que “não estava ali para ser o segundo colocado.” Acompanhado pelo pai, Jos Verstappen também transpareceu o mesmo, não celebrou a conquista de Sergio Pérez e passou o fim de semana de cara fechada com o desempenho do filho.

El Plan

Fernando Alonso completou o pódio depois que a situação embaraçosa e desorganizada com a FIA foi resolvida. O espanhol apresentou novamente durante todo o fim de semana uma performance consistente e surpreendente, confirmando que a Aston Martin realmente tem um bom ritmo e acertou a mão no carro ao menos para esse início de Campeonato.

Fernando Alonso quase ficou sem o seu pódio após a FIA aplicar uma punição incorreta. O espanhol recuperou o terceiro lugar – Foto: reprodução Aston Martin
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O espanhol demostra o motivo para ser bicampeão na categoria e o que pode fazer com um carro competitivo. O piloto liderou três voltas da corrida, obteve o seu 100º pódio da carreira, além do seu segundo pódio celebrado com a Aston Martin.

É interessante ver Alonso comemorando os pódios e feliz com a entrega da Aston Martin. O espanhol não esperava começar tão bem o ano. Alonso também estava um pouco reticente com as forças do Campeonato, mas a Aston Martin também consegue dar um passo à frente, pois pode desenvolver o carro, enquanto outros estão em busca de solucionar problemas.

Mesmo com a punição de cinco segundo recebida no início da prova, Alonso e a equipe trabalharam para fazer o pit-stop e o cumprimento da punição funcionarem. Alonso retornou à frente de George Russell e Max Verstappen, deixando que os pilotos duelassem pelo terceiro lugar. Perder o segundo posto para Verstappen era inevitável, dessa forma ele optou por não batalhar com o adversário e conservar os pneus se tivesse que lidar com a dupla da Mercedes.

Mercedes e drama com o W14

Falando em equipe alemã, realmente o déficit que a dupla da Mercedes tem para a Red Bull e Aston Martin ainda não foi resolvido, mas a equipe não esperava ficar à frente da Ferrari, mas conseguiram esse feito na Arábia Saudita.

O W14 está longe de ser o carro ideal, principalmente em classificação, mas a Mercedes acertou um pouco mais que a Ferrari em ritmo de corrida nesta prova e a dupla garantiu um quarto e quinto lugar, com George Russell e Lewis Hamilton respectivamente. Russell quase faturou o pódio de Alonso, mas depois que a FIA reverteu a penalidade, o britânico confirmou o quarto lugar.

A Mercedes segue lutando com o W14, tentando ter novamente um carro para brigar por vitórias e pódios – Foto: reprodução Mercedes / Daimler
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A Mercedes ainda tem uma longa jornada pela frente, principalmente quando mencionamos a tarefa de extrair desempenho do W14 quando o projeto já provou que está errado. Durante as próximas corridas a equipe vai introduzir novas peças para tentar mudar a aparência do carro e por consequência a sua eficiência aerodinâmica.

Enquanto a Mercedes tenta resolver os seus problemas, a Ferrari também está tentando encontrar formas de lidar com o desgaste dos pneus e o ritmo de corrida que não é nada satisfatório, deixou os pilotos na mão mais uma vez.

Charles Leclerc e Carlos Sainz passaram por mudanças de elementos do motor, mas apenas o monegasco foi punido pois recebeu uma terceira central eletrônica para disputar essa etapa. A Ferrari passou o fim de semana todo preparando o carro para a corrida, fazendo simulações e isso não foi suficiente para superar a Mercedes no domingo. O time não tinha como prever, mas realizou as suas trocas de pneus antes da entrada do Safety Car e isso também contribui para perder espaço para a dupla da Mercedes.

Ao longo da prova Leclerc tentou atacar Sainz, mas precisou recuar, pois não tinha mais o que extrair do carro e isso só comprometeria ainda mais a sua prova. O monegasco obteve pontos, mas permanece atrás do companheiro de equipe na tabela de pontos.

McLaren, o que acontece?

O início de temporada da McLaren tem sido bem complicada, são duas corridas consecutivas sem marcar pontos. Oscar Piastri era a esperança da equipe, afinal o piloto australiano representou o time no Q3, conquistando a oitava posição, mas pouco depois da largada se envolveu em incidente com um dos carros da Alpine e danificou a sua asa dianteira.

Piastri foi forçado a antecipar a sua parada para substituir a asa dianteira, na troca o piloto adicionou os pneus duros e permaneceu em pista até o final. O carro da McLaren tem problema com o arrasto, a equipe tem alguns picos de desempenho, mas ao mesmo tempo está bem limitada.

A McLaren ficou presa em uma disputa interna, enquanto lidava com mais problemas nesta prova – Foto: reprodução McLaren

Lando Norris teve uma corrida igualmente complicada, pois o piloto bateu o carro ainda no Q1, danificando a barra de direção e foi forçado largar da décima nona posição. O trabalho de escalada no pelotão já seria trabalhoso, mas assim como Piastri, Norris perdeu contato com o restante do pelotão, pois precisou fazer uma parada na terceira volta por conta dos destroços que tinha pegado na pista e também danificaram a sua asa dianteira. A atividade se tornou uma sessão de testes para os pilotos, que travaram batalhas internas e na perseguição de Logan Sargeant.

Alpine com os dois carros no Top-10

A Alpine formou mais uma dobradinha nesse grid que foi formado por parzinhos. Esteban Ocon e Pierre Gasly fizeram uma boa classificação e levaram pontos para casa. Se Ocon viveu um desastre de fim de semana no Bahrein, deu preferência para ficar fora de confusões e somar os seus primeiros pontos da temporada.

Ocon obteve a oitava posição, seguido por Pierre Gasly que ficou em nono. A equipe teve uma performance mais aceitável neste fim de semana, podendo liderar o pelotão intermediário, enquanto as coisas estão se acertando naquela parte do grid.

Os desfalques

A prova contou com apenas dois abandonos. Lance Stroll não completou a corrida, após enfrentar um problema no sistema de recuperação de energia. O canadense ainda está se recuperando do acidente sofrido de bicicleta onde fraturou os dois pulsos e um dedo do pé.

A pista de Jeddah sendo bem perigosa, existia uma preocupação adicional com o comportamento de Stroll no traçado, afinal, uma batida poderia comprometer todo o seu processo de recuperação. Mas o fim de semana não foi marcado por acidentes e o piloto participou das sessões normalmente.

Stroll gerou uma grande expectativa pela busca da pole, pois fez um primeiro setor roxo na última volta rápida que completava do Q3, mas infelizmente o piloto cometeu um erro e ficou apenas com o quinto lugar para a largada.

Alexander Albon também foi um dos competidores que não completou a prova. O piloto já não estava satisfeito com o ritmo de classificação e ainda enfrentou um problema no sistema de freio. Logan Sargeant que largou da última posição por conta de diversos erros na classificação, completou a prova apenas na décima sétima posição, pois foi superado por Piastri.

E as outras equipes?

A AlphaTauri parece que ainda está tentando se encontrar depois de um 2022 desastroso. Yuki Tsunoda e Nyck De Vries não fizeram boas classificações, mas o piloto japonês ficou perto de terminar a corrida da décima posição e de faturar um ponto para a equipe. Mas ao final da corrida Kevin Magnussen optou por travar uma disputa com Tsunoda, mirando o mesmo objetivo do piloto: salvar um ponto para a Haas. Como apenas os dez primeiros recebem pontos, Magnussen foi contemplado com o pontinho.

Na Haas acontece uma disputa interna entre Nico Hülkenberg e Kevin Magnussen, os dois pilotos querem mostrar serviço. A Haas tem um desempenho um tanto competitivo. A grande vantagem é que até agora o time norte-americano e a Alfa Romeo não passaram por trocas no motor, como tem acontecido com a sua fornecedora de unidade de potência.

Nyck De Vries passou por trocas no motor nesse fim de semana e mesmo assim esteve lutando com o carro. O piloto foi apenas o décimo quarto colocado.

Neste limbo de equipes que tenta buscar algum pontinho, a Alfa Romeo também passou longe dos pontos. Valtteri Bottas danificou o carro no início da prova e ficou brigando para conseguir aderência com o carro. O piloto tomou volta do líder da corrida e terminou a prova na última posição. Zhou Guanyu experimentou um primeiro stint mais forte e com ritmo para brigar pelos dez primeiros, mas ao ficar preso no trem de DRS (uma questão que preocupava os pilotos) não conseguiu progredir na prova. A Alfa Romeo mira agora a prova em Melbourne.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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