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Protagonismo Brasileiro dentro e Fora das Pistas

Em nove de agosto de 1987, passávamos da metade do campeonato. O Grande Prêmio da Hungria que aconteceu naquele dia foi a nona de dezesseis corridas, e ao chegar lá após uma vitória na Alemanha duas semanas antes Nelson Piquet tinha uma pequena folga na liderança do campeonato: 39 pontos contra 35 de Senna e 30 de Nigel Mansell.

Senna fazia bonito no campeonato. Fonte: Motorsport.com (Photo by LAT Images)

A presença de Ayrton entre os históricos rivais era uma bela surpresa, e foi construída com as vitórias em Mônaco e Detroit, além de outros três pódios. Mansel, apesar das três vitórias, tinha três abandonos e um quinto e outro sexto lugares, no clássico “win or wall”. Já Piquet ponteava pela regularidade: a bandeirada na oitava prova foi a primeira que recebeu em primeiro lugar, mas ele tinha outros cinco no degrau do meio do pódio, e estes pontinhos estavam fazendo a diferença.

O carro da Williams era realmente o monstro a ser batido. Desde o ano anterior, aliás, quando a indefinição de Sir Frank em priorizar um piloto permitiu uma briga intestina e o título de Prost. Piquet não se conformava, e vivia dizendo no paddock que “eu não me matei sozinho para transformar a Williams no melhor carro só para ter que disputar título com o cara do lado”. Ele queria ser o piloto número 1, e estava provando isso na pista.

Quer dizer, nem sempre dava certo. Conta-se que depois do warm up, para não dar tempo de Mansell copiar a configuração, Nelson sugeriu uma pequena diminuição na distância entre-eixos do carro para enfrentar a sinuosa pista húngara. Não funcionou, a princípio: o inglês garantiu a pole, e teve a seu lado Gerhard Berger, numa Ferrari que tentava renascer das cinzas. Piquet teve que se contentar com uma terceira posição no grid, ao lado da McLaren de Prost.

McLaren que tinha ido atrás de Nelsão sondá-lo para a vaga de Stefan Johansson. O salário do brasileiro era alto, mas esse nem foi o maior empecilho; dividir o protagonismo com Prost era tudo que Piquet não queria, pois já estava cansado de lutar em casa.

Na terceira fila largavam a outra Ferrari com Michele Alboreto e a Lotus de Senna, que tinha informado duas semanas antes à Peter Warr, o chefe da equipe, que queria a quebra do contrato baseado em uma cláusula de competitividade existente. Mesmo não sendo páreo direto para as Williams e para a McLaren, a Lotus vinha numa ascendente e o brasileiro fazia sua melhor temporada, então este item poderia facilmente ser rebatido, mas o que Ayrton queria mesmo era entrar em um jogo de negociação, pois tinha sido procurado por Ron Dennis após a recusa de seu compatriota. Senna pediu alto, sabendo que poderia contar com a vaga da Lotus caso não desse certo.

Ferraris querendo fazer graça. Fonte: Twitter

Na largada, Mansell manteve uma boa dianteira enquanto Piquet tentava tirar Berger do caminho. O austríaco não só permaneceu na segunda posição como viu Alboreto superar o então campeão e o atual líder para firmar-se em terceiro, fazendo com que as duas Ferrari ficassem entre as Williams. Mas os carros da Scuderia estavam só no começo de sua recuperação, e logo Berger encosta com um motor fundido. Na volta 29 Piquet conseguiu passar o italiano, partindo em perseguição a Mansell, enquanto Senna estava na quarta colocação.

Senna tinha muito na cabeça, pois Peter Warr, irritado com a jogada de seu piloto, fez o que ninguém esperava: foi atrás de Piquet. O chefe da Lotus aceitou pagar o preço alto do salário (que seria dividido com a Camel), e ainda prometeu protagonismo na equipe; ele ainda trouxe Satoru Nakajima para dividir os boxes com o brasileiro, o que com uma só tacada garantiu a condição de primeiro piloto a Nelsão e ainda as graças da Honda.

Ou seja, o anúncio de Piquet de que estava de mudança para a Lotus não só frustrou Williams como retirou a rede de segurança que permitia a Senna ser mais duro no pedido para a McLaren. Ayrton teria que aceitar condições menos favoráveis para continuar com um assento competitivo em 1988.

Mansell fica ciente de que Piquet já está em seu encalço e aperta o ritmo, com ambos trocando melhores voltas na corrida. Senna começa a tirar a diferença de Alboreto, que na verdade estava também com problemas em seu motor Ferrari e acaba abandonando, deixando Boutsen em quarto e Prost, que sofria com problemas de câmbio, na quinta colocação. Quando a Benetton do belga abandonou com um turbo pifado o francês ganhou o quarto posto, mas já tinha tomado uma volta das Williams.

Leão na relva. Fonte: ESPN

O inglês parecia estar a caminho de uma vitória fácil um dia após completar 34 anos, ainda mais quando Piquet teve que diminuir o ritmo por causa de uma vibração estranha na traseira de seu carro. Porém a cinco voltas do fim a Williams de Nigel começa a cambalear na pista e ele é obrigado a encostar com uma porca solta na roda traseira direita. Foi de cortar o coração vê-lo sentado triste no guard rail (quer dizer, para alguém deve ter sido). Quando a equipe contou para Nelson o que tinha acontecido, ele diminuiu mais ainda o ritmo, com medo de que a vibração que sentia pudesse ser o mesmo problema. Mas, com mais de 40 segundos de vantagem sobre Senna, foi o suficiente para cruzar a linha de chegada em primeiro, garantindo a segunda vitória no campeonato e também a segunda em dois anos de história do GP húngaro. Senna completou mais uma dobradinha, e Prost, sempre fazendo champagnes das uvas que a vida lhe dava, ainda garantiu uma terceira colocação.

Nelsão a caminho do tri. Fonte: Pinterest.

Ao final daquele domingo, sabíamos todos que Piquet estava indo para a Lotus, Senna para a McLaren e o tricampeonato para o colo de Nelsão.

lll FORA DAS PISTAS

No dia 9 de agosto nasceram Amedeo Avogadro, aquele químico italiano que tem um número só para ele, o velho lobo Mário Jorge Zagallo, o piloto Patrick Depailler, de quem o Mestre Cristiano Seixas falou brilhantemente aqui, a cantora Whitney Houston e o ator Eric Bana (Bem Vindo Ao Jogo, ou “Lucky You” no original, é um dos melhores filmes de poker já feitos).

E, neste dia, em 1980, uma banda australiana atingia pela primeira vez o topo das paradas britânicas: a música título do álbum Back In Black catapultou o AC/DC para o estrelato definitivo do panteão do rock and roll, e o álbum, criado durante o luto após a morte do vocalista Bom Scott, tornou-se o disco mais vendido da história do rock e o segundo de todos os tempos, ficando atrás apenas de Thriller, de Michael Jackson. Vamos ficar com o riff de guitarra mais chiclete já criado.



Studio na Colab55

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Carlos Eduardo Valesi

Velho demais para ter a pretensão de ser levado a sério, Valesi segue a Fórmula 1 desde 1987, mas sabe que isso não significa p* nenhuma pois desde meados da década de 90 vê as corridas acompanhado pelo seu amigo Jack Daniels. Ferrarista fanático, jura (embora não acredite) que isto não influencia na sua opinião de que Schumacher foi o melhor de todos, o que obviamente já o colocou em confusão. Encontrado facilmente no Setor A de Interlagos e na sua conta no Tweeter @cevalesi, mas não vai aceitar sua solicitação nas outras redes sociais porque também não é assim tão fácil. Paga no máximo 40 mangos numa foto do Button cometendo um crime.

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