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O Último Gole de Champagne de Massa na Fórmula 1

O Grande Prêmio da Itália de 2015, que aconteceu em 06 de setembro daquele ano, foi uma prova mais movimentada fora do que dentro das pistas, e foi também recheado de efemérides, números redondos e despedidas.

A Ferrari corria em casa, e alinhava no grid pela 900ª (não sei escrever isso por extenso, e estou com preguiça de pesquisar) vez na história. Mas as Mercedes estavam tendo um ano imbatível, e a pole acabou nas mãos de um oxigenado Lewis Hamilton, já então líder disparado do campeonato de 2015. Ao seu lado largaria Kimi Raikkonen, com Vettel fazendo sua estreia na Ferrari em frente aos tiffosi na terceira posição do grid. Nico Rosberg era o outro lado do sanduíche da Mercedes, e com um motor recauchutado, o quarto lugar foi o que deu para fazer. Na terceira fila duas Williams, com Massa e Bottas.

Havia uma preocupação com os pneus, pois no final de semana de corrida anterior, na Bélgica, tanto Rosberg quanto Vettel haviam sofrido explosões dos compostos enquanto estavam na pista. Uma orientação quanto às pressões mínima e máxima aceitas foi passada às equipes, e uma aferição tanto nos boxes quanto no grid foi realizada.

Na largada, Hamilton pulou à frente, enquanto Kimi ficava praticamente parado na mesma posição. Com o acionamento do mecanismo de anti-stall foi necessário colocar a Ferrari em neutro antes de largar novamente, e por sorte ninguém que vinha do lado par da pista acertou a traseira do finlandês (que iria passar por este risco mais tarde novamente, ao entrar nos boxes logo à frente da Marussia de Merhi; o espanhol travou os pneus para não passar por cima do outro carro vermelho). Arrivabene disse em entrevista depois que “Kimi deve ter se enrolado com os dedos” – no onboard dá para imaginar que Raikkonen apertou o triângulo quando deveria ter apertado o quadrado. O Iceman caiu para a última posição, porém como Monza é Monza e só as Mercedes eram páreo para a Ferrari, foi escalando o grid até terminar em uma boa quinta colocação. Em entrevista após o GP, instado a responder como foi que ganhou tantas posições, deu uma resposta extensa e elaborada: “Fiz o que sempre faço”.

Com o companheiro astravancando o pogresso da turma da direita, Vettel garantiu uma segunda colocação e Massa ganhou um terceiro já no início da corrida. Para o alemão da Ferrari, foi uma prova solitária, pois se não conseguia chegar no carro da frente não era ameaçado pelos de trás. Já na zona do fim do pódio a coisa estava mais divertida. O trenzinho Massa-Bottas-Rosberg foi cheio de colocadas de lado e aberturas de asa. Nico, depois de sofrer um tempo atrás das duas Williams sem conseguir ultrapassar, abriu a janela de boxes na 19ª volta e, retornando de cara pro vento, fez voltas boas o suficiente para ter a dupla da Martini no retrovisor após as trocas de pneu (claro que um pit stop um pouco menos do que ótimo realizado no carro do Massa colaborou para a perda da posição).

No final da prova Hamilton, já 20 segundos à frente, recebe um rádio digno de filme de espionagem: “Ok, Lewis, precisamos colocar no modo 3, você tem que fazer voltas rápidas. Não faça perguntas, explicaremos depois. Acelere”. Ao melhor estilo de taxista de cinema ao receber a ordem de seguir aquele carro, pisou fundo e acabou cruzando a linha de chegada com mais de 25 segundos de vantagem para Vettel. Rosberg, enquanto isso, encostava o carro a três voltas do fim, deixando o caminho do pódio livre para Felipe Massa, que ainda precisou suportar uma pressão do companheiro de equipe, que fez duas voltas colado à sua caixa de câmbio, com a asa aberta, mas sem conseguir passar o brasileiro.

Após o GP ficamos sabendo o porquê da Mercedes empurrar o seu piloto: a pressão dos pneus de Hamilton (e de Rosberg) no grid estava décimos de PSI abaixo do mínimo, e uma investigação havia sido aberta. Com a possibilidade de penalização de tempo, quanto maior a vantagem de Lewis no fim da corrida maiores as chances de manter a vitória. Após mais de duas horas de deliberação os comissários entenderam que a pressão dos carros prateados caiu porque as mantas térmicas foram retiradas antes das dos outros carros, e não houve punição, ficando então Hamilton livre para comemorar sua vitória de número 40, e o segundo Grand Chelen (pole, vitória, melhor volta e liderança de todas as voltas) de sua carreira. O título já estava praticamente em suas mãos.

Mas, de maneira impressionante, ele não era o piloto mais feliz no pódio. Vettel comemorou bastante a segunda colocação em seu primeiro ano de Ferrari em Monza, e a alegria foi recíproca, pois os torcedores entendiam que era o melhor que a Scuderia poderia fazer. Eles também aplaudiram muito Felipe Massa, demonstrando um carinho adquirido após tantos anos de casa (Felipe ainda é bastante estimado na Itália, e no GP de 2018 comentou a prova para a RAI). De forma profética, esta terceira colocação tão comemorada acabaria marcando a última vez que o brasileiro sentiria o sabor da champagne no pódio da Fórmula 1. Após 12 anos de carreira, passando por três equipes e largando 269 vezes, Felipe subiu ao pódio 41 vezes, sendo 11 delas após uma vitória. Infelizmente para nós, esta terceira colocação há exatos três anos foi a última vez que a bandeira brasileira foi vista em uma cerimônia de premiação da Fórmula 1.

lll FORA DAS PISTAS

O químico e físico John Dalton, que nasceu em um dia 6 de setembro, ficou conhecido pela humanidade por formular toda a teoria atômica. Para este escriba ele tem um feito maior, já que sua incapacidade em distinguir o verde do vermelho o levou também a estudar a dificuldade de algumas pessoas em enxergar certas cores, distúrbio que mais tarde foi batizado em sua homenagem como daltonismo. Também fazem aniversário nesta data o Diamante Negro Leônidas da Silva, inventor do chute de bicicleta, o Dr. Eric Sidney Watkins, ou Professor Syd, o médico que por muitos anos cuidou dos pilotos durante as corridas, Sérgio Aragonés, ilustrador hispano-mexicano da revista Mad e criador de Groo, o Errante, o ator britânico Idris Elba (talvez o próximo 007?), a irlandesa Dolores O’Riordan, vocalista dos Cranberries e uma das melhores cantoras do país, e de George Roger Waters, fundador do Pink Floyd e responsável por álbuns clássicos como Wish You Were Here e The Wall. Ele vem para o Brasil no próximo mês, e eu vou estar lá na plateia para vê-lo fazer isso aqui e muito mais:

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Carlos Eduardo Valesi

Velho demais para ter a pretensão de ser levado a sério, Valesi segue a Fórmula 1 desde 1987, mas sabe que isso não significa p* nenhuma pois desde meados da década de 90 vê as corridas acompanhado pelo seu amigo Jack Daniels. Ferrarista fanático, jura (embora não acredite) que isto não influencia na sua opinião de que Schumacher foi o melhor de todos, o que obviamente já o colocou em confusão. Encontrado facilmente no Setor A de Interlagos e na sua conta no Tweeter @cevalesi, mas não vai aceitar sua solicitação nas outras redes sociais porque também não é assim tão fácil. Paga no máximo 40 mangos numa foto do Button cometendo um crime.

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