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Como funciona um simulador da Fórmula E?

A equipe Audi abriu as portas do seu simulador para mostrar como usa tecnologia de ponta na preparação de seus pilotos para os grandes desafios da Fórmula E. O sistema utilizado pela equipe é capaz de reproduzir o comportamento do FE06 virtual e realisticamente, oferecendo, assim, uma representação real do que acontece na pista para Lucas di Grassi e Rene Rast. 

Coletando e analisando dados

Coletando e analisando dados a partir dos simuladores da Fórmula E
Foto: Reprodução Audi

“Entre as corridas, a simulação é uma das nossas atividades principais e a ferramenta mais importante para os pilotos e técnicos se prepararem para a próxima prova”, afirma Tristan Summerscale, Projetista Líder da Fórmula E na Audi.

Depois de um E-Prix, os carros de todas as 12 equipes são transportados juntos para a próxima corrida. “Como o hardware dos veículos não pode ser alterado durante a temporada, nós só conseguimos torná-los mais competitivos se melhorarmos nossa preparação constantemente, assim como algumas configurações e o software”, Summerscale completa: “Por essa razão, fazemos análises intensas após cada corrida”.

Os pontos focais de desenvolvimento são a suspensão, a performance de pneus e o gerenciamento da bateria. Toda a informação adquirida durante um dia de corrida (treinos livres, quali e corrida em si) é detalhadamente avaliada pelos técnicos da Audi. “A chave da análise de dados é identificar exatamente cada ponto fraco e usar isso para fazer as melhorias corretas e ganhar velocidade na próxima corrida”, diz Summerscale.

Dentro do simulador

Dentro do simulador
Foto: Reprodução Audi

As sessões no simulador da Audi acontecem sob a supervisão de engenheiros operacionais e, caso necessário, de um engenheiro especialista. Além disso, desde 2018, a Audi possui um engenheiro responsável por operar o equipamento chamado de “test bench operator” (o operador de banco de ensaio, em tradução literal). 

Os pilotos sentam em um cockpit montado em cima de braços mecânicos com movimentos 3D controlados por computador. Todo esse aparato está localizado numa plataforma que também pode se mover, sendo três níveis distribuídos em nove graus de movimento. 

Dentro do simulador
Foto: Reprodução Audi

Essa concepção dá ao simulador um aspecto dinâmico. “Em contraste com o simulador estático, os movimentos do carro são precisamente transmitidos”, explica Bastian Göttle, responsável por coordenar o simulador da Audi. A célula em que o piloto fica é a cópia exata do FE06 real. O monoposto possui volante, pedais e banco idênticos ao carro utilizado nas corridas e o circuito virtual é projetado numa super tela com 240º de curvatura.

O simulador possui assento e cinto de segurança ativos, tornando possível a geração de força G que incide sobre o piloto durante seu uso. Assim, o movimento do cockpit também causa o mesmo impacto de uma corrida real em Lucas di Grassi e Rene Rast. A força G aplicada no teste pode exceder 3.5g. Enquanto isso, caixas de som reproduzem o barulho do FE06 e, numa sala ao lado, os engenheiros acompanham todas as manobras e cada resultado exibido nos monitores diante deles.

“Graças a gráficos otimizados, estamos ainda mais próximos da realidade”, relata Lucas di Grassi. 

Qualquer cenário virtualmente

Qualquer cenário virtualmente
Foto: Reprodução Audi

A preparação para as corridas no simulador da Audi começa com um acompanhamento da corrida anterior. De acordo com Summerscale, dados como configuração de chassi e temperatura do ar são inseridos na simulação, então um dos pilotos refaz a corrida e o quali. “Se identificamos desvios entre o que foi obtido na corrida e o modelo simulado no carro e pneus, nós atualizamos essas configurações específicas para que elas se tornem ainda mais reais”, completa o engenheiro.

Foto: Reprodução Audi

Cada uma dessas “interações correlatas” levam a um refinamento da simulação e torna o trabalho virtual ainda mais real na preparação do quali e da corrida. Segundo Summerscale, “nos circuitos onde corremos várias vezes e coletamos muitos dados, conseguimos uma combinação ainda mais exata entre a simulação e o real”.

Descobrindo novos circuitos

Descobrindo novos circuitos
Foto: Reprodução Audi

Os circuitos da Fórmula E podem ser completamente novos para pilotos e equipes, com mudanças visíveis de um ano para outro, como a remoção da chicane em Santiago nesta temporada. Essas mudanças são passadas para as equipes pela FIA e cada uma delas faz a adaptação em seus simuladores, por isso a prática é vital para os pilotos da Audi antes de cada E-Prix. 

“Me habituar aos circuitos em algumas voltas funciona muito bem pra mim no simulador”, afirma di Grassi. “Isso me poupa um tempo valioso na vida real porque treinos livres, quali e corridas acontecem com pouco intervalo entre as sessões. Posso usar esse tempo para aprimorar minha coordenação”, completa. 

Estratégias de chassi e pneus

Estratégias de chassi e pneus
Foto: Reprodução Audi

Dois outros fatores de particular importância são o ajuste da suspensão e a otimização do manejo dos pneus. Para esses aspectos, a Audi pode avaliar todas as possibilidades dentro do que o simulador oferece: molas, amortecedores, estabilizadores e cambagem. Cada componente da criação do chassi é intensamente explorado. 

Simular a calibragem dos pneus assertivamente é ainda mais importante para garantir que os pilotos maximizem o “tiro único” durante o quali. As equipes buscam extrair o que for possível de aderência nas voltas da borracha fornecida pela Michelin que é utilizada em qualquer condição de pista. Atingir o pico da performance está nas mãos dos pilotos e de seus engenheiros.

Ao usar o modelo de pneu integrado na dinâmica de pilotagem do simulador, antes de cada E-Prix, a Audi também examina a influência do componente no comportamento de pista, pois temperatura e pressão afetam os pneus tanto internamente como externamente. Esses fatores variam bastante e determinam seu o nível de aderência.

Liberação de energia

Foto: Reprodução Audi

A “prioridade das prioridades” da Audi no simulador é o gerenciamento de energia. A busca pela melhor estratégia possível para cada corrida é vital – encontrar a melhor forma de utilização da potência disponível nos 45 minutos mais uma volta, assim como extrair o máximo do regen (regeneração de energia). 

Diferentes cenários são testados nos mesmos moldes utilizados nas corridas: 200 kW em condições normais, 235 kW no Modo Ataque e 250 kW com o Fanboost ativado.

Para Tristan e sua equipe, o simulador é fundamental para que mais troféus sejam adicionados às prateleiras da Audi. O projetista líder afirma que “cada elemento do quebra-cabeças de 2000 peças, que forma o carro da Fórmula E, que é otimizado nos ajuda a seguir em frente. Da mesma forma, cada um dos nossos avanços no simulador contribui para talvez atingirmos aquele décimo decisivo no final”.

Na retomada da Fórmula E, seis corridas acontecerão em nove dias com três traçados distintos. Será uma situação diferente como um todo. Os layouts foram divulgados recentemente e as equipes e pilotos terão pouco tempo para conhecerem os novos circuitos. A organização da categoria deixou todos no escuro até poucos dias atrás, então quem conseguir extrair mais informações do simulador pode ter uma vantagem crucial na decisão do campeonato.

Foto de Capa: Audi Fórmula E

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