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O acidente de Romain Grosjean e as suas consequências no automobilismo

Nesta sexta-feira (05) a FIA divulgou a análise do acidente de Romain Grosjean que ocorreu no GP do Bahrein de 2020, após o departamento de segurança da FIA concluir as investigações. O francês bateu na curva 3 do circuito de Sakhir e pouco depois o carro da equipe Haas começou a pegar fogo. Grosjean sofreu alguns ferimentos, mas nada que fosse muito grave ou fatal. O acidente gerou estudos, onde a FIA pretende realizar algumas mudanças promovendo mais segurança ao automobilismo.

A complexa investigação seguiu uma série de vistorias para levantar as evidências físicas, assim como análise de matérias em vídeo foram realizadas, além de conversas com os envolvidos e análises dos rádios. Este trabalho investigativo foi revisado pelo Grupo de Estudos de Acidentes Graves da FIA, liderado pelo Presidente da FIA, Jean Todt.

Toda a investigação tinha como objetivo identificar os fatores que levam ao acidente, e tudo que influenciou no resultado. A ideia também era aprender com o que aconteceu para melhorar a segurança do automobilismo.

A Dinâmica do Acidente

Largada do GP do Bahrein de 2020 – Foto: Mercedes

A análise desta investigação se concentrou nos carros que foram envolvidos, desta forma eles tiveram que averiguar Romain Grosjean da Haas e Daniil Kvyat da AlphaTauri. O início deste acidente ocorre quando o francês já está a 241 km/h quando perde o controle na saída da Curva 3, o piloto sofreu um contato na roda traseira direita, com a roda dianteira esquerda do carro do russo que estava tentando realizar a ultrapassagem.

O toque roda com roda, levantou a traseira do carro de Grosjean, forçado o a se mover para a direita, colocando-o em uma trajetória onde perdeu o controle do carro e foi para a saída da curva 3. Kvyat também se move nesta direção, mas consegue retornar para a pista evitando outros contatos.

Pouco depois é a vez de Grosjean se chocar com a barreira de proteção tripla da pista, a 192 km/h, em um ângulo de 29 graus, mas com um pico de força resultado a algo equivalente aos 67G. A barreira sofreu uma deformação significativa, ela foi separada com a entrada da célula de sobrevivência, que foi parar atrás da barreira de proteção. O carro sofreu vários danos, incluindo a separação do conjunto do power trem e da célula de sobrevivência. O tanque de combustível que fica do lado esquerdo do chassi foi desconectado e a conexão que gera a alimentação do combustível no motor foi ‘cortada – desta forma o escape do combustível do tanque aconteceu.

Foto: reprodução

A bateria do sistema de recuperação de energia (ERS), sofreu danos significativos, parte dela ficou com o power trem, mas outra parte ficou conectado à célula de sobrevivência. O fogo foi gerado durante os momentos finais do impacto com a barreira que provocou a separação das partes do carro. Pouco depois as chamas começam a ir em direção ao piloto.

“Felizmente, os incidentes envolvendo fogo dessa escala são raros, então é muito importante aprender o que pudermos, incluindo a interação com o sistema de alta tensão (ERS). Os esforços dos envolvidos foram heroicos e muito justamente foram objeto de muitos elogios. Após a aprovação de nossas conclusões pelo Conselho Mundial de Esportes Motorizados, iremos integrar as ações ao trabalho em andamento”, diz o Diretor de Segurança da FIA, Adam Baker.

A posição que a célula de sobrevivência ficou na barreira de proteção acabou restringindo significativamente a saída do piloto. O restante da história mostra que Grosjean ficou com o pé preso, quando o carro parou, principalmente por conta de vários componentes que foram danificados. Grosjean solta o pé, além disso, precisou lidar com os outros itens de segurança, incluindo o HANS, o cinto de segurança, assim como o assento, encosto de cabeça, a proteção do Halo. Tudo que se mostra necessário para a segurança do piloto. A bandeira vermelha foi acionada 5,5 segundos após o impacto de Grosjean na barreira.

O resgate

Foto: reprodução

O resgate aconteceu rapidamente pois o carro médico estava acompanhando o pelotão durante a largada da prova, ele chegou 11 segundos após o incidente. Nele estavam os médicos de resgate da FIA, Dr. Ian Roberts, além de Alan van der Merwe que estava guiando o carro. A chegada deles proporcionou o atendimento e assistência imediata.

“Ian Roberts foi imediatamente ao local do incidente e instruiu um fiscal de pista a operar o extintor de incêndio ao redor do carro, onde identificou Romain Grosjean na tentativa de fazer sua saída. Alan Van der Merwe recuperou um extintor de incêndio da parte traseira do carro médico da FIA enquanto o médico local preparava a bolsa de primeiros socorros”, informa o documento da FIA.

Grosjean deixa o carro sem ajuda após 27 segundos, sofrendo queimaduras nas costas duas suas mãos. Elas foram identificadas pelos médicos que estavam com o carro médico da FIA, logo depois o francês foi levado para o centro médico do circuito para uma primeira avaliação. Posteriormente moveram um helicóptero para um hospital do Bahrein, realizando avaliações adicionais, onde ele passou três dias.

“Aprendizados importantes foram extraídos dessas investigações que conduzirão nossa missão contínua de melhorar a segurança na Fórmula 1 e pelo automobilismo mundial. O compromisso duradouro da FIA, em particular do Departamento de Segurança, é com a redução dos riscos associados ao automobilismo que permitiu a Romain Grosjean manter a consciência e sobreviver a um acidente desta magnitude. A segurança é e continuará sendo a principal prioridade da FIA”, informa o presidente da FIA, Jean Todt.

A Haas

A Haas realizou algumas mudanças no seu carro para 2021, o acidente foi muito estrado, algo que não acontece normalmente, mas fez o time repensar na sua estrutura. O apoio de cabeça também foi modificado para um encosto um pouco menor, para evitar que ele se solte com o impacto.

As investigações da FIA e o que procurará ser mudado/melhorado

Em 2020 a FIA analisou 19 acidentes significativos, com a busca pela melhora da segurança e a federação está realizando trabalhos nas seguintes áreas:

Veículo

  • Regulação da frente da célula de sobrevivência, além de testes de carga adicionais nessa área
  • Revisão dos regulamentos existentes sobre os espelhos retrovisores
  • Revisão dos requisitos de montagem da coluna de direção
  • Revisão dos requisitos de regulamentação e homologação para montagem do apoio de cabeça
  • Análise dos modos de montagem e falha de montagem da unidade de potência
  • Projeto de pesquisa em andamento: Cabos de restrição de rodas (amarras)
  • Revisão do projeto de instalações de célula de combustível de segurança em todas as categorias de monolugares da FIA
Célula de Combustível do F1 – Foto: reprodução
  • Recomendações para as melhores práticas de instalação da célula de combustível de segurança
  • Atualização do padrão FIA para células de combustível de segurança
  • Revisão dos regulamentos para o projeto de conexões de segurança da célula de combustível e escotilhas de inspeção
  • Homologação de combustível para incluir compatibilidade de material da célula e combustível específico

O circuito

  • Funcionalidade aumentada para Software de Análise de Segurança de Circuito (CSAS), incluindo classificação quantitativa de probabilidade de impacto
  • Revisão das instalações existentes de abertura de barreira de circuito
  • Revisão das diretrizes / processo para homologação de circuito e renovação de licença

Equipamento de segurança dos pilotos

  • Investigação sobre melhorias no Índice de Transferência de Calor (HTI) das luvas
  • Projeto de pesquisa em andamento: Mecanismos de abertura / travamento da viseira; escopo do projeto estendido para incluir requisitos para garantir que os sistemas de abertura da viseira estejam operacionais após serem expostos ao fogo
  • Projeto de pesquisa em andamento: Sistema extintor para cockpit; escopo do projeto estendido para incluir investigação de mecanismos de ativação aprimorados

Médico e Resgate

  • Atualizações no equipamento do veículo de intervenção médica, incluindo tipos alternativos de extintores
  • Fornecer orientação ASN (Autoridade Desportiva Nacional) sobre descontaminação pós-incêndio
  • Desenvolvimento contínuo do módulo de treinamento de combate a incêndios da FIA para ASNs
  • Desenvolvimento contínuo do módulo de treinamento de segurança de alta tensão da FIA para ASNs
  • Desenvolvimento contínuo do módulo de treinamento de Comando / Coordenação de Incidentes da FIA para ASNs

Além disso, o Departamento de Segurança da FIA também está planejando outros projetos de pesquisa, como:

  • Investigação de opções para sistemas de alerta de proximidade e auxiliares de visibilidade eletrônicas
  • Pesquisa em opções de retrofit e atualização para melhorar o desempenho de impacto das barreiras de cotenção existentes
  • Pesquisa em novos sistemas de barreira, eficazes em uma ampla gama de condições de impacto
  • Pesquisa para avaliar meios de extinção de incêndio atuais, equipamentos de combate a incêndios e equipamentos de proteção individual e avaliar novas tecnologias
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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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