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Mulheres no Automobilismo: Hannah Schmitz, a complexidade do trabalho de uma estrategista

Novamente o nome de Hannah Schmitz começou a ser comentado, principalmente após a estrategista dar um baile nas decisões da Ferrari

No GP da Hungria onde Max Verstappen conquistou mais uma vitória e a Ferrari foi fadada ao fracasso, voltaram a falar muito sobre as estratégias. O nome de Hannah Schmitz esteve em alta, a estrategista da Red Bull conseguiu colocar o holandês no primeiro lugar, após o piloto realizar uma classificação ruim.

As estratégias em uma corrida são extremamente importantes: estabelecer metas, mas também reagir ao que está acontecendo na pista e aos seus adversários, pode determinar o sucesso e o fracasso de uma equipe. Ao longo do fim de semana os pilotos verificam os pneus e fazem diversas análises, para que aqueles que vão estabelecer as estratégias compreendam melhor a degradação dos compostos e o potencial de reação do equipamento.

Hannah Schmitz é uma engenheira talentosa e chefe de estratégia da equipe Red Bull na Fórmula 1. Durante o GP do Brasil de 2019 ela subiu ao pódio para receber o troféu com Max Verstappen.

Hannah subiu ao pódio com Verstappen, para comemorar a estratégia que garantiu a vitória para o holandês no Brasil – Foto: reprodução

Ela tem 13 anos de carreira na Fórmula 1, apenas nesta temporada conquistou 9 vitórias para o time austríaco, mesmo com a Ferrari contando com um carro muito forte. A estrategista pode passar por várias provas sem ser notada, mas combinada com a ação dos pit-stops e o trabalho dos pilotos, Hannah vem colaborando para que o time conquiste bons resultados, como no GP de Mônaco, quando a Red Bull conseguiu superar a Ferrari nas escolhas dos pneus. É especial reconhecer o trabalho de Hannah, principalmente quando a Ferrari peca justamente nas estratégias.

Hannah geralmente não vai para a estratégia mais mirabolante, mas está atenta ao que está acontecendo na pista. O desempenho de outros pilotos no meio do pelotão pode servir de referência para uma mudança repentina de compostos dos carros de Max Verstappen e Sergio Pérez.

“Então, como estávamos começando fora de posição, uma das estratégias que talvez seja a mais clássica é começar com os pneus duros que duram muito mais, principalmente com ultrapassagens mais difíceis na Hungria, então esse era o nosso plano”, revelou Schmitz depois do encerramento da prova para a Sky Sports.

“Mas também discutimos muito antes do início da corrida sobre a pista estar um pouco úmida e muito fria e poderíamos considerar os pneus macios como alternativa, porque pode ser melhor nessas condições e nas voltas de alinhamento para o grid, os dois pilotos falaram muito sobre quase não ter aderência, mesmo estando com os pneus macios”, comentou a estrategista sobre o trabalho realizado no GP da Hungria e que levou Max Verstappen à vitória.

Ao longo do fim de semana vários pilotos tinham reclamado do desempenho dos pneus e a falta de aderência. Antes da largada os engenheiros conversaram e discutiram as melhores possibilidades, então optaram por começar o GP da Hungria com os pneus macios, onde os pilotos poderiam usar um composto que tem um aquecimento melhor.

Antes de cada decisão, existe análise, mas também é necessário estar atento ao que acontece em pista e buscar a melhor forma para responder. Uma corrida é dinâmica e não é possível seguir uma fórmula – Foto: reprodução Red Bull

“Os engenheiros de corrida disseram: ‘não achamos que os pneus duros são uma boa ideia’, todos tivemos uma longa discussão sobre isso com Christian e decidimos mudar para os pneus macios. Havia um pouco de humidade no ar, então realmente era o melhor pneu para aquela condição”, informou Hannah.

Neste ano tivemos o exemplo de George Russell abandonando o GP da Inglaterra, após começar a corrida de pneus duros, além de todo aquele acidente que aconteceu na largada. A combinação de uma pista fria, mais os compostos duros podem ser uma alternativa bem desastrosa.

Schmitz chegou na Red Bull em 2009, ainda como estagiária, com formação em engenharia mecânica na Universidade de Cambridge. A britânica que sempre foi fascinada em carros, buscou uma oportunidade no time e foi crescendo, trabalhou com o time que cuida das simulações e na preparação para as etapas, antes de atuar na parte de estratégia.

“É incrivelmente alucinante. Você fica no limite quando toma uma decisão que vai definir algo em uma fração de segundos. Você tem, talvez, uns 20 segundos, que não parecem nada, mas em uma corrida, esperar esse tempo todo para ver se você tomou a decisão certa parece uma eternidade. Manter a calma é um dos atributos mais valiosos para quem é estrategista”, explicou Hanna.

Em uma matéria publicada pela Red Bull, o time informa que Hannah hoje se divide entre o pit-wall e as atividades na fábrica da equipe em Milton Keynes, onde também atua analisando uma série de dados em busca de melhorar a performance da Red Bull, especialmente durante os pit-stops. Mesmo com o time já dando um baile nas outras equipes durante as trocas de pneus.

“Somos todos uma equipe, então durante o fim de semana é muito colaborativo, ouvir diferentes opiniões e pontos de vista de todos porque nem sempre se trata apenas de números e dados”, comentou sobre como é a dinâmica no trabalho realizado nas pistas à Sky Sports.

“Os pilotos têm muita percepção sobre o carro, então levar isso em consideração e o que os engenheiros acham… discutimos tudo, mas no final do dia é uma decisão estratégica, então tomamos a decisão final, mas tentamos apenas fazer a escolha usando o máximo de informações que pudermos para tomá-la.”

E não é exatamente uma pesquisa enorme que vai influência na decisão, pois uma corrida é mutável, ela é viva, onde em qualquer momento é possível ser surpreendido por uma porção de variáveis.

“Acho que manter a calma é um dos atributos mais importantes de um estrategista. Uma dica que alguém me disse uma vez é que se você virar as mãos de modo que as palmas fiquem voltadas para baixo, isso ajuda a ser mais claro e autoritário no que está dizendo.”

Em um dia de corrida faz parte do seu cronograma participar de reuniões para conversar com os pilotos, engenheiros, Adrian Newey e Christian Horner, considerando os planos para a corrida. Além de trabalhar em conjunto com o chefe de estratégia Will Coutenay.

Na sala de operações, uma equipe de estrategistas executa os cálculos e simulações, antes de fornecer todos os dados ao membro da equipe que está no pit-wall e em conjunto eles tomam a decisão ideal.

Hoje os times conseguem ter acesso as imagens de outros pilotos na pista, dos rádios que são trocados e todos esses detalhes também acabam contribuindo para o que as equipes podem fazem em pista. Essa equipe por trás, também está avaliando os adversários diretos e isso também influência na abordagem do piloto em pista.

O desafio também é a gestão de pessoas e fazer com que o time confie nas decisões que serão tomadas.

“A que há muitas pessoas que inicialmente talvez não tenham confiança em você, para fazer o trabalho. Como estrategista você precisa dizer a muitas pessoas o que fazer e elas precisam ouvir você, então você está construindo essa confiança e acho que como mulher, infelizmente foi mais difícil, mas agora tenho esse respeito e espero que outras jovens que querem entrar no esporte vejam que você pode fazê-lo e veremos mais diversidade.

A imagem de Hannah com o troféu, marca o encerramento do GP do Brasil de 2019 – Foto: reprodução

Em 2019 Hannah subiu ao pódio para comemorar a vitória de Max Verstappen, foi uma corrida caótica, onde os dois carros da Ferrari se tocaram, Lewis Hamilton e Alexander Albon se tocaram, Pierre Gasly conquistou o segundo lugar e depois Carlos Sainz ficou com o P3.

Naquela prova a estrategista ousou, realizando uma terceira parada e mesmo ao perder a liderança da prova, o holandês tinha pneus novos com um carro de tanque mais baixo e pode buscar a vitória com propriedade. Como reconhecimento ao seu trabalho, Hannah foi ao pódio e ergueu o troféu para a torcida.

“Foi um momento incrivelmente especial, o auge da minha carreira. Eu tinha acabado de voltar ao trabalho depois de ser mãe, era algo gigante para mim, eu queria provar que continuava aqui, que poderia seguir fazendo meu trabalho bem. Foi uma experiência fantástica”, disse Hannah relembrando aquele grande momento.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.
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