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Muito além do dinheiro, como os pilotos são escolhidos na Fórmula E

Vamos fazer um exercício rápido? Que conjunto de equipe + piloto surge na sua cabeça diante das afirmações abaixo?

  1. Eles combinam perfeitamente!
  2. Ah, se ele tivesse um carro melhor…
  3. Mas por que deram um carro para essa pessoa?

Bom, provavelmente você deve ter pensado em uma série de combinações – atuais e antigas – para ilustrar as situações acima. mas você já parou de fato para pensar nos critérios que as equipes usam para escolher seus pilotos?

DINHEIRO! Provavelmente essa foi a sua primeira resposta. Sem julgamento, afinal, cada vez mais se fala de “pilotos pagantes, mas não é só isso. Existem critérios técnicos que vão muito além da grana.

A principal premissa é até simples e pouco surpreendente: quão rápido um piloto consegue impressionar em cada novo campeonato durante sua carreira. Através desse método nada científico, é possível perceber que um bom piloto consegue entender o carro, a equipe, os circuitos e, com prática, ter melhores resultados mais rapidamente quando comparado a outros.

Peter McCool, que  já trabalhou para a McLaren e para a Aguri na Fórmula 1, sendo responsável pela escolha dos pilotos da mesma Aguri no início da Fórmula E em 2014, falou para o portal The Race, em que hoje é consultor técnico que “se um piloto termina em segundo lugar no campeonato em seu primeiro ano de corrida, ele é melhor avaliado do que quem foi campeão em seu terceiro ano de competição”.

Usando dados concretos, as equipes fazem uma análise da quantidade de pódios alcançados versus os números de corridas disputadas. As melhores apostas estarão na parte superior esquerda do gráfico.

Além da performance e talento puro, outros fatores também influenciam a escolha de um piloto. As principais são as seguintes:

  • Dinheiro
  • Conhecer o dono/diretor da equipe
  • Conhecer o patrocinador principal
  • Estar no lugar certo, na hora certa
  • Ninguém mais estar disponível

McCool relembrou uma situação acontecida em 2014, nos primeiros testes da Fórmula E, quando Katherine Legge, falou com todas as pessoas que ela conhecia no paddock e no pitwall. A alta cúpula da Aguri estava reunida com o principal patrocinador da equipe, então ela se aproximou e se apresentou a eles. Após uma breve conversa, os figurões ficaram impressionados com o profissionalismo demonstrado por Legge e deram um lugar para ela na equipe. McCool também confessa que ter uma pilota na equipe geraria um bom marketing para o time e que bom marketing ajuda a pagar as contas.

Legge disputou apenas duas corridas pela Aguri, mas em sua defesa, outros pilotos passaram pela equipe naquele mesmo ano e duraram tanto quanto ela na super movimentada primeira temporada da Fórmula E, entre eles Charles Pic, Michela Cerruti e Jaime Alguersuari. Todos saíram por diferentes motivos.

Katherine Legge hoje é piloto da Jaguar i-PACE eTROPHY

A escolha dos pilotos é primordial não só para a equipe e seus investidores, mas também para os engenheiros. Para McCool existem quatro postos-chaves que afetam a performance do carro e que devem ser otimizados pela equipe da engenharia: motor, chassis (aerodinâmica e suspensão), pneus e o piloto. Ou seja, o piloto representa apenas 25% do todo. Entretanto, considerando o trabalho feito no primeiro ano da Fórmula E, os três primeiros itens da lista são aprimorados com mais facilidade, então ter um piloto rápido e um engenheiro competente acabam tendo mais peso na balança.

O principal atributo de um piloto? Na opinião de Peter McCool é a inteligência, especialmente na Fórmula E. A capacidade de usar o cérebro para executar outras ações enquanto se está no cockpit. Os pilotos não possuem telemetria, eles precisam se comunicar o tempo todo com os engenheiros sobre energia e mais uma série de dados. É como se a pilotagem em si fosse feita inconscientemente. Essa característica é ainda mais crucial na Fórmula E porque os circuitos são estreitos, quase sem área de escape e as pistas são irregulares, ou seja, os pilotos possuem um grande desafio em mãos.

“Os melhores pilotos (ou quase todos) são muito inteligentes”, afirma McCool. “Eles possuem capacidade cerebral acima do necessário para guiar um carro. Isso permite que eles tirem o melhor proveito de qualquer situação inesperada durante uma corrida – eles possuem uma habilidade extra e a usam para tomar decisões melhores durante as provas. Alguns pilotos precisam usar toda a sua energia mental o tempo durante a pilotagem, então uma surpresa acontece e eles não possuem aquela capacidade extra necessária, aí acabam tomando decisões ruins”, completa o consultor.

É preciso ser capaz de entender o que acontece ao seu redor em um ambiente de alta pressão, assim como saber diferenciar o que é importante e o que não é. Ter foco é uma característica valiosa na opinião de McCool.

Por isso é importante treinar. Após um piloto ser escolhido, existem maneiras de ajudá-lo a evoluir através da prática. O simulador se tornou uma ferramenta poderosa nesse quesito.

O consultor afirma que o simulador ajuda a avaliar o desempenho do piloto sob pressão, se usado corretamente. Uma possibilidade é replicar situações de estresse que podem acontecer durante uma corrida, dessa forma, o piloto estaria mais bem preparado para encará-las numa prova real. Mais focados e calmos, os pilotos seriam capazes de aprender mais sobre eles mesmos e melhorar suas reações para obter melhores resultados na pista.

Fonte: Fórmula E

Na opinião de Peter McCool, pilotos desempenham um papel significante na equipe e, por isso, conseguir alguém que se ajusta corretamente no ambiente ou que leva o time para frente também é uma importante característica a se considerar quando se escolhe um piloto. Segundo ele, alguns são lobos solitários, enquanto outros são ótimos quando jogam em grupo.

Muitas vezes, é absolutamente vital avaliar a personalidade do piloto depois de julgar objetivamente seu desempenho e decidir se ele é “o cara” para a equipe – completa McCool.

Texto adaptado do The-Race.com

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