ColunistasFórmula 1

Mais uma Fórmula 1 para a conta e lágrimas derramadas pela pista, uma forma de agradecimento a todos os envolvidos

lll São Paulo, 17 de novembro de 2018

Esse foi o ano que eu mais demorei para contar a minha experiência na Fórmula 1, mas o motivo é que me faltoram palavras para descrever esse momento.

Estive em Interlagos por duas vezes este ano. A primeira, foi em março, para o show do The Killers no Lollapalooza. Foi uma sensação bizarra no dia, porque eu estava indo para o autódromo não para ver uma corrida, mas para ir no show da minha banda favorita de todos os tempos. Presenciei ali algo mágico. Fui sozinha, encontrei com amigos de internet e outros que fiz pelo caminho, dancei, cantei, fiz uma tatuagem dias depois para marcar esse momento e no final das contas tudo isso aconteceu em Interlagos.

No mesmo dia do show, a temporada da Fórmula 1 estava retomando, foi o primeiro GP de 2018, tendo a Austrália como sede da primeira corrida. Eu já estava eufórica por ver a corrida que mal consegui retomar o sono para descansar e seguir para o show do TK.

Retomo essa história porque dias antes a realização do GP do Brasil, na fase de conhecer os procedimentos de segurança para a corrida, o Alexander Grünwald disse que em todos esses anos de cobertura em Interlagos, ele seguia para olhar o “S” do Senna, sendo a forma que ele encontrou de registrar que esteve ali e participou daquele momento.

 

Durante a sexta-feira de treinos livres quando estávamos passarinhando pelo paddock (outro termo que este amigo gosta muito de utilizar), nós fomos exatamente observar este ponto da pista. Ai meus amigos eu simplesmente cai em lágrimas. Foi um misto de emoções que não cabia no peito, eu estava vendo o ”S” do Senna e me recordando que naquele dia 25 de março eu havia passado por ele para ir em direção ao palco em que o The Killers tocaria naquela noite. Chorei ao ver os carros passando pela zebra e na retomada de aceleração haviam faiscais saindo dos seus assoalhos. E chorei mais ainda me lembrando dos amigos que marcaram 2018 em dois momentos diferentes naquela pista.

Eu nunca tinha realizado esse ritual, até porque ele não fazia parte da pessoa que eu era até aquele momento, mas fez total diferença para quem eu sou hoje.

Engraçado pensar que naquele pedacinho de observatório, Damon Hill estava fazendo exatamente a mesma coisa e ao olhar para o lado depois de me assustar, eu fiquei com um sorriso no rosto, mas mais do que isso, me senti mais leve. Todos precisam do seu momento de encontro, do que chamamos de ponto de paz.

 

Foi um dos finais de semana mais intensos na minha vida, teve coletiva do Lewis Hamilton na quarta-feira e a retirada da credencial; uma quinta-feira de autódromo, onde eu simplesmente fui lá, ainda que sem a menor pretensão e foi incrível! E o resto do final de semana com coisas que as pessoas acham que sabem, mas pouco têm ideia se nunca estiveram ali.

Não foram os meus cliques pelo autódromo que me deram a sensação de acordar e acreditar que aquilo era real, mas foi a foto que a McLaren postou… onde eu estou sentada de frente para Sérgio Sette Câmara e Gil de Ferran. Além de ter perto de mim jornalistas incríveis como Livio Oricchio, Julianne Cerasoli, Leonardo Marson e outros que são reconhecidos e fazem trabalhos excepcionais. Bom foi neste momento que eu entendi que não era menos que eles, mas que podia aprender muito mais observando exatamente todos.

 

 

Para quem não tem oportunidade de ir em corridas fora do seu país, esse é o momento que a gente tem de encontrar todas aqueles que passamos ao logo do ano admirando os seus trabalhos. E para os que apenas fazem a cobertura do Brasil é a oportunidade de se ver, até porque mesmo sendo daqui de São Paulo, são poucas as oportunidades que temos de nos encontrar, justamente por conta da vida corrida e dos trabalhos que cada um realiza ao longo do ano.

O Grande Prêmio do Brasil é aquele final de reconhecimento, é quando acabo tendo certeza que acordar de madrugada, abrir mão de algumas coisas nesses 365 dias, vale a pena. É o momento que eu tenho acesso a minha recompensa e sou muito grata por ter essa chance.

A cada ano eu não acredito a abertura que me deram e o que cada um me proporcionou, estou ainda absorvendo tudo o que eu presenciei para me tornar uma pessoa melhor.

Grün por você estar mais leve e irradiar tanta alegria notável nesses quatro dias, você não deve ter noção do quanto foi especial estar ao seu lado e ter tido a oportunidade de escutar as suas histórias, os seus ensinamentos e compartilhar desse momento que você está vivendo. Essa parte é para te agradecer por tudo o que você fez por mim, não somente neste ano, mas desde 2015 quando foi a primeira vez em que eu te vi, justamente em uma Fórmula 1 (Eu chorei duas vezes com você esse final de semana e estou com os olhos cheios de lágrimas por lembrar desses momentos agora…).

Foi sensacional ir no evento da Julianne Cerasoli e do Boteco F1 e ver meus amigos comemorando por eu ter chegado e depois ver isso se repetir no Juarez no dia seguinte. Vocês não sabem o quanto me fazem me sentir imensamente amada.

lll Nota do editor: enquanto a Débora laborava eu tietava!!!

 

Para encerrar esse texto/carta que já está longo. Gostaria de dizer para a Débora de todos esses momentos que ela precisa aproveitar as pequenas coisas e não ficar focada em apenas um ”objetivo”. Menina você ainda tem o direito de experimentar, de conhecer o mundo e explora-lo, não precisa se fechar em uma bolha e nem ser sempre 100%, mas aproveite todas as portas que se abrirem pelo seu caminho.

Foi incrível ir nas coletivas, conversar no paddock, abraçar as pessoas, conhecer outras tantas. Reconhecer que é possível se virar e olha vai surgir a oportunidade de conversar em inglês, português e espanhol ao mesmo tempo, mas quando tem gente disposta a te entender, tudo pode dar certo.

Além desses momentos teve a coletiva do Antonio Giovinazzi que foi um máximo, sim ele é a minha aposta para a Fórmula 1 e alguém que eu admiro muito. A coletiva dele estava por um fio de não acontecer e por ir até lá, eles fizeram ela acontecer. Dar oportunidades para pilotos ainda não grandes e equipes que estão crescendo é ótimo, porque incentiva eles a fazerem material já que ainda tem uma parcela que se interessa por eles. Todo mundo quer saber o que Hamilton e Vettel tem para falar, mas são nessas pequenas oportunidades que podemos ter a diferença.

 

Termino aqui com a sensação de que este momento foi impagável, outros iguais não podem acontecer, mas coisas melhores estão reservadas para o nosso futuro.

Obrigada a todos que fizeram a diferença (são tantos que não consigo colocar todos os nomes), que acreditaram em mim e nesse projeto chamado Boletim do Paddock.

Livio obrigada por mais uma vez me receber tão bem e ser mais um que acredita na minha capacidade, obrigada por todo o suporte e apoio.

Obrigada a todos que organizam o GP do Brasil, vocês deram essa oportunidade para nós em 2015 e somos eternamente gratos por ela. 

Rubens obrigada por não ter deixado eu desistir.

Débora

Mostrar mais

Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

Deixe uma resposta

Botão Voltar ao topo