Ano atípico
No último final de semana (19/09 e 20/09), a bandeira verde tremulou para a edição de número 88 das 24 Horas de Le Mans, uma das provas mais tradicionais do automobilismo mundial. Por conta da pandemia, a corrida foi realizada sem a presença do público. Mesmo assim, não deixou de ser histórica. Além da presença de sete brasileiros (dois destes estiveram presentes no pódio), a corrida contou com duas equipes femininas e algumas reviravoltas. A Toyota conquistou o terceiro título com protótipo #8, comandado pelo trio Kazuki Nakajima/Brendon Hartley/Sebástien Buemi.
Os brasileiros em La Sarthe
A participação dos brasileiros, no geral, foi positiva e rendeu dois pódios. Na LMP1, a Rebellion conseguiu a 2ª posição geral e Bruno Senna se iguala a José Carlos Pace, Raul Boesel e Lucas Di Grassi no melhor resultado de representantes do país em Le Mans. A Rebellion anunciou sua saída do campeonato, ou seja, não estará presente nas próximas edições das 24 Horas.
“Estou contente. Foi um resultado muito positivo quando você considera que a gente realmente não tinha chance de lutar contra a Toyota, pela vantagem muito grande de tecnologia. Então, para gente conseguir bater uma delas em termos de confiabilidade e fazer o carro funcionar bem a corrida toda foi uma vitória muito grande pra equipe”, declarou Bruno Senna.
Na LMP2, a United Autosports dominou, engoliu a Jota na parte final e Phil Hanson, que guiou no último turno, foi campeão da temporada 2019/20 por antecipação, junto ao português Filipe Albuquerque.
A Signatech-Alpine Elf, até então bicampeã seguida da corrida, campeã do WEC com André Negrão, veio de último para chegar em 4º na classe, e oitavo na geral. O piloto brasileiro, que correu ao lado de Thomas Laurent e Pierre Ragues, saiu satisfeito.
“Foi bom… eu até falei pro pessoal aqui que, pra mim foi como a vitória do ano passado. Porque sair lá de trás, com problema no motor, caminhar, correr pra caramba a noite inteira, forçando tudo o que dava… cara, foi sensacional – de verdade. Vou falar pra você: não foi mais legal que no ano passado, mas foi melhor que 2018, muito mais legal, cara. Mesmo não tendo subido no pódio, foi animal”, contou André em mensagem via WhatsApp para o portal Grande Prêmio.
Na LMGTE-PRO, a Aston fez uma corrida sólida contra o trio campeão da prova ano passado e se tornou campeã por antecipação no campeonato de construtores do WEC. Bater James Calado/Ale Pier Guidi/Daniel Serra em condições normais seria uma tarefa a se cumprir para Alex Lynn, o belga Maxime Martin e o britânico Harry Tincknel. Entretanto, a equipe do carro #97 fez o dever de casa e garantiu a vitória.
Daniel Serra, piloto da Ferrari na Equipe AF Corse, mostrou para o que veio, deixando Tincknell para trás várias vezes e em apenas quatro participações nas 24h de Le Mans, registra duas vitórias, três pódios e um 5º lugar.
Na LMGTE-AM, a Aston Martin também levou a melhor. O #90 do time cliente TF Sport foi superior numa apresentação muito boa do trio Salih Yoluç/Charlie Eastwood/Jonathan Adam – este último chega à segunda vitória em classes nas 24h de Le Mans.
A participação brasileira foi positiva na classe: Oswaldo Negri/Francesco Piovanetti/Côme Ledogar ainda terminaram em sétimo lugar na categoria, uma posição adiante de Ross Gunn/Paul Dalla Lana/Augusto Farfus.
“Fiquei super feliz com o nosso 7º lugar”, ressaltou Oswaldo Negri. “Não começou fácil, quando aquele protótipo se atirou na primeira curva por dentro e eu fui para a parte molhada da pista. Tive sorte dos pneus não terem estourado, senão já tinha ido tudo ali. O carro estava fantástico, tinha um grande balanço. Francesco (Piovanetti), que é quem banca tudo, fez um excelente trabalho, não cometeu nenhum erro a corrida toda. O Côme (Ledogar) é espetacular. Garoto novo que acelera muito. Já vi cara bom, mas ele é fora da curva”, finalizou o piloto da Luzich Racing.
Felipe Fraga teve uma corrida com alguns percalços que incluíram um toque com um protótipo que atrasou o Porsche #57 que dividiu com Ben Keating e Jeroen Bleekemolen, seus parceiros do último ano. Perderam 13 voltas em relação aos primeiros e, após um longo conserto, fecharam em 14º na classe – oitavo para efeito de pontos no WEC entre os pilotos dessa categoria.
E o estreante Marcos Gomes teve momentos de triunfo. Mas os turnos de Morris Chen foram sempre problemáticos e, numa das saídas de pista do oriental, o carro #72 não pôde mais retornar à disputa. Com 273 voltas e 20h06min cumpridos, tiveram de abandonar.
A ligação e a punição…
Na sétima hora da corrida, o protótipo Oreca 07-Gibson da equipe Jackie Chan #37, que corria na classe LMP2, sofreu um problema elétrico, mas conseguiu ir aos boxes, já que Aubry, que estava na direção, saiu do carro e fez uma ligação com telefone celular ao time. Posteriormente, foi descoberto que um membro da equipe encontrou Aubry e forneceu um componente que ajudou no reparo, o que é contra o regulamento, já que pilotos só podem receber ajudas verbais.
Girl Power!
Na edição de 2020, as mulheres fizeram história. As equipes Richard Mille Racing Team (Tatiana Calderón/Beitske Visser/Sophia Flörsch), da categoria LMP2, e a Iron Lynx (Manuela Gostner/Michelle Gatting/ Rahel Frey), entraram na pista e ficaram entre as 10 melhores em suas respectivas categorias. Na LMP2, as estreantes terminaram na 9ª colocação, conquistando o 13º lugar geral.
Na LMGTE-AM, as pilotos, que já haviam participado de outras edições da corrida francesa, conquistaram a 9ª colocação e o 32º lugar geral. Ambas equipes terminaram no Top-10 em suas categorias. Sem dúvidas, foi uma ótima forma de representar as mulheres na competição.