Assim como em outras grandes categorias do esporte a motor espalhadas pelo mundo, a Fórmula E também possui a sua “silly season” ou “dança das cadeiras” como também dizemos aqui no Brasil. E podemos dizer que ela começou na época certa. Se estivéssemos em um mundo normal, o mês de julho marcaria o encerramento da temporada 6 e o início dos preparativos para o próximo ano elétrico. Porém, esse mundo está mais anormal do que nunca, então a movimentação das principais peças da categoria começou antes da temporada acabar.
A primeira peça a ser mexida em um grande movimento foi Pascal Wehrlein. O alemão surpreendeu a todos com o anúncio da sua saída imediata da Mahindra, logo após o fim do campeonato virtual da Fórmula E, no qual foi vice-campeão. Poucas semanas depois da confirmação, a equipe anunciou que Alex Lynn será o substituto de Wehrlein. Outra surpresa, já que Lynn estava na reserva da Jaguar, após ter sido titular da própria Jaguar e ter passado pela Virgin. A imprensa estrangeira aponta a Porsche como destino de Wehrlein, o alemão entraria no lugar de Neel Jani que tem apresentado resultados muito inferiores aos de Andre Lotterer.
Se ninguém esperava a dupla jogada a Mahindra, essa semana, foi Sam Bird quem virou o centro das atenções por um movimento chocante. Começaram a circular boatos de que o inglês deixará a Virgin e irá para a Jaguar, um passo ousadíssimo. Bird já revelou em entrevistas que está cansado que ser o “quase-campeão” da Fórmula E, então até faz sentido que ele queria buscar uma equipe que ofereça o que a Virgin não tem sido capaz.
O problema é que a Jaguar ainda não está 100% estabelecida como uma das “grandes” da categoria. Foram apenas duas vitórias desde a temporada 4 e o ano de estreia da equipe foi marcado por inúmeras quebras. Mitch Evans tem, basicamente, levado a equipe nas costas desde o início, já que James Calado e o próprio Lynn não foram capazes de acompanhar o ritmo do neozelandês. Quem mais se aproximou de Evans foi Nelsinho Piquet, mas o brasileiro rompeu com a equipe no meio da temporada passada.
Ok, a Jaguar vem numa crescente de performance e pode surpreender próximo ano, mas não dá para apostar muitas fichas ainda. Mesmo assim, tudo indica que Sam Bird vai tentar. A chegada de Bird, aliás, seria ainda mais vantajosa para o time inglês que teria seu instável segundo assento ocupado por um piloto experiente, rápido, confiável e que traz uma bagagem de conhecimento de uma equipe vitoriosa na Fórmula E. Bird está na Virgin desde o início da sua jornada na categoria e é o único piloto a vencer pelo menos um eprix por ano até agora. Caso a mudança seja confirmada, certamente será um grande ativo para o time liderado por James Barclay.
Entre as consequências da jogada de Sam Bird estão sua substituição por Nick Cassidy (26 anos, Nova Zelândia). O piloto participou do teste de novatos pela Virgin em março deste ano, marcando o melhor tempo geral, e ainda disputou o campeonato virtual da Fórmula E conquistando um pódio. Cassidy pilotou pela Virgin enquanto Sam Bird estava sem conexão com a internet. Dado esse histórico, a escolha de Nick é bem plausível, o piloto parece ter agradado bastante a equipe, então não será nada surpreendente se a Virgin realmente fizer esse movimento no tabuleiro. O que pode ser inesperado para alguns é a saída de Robin Frijns da equipe, dizem por aí que o alto escalão da Virgin, entre eles o team principal Sylvain Phillipi, estão insatisfeitos com o desempenho do holandês esse ano. Mas ainda são conversas pequenas, sussurros. Vamos aguardar.
O que é interessante no envolvimento de Nick Cassidy nessa história toda é o que piloto teria recebido uma oferta para correr na maratona de Berlim pela… Mahindra! A equipe indiana teria entrado em contato com ele antes de fechar com Alex Lynn. Cassidy teria recusado porque atualmente disputa a Super Fórmula no Japão e teria um choque de datas com uma das rodadas duplas. Aparentemente Nick saiu ganhando, já que deixou de competir em seis corridas para ficar com um contrato de temporada completa em uma equipe mais forte.
Mas o jogo está apenas começando. Vale lembrar que mesmo os dois pilotos anunciados para Berlim (René Rast na Audi e Daniel Abt na Nio) não são certezas para o ano que vem. As próximas jogadas desse tabuleiro podem atingir cerca de metade do grid ainda. Vamos acompanhar e ver quem vai dar o checkmate.