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Hamilton e o auge: ignorar seu talento é imoral

Auge: Que se encontra no mais alto grau; que possui a maior intensidade; ápice ou apogeu: no auge da vida; no auge da profissão; no auge da tristeza.”

Há uma sensação de calma em relação a Lewis Hamilton que não esteve presente em sua carreira na Fórmula 1.

Hamilton parece estar em paz consigo mesmo e com sua equipe Mercedes. Essa serenidade nesta temporada contribuiu para que ele esteja próximo do seu quinto campeonato mundial, com três grandes prêmios de sobra na temporada de 21 corridas depois de uma intensa batalha com Sebastian Vettel da Ferrari.

O inglês não tem a intenção de aliviar, não quando ele diz que “é difícil me superar“. Apesar do autoelogio, ele insiste, com um pressentimento, de que ainda resta espaço para melhorias.

Com as regras da Fórmula 1 definidas ​​para as próximas três temporadas, há todas as possibilidades de que a Mercedes continue com seu domínio, com Hamilton se aproximando dos recordes de sete títulos e 91 vitórias na carreira de Schumacher. Hamilton tem 71.

lll Primórdios

Recorda-se daquele guri criado pela McLaren que em muitos momentos decisivos errava de forma infantil? Este piloto está na consolidação de seu amadurecimento e aperfeiçoamento gigantesco da sua pilotagem. O seu talento estaria próximo do auge.

Voltemos à 2011, onde o inglês esteve em nível universitário, com diversas bobagens e punições, se comportando como um verdadeiro mimado (durante punição sofrida no GP de Mônaco daquele ano, bradou que “foi punido por ser negro”). E tudo isso em meio ao assessoramento de Simon Fuller, produtor de televisão que colocava diversas estrelas ao seu entorno do paddock, como Rihanna; tirando o foco do que ele realmente sabia fazer: pilotar um automóvel. Também vivia às voltas num relacionamento conturbado com a cantora Nicole Scherzinger.

Desde que rompeu com o produtor de TV e a respectiva dama em 2014, o piloto voltou suas atenções para as corridas e se tornou outro piloto. O pé parou de tocar o freio e acomodou-se no acelerador. Atualmente Lewis é um piloto seguro, menos propenso a erros e muito mais eficiente nas ultrapassagens e no computo geral.

Obs.: a separação “comercial” com o pai, antes seu empresário, também parece ter tido certa importância no seu desenvolvimento como homem, acima do corredor de automóvel.

lll Rosberg

Sua eficiência fez um piloto (inicialmente com um desempenho bem mediano) como Nico Rosberg se tornar outro desde quando dividiram os boxes na Mercedes. Esse processo de Hamilton forçou o alemão a sair da sua “zona de conforto” dentro da equipe, já que vinha superando um campeoníssimo velho, errante e extremamente inconstante. Quem seria esse? Nada mais, nada menos que Michael Schumacher.

Rosberg passou a ser um piloto muito melhor em voltas lançadas (chegando a rivalizar e superar o inglês em 2014), mais agressivo e com mais gana de querer ser campeão, mesmo que com condutas questionáveis.

Não obstante, este precisou de uma dedicação integral para superar o talento natural do inglês. E conseguiu em 2016. E boa parte desse título de 2016 o filho de Keke Rosberg deve ao Hamilton, por desbloquear um potencial que ele tinha, mas que ele nunca tinha utilizado até então.

Uma aspa aqui: Alain Prost costuma dizer que se não existisse Ayrton Senna, ele não teria atingido o seu auge de talento na Formula 1. É válido dizer o mesmo para Senna.

Daí Schumacher parou. Rosberg então, diante ao alto desgaste que foi ao conquistar esse título e sabendo que o Hamilton teria grandes chances de superá-lo novamente no ano seguinte, seguiu o caminho do compatriota, surpreendendo o mundo da Formula 1.

lll Ápice

Lewis Hamilton tem 33 anos, justamente a idade em que, para muitos, o seu ídolo Ayrton Senna fez a sua melhor temporada da carreira em 1993. Michael Schumacher, também aos 33, estava esmagando a concorrência em 2002 chegando ao pódio em todas as provas e, assim como ele, conquistando o pentacampeonato nessa idade (com uma antecedência recorde de seis provas) e igualando Juan Manuel Fangio. Dois dos maiores pilotos da história da categoria.

Pilotos de corrida costumam demorar para se desenvolver, muito por conta da dificuldade enfrentada na relação com o carro (embora hoje em dia reduzida consideravelmente), transferência de responsabilidade e sobretudo, os níveis de cobranças encontradas na categoria máxima do automobilismo, comparadas as categorias predecessoras (GP3, F2 etc).

Lewis parece ter uma confiança inabalável, uma estrela gigantesca (antes azarado, hoje lembra Schumacher de 2001 até 2004 e também como diz o ditado: a sorte acompanha os grandes campeões) e transparece uma tranquilidade e serenidade sem precedentes. Ao contrário do seu concorrente ao título nesse ano, Sebastian Vettel.

Ickx, Senna e Schumacher passavam longe de um vendedor de capa de chuva e Hamilton parece ter pego a sua senha.

Estamos diante de um piloto que está escrevendo seu nome na história. E o que penou muito, para fazer valer o enorme talento que tem. O diamante tá pronto, é muito valioso e brilha bastante.

Por fim, ao conquistar o tetracampeonato em novembro de 2017, Lewis Hamilton refletiu sobre o seu futuro e o desafio de igualar os recordes de Schumacher:

“Há desafios para tornar a vida interessante”, diz Hamilton. “A jornada de superá-los e, com sorte, ter sucesso, é o que torna a vida significativa.”

Que ela seja interessante.

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