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Estratégia de apenas uma parada se mostra eficiente na Bélgica, apesar da desclassificação de Russell

Mesmo não acreditando que fosse possível, George Russell terminou a corrida na liderança, fazendo apenas uma parada

O GP da Bélgica foi marcado como a última prova antes do início das férias da Fórmula 1. Lewis Hamilton herdou a vitória, após George Russell ser desclassificado, já que o carro não estava dentro do regulamento.

Ainda na sexta-feira, quando o dia estava bem encoberto, as equipes detectaram um grande desgaste dos pneus. Parte da pista foi recapada, assim os competidores lidaram com dois tipos de asfalto: o antigo que era mais abrasivo para os pneus e, o novo que fazia os compostos agarrem no asfalto, proporcionando mais aderência. Esse contanto com o solo mudou a percepção dos competidores e dificultou ainda mais para as equipes encontrarem o melhor acerto para os carros.

No entanto, as simulações de corrida foram realizadas com a pista mais fria na sexta-feira, quando a granulação apareceu nos pneus, o comportamento dos compostos foi diferente no domingo, permitindo até mesmo que George Russell arriscasse concluir a corrida com apenas uma parada.

O sábado foi marcado por ser um dia chuvoso, desta forma os pilotos economizaram pneus slick e trabalharam com os pneus de chuva (intermediários e de chuva extrema) ao longo do TL3 e classificação. Aliás, o TL3 teve basicamente 15 minutos de atividade real (os dez primeiros minutos da sessão e, os últimos cinco), pois passou parte em bandeira vermelha; a primeira sendo provocada por uma batida de Lance Stroll e a outra pela chuva ter intensificado e as equipes ficarem reclusas nos boxes.

A situação dos pneus parecia ser confortável para o fim de semana, mas algumas equipes ainda conseguiram ficar limitadas.

Vamos aos dados: a Red Bull guardou um jogo de pneus duros novos e dois jogos de pneus médios para os seus pilotos. A Mercedes pensou diferente, já que os pneus duros funcionaram para a equipe na Hungria e reservaram dois jogos de pneus duros novos e um jogo de pneus médios. A estratégia da Mercedes foi a mesma usada pela McLaren e a reservada para Carlos Sainz. Charles Leclerc, por outro lado, contou com dois pneus duros e dois pneus médios para a corrida.

Os compostos macios sobraram para essas equipes e em um outro momento, seria muito bem-vindo tem esses compostos disponíveis, mas diferente do que vimos anos passado, uma combinação de pneus macios e médios para executar a corrida na Bélgica – neste ano as equipes estavam dispostas a evitar os pneus macios, por conta da abrasividade.

Na turma do final do pelotão, como Williams, Aston Martin, Racing Bulls e Sauber, a ideia foi conservar dois pneus médios para a corrida e contar com um jogo de pneus duros. Daniel Ricciardo e Yuki Tsunoda não tinham pneus duros novos, os pilotos já tinham preparado esses compostos anteriormente.

As equipes largaram com a marca de fazer duas paradas, a Pirelli acreditava que era o melhor para os pneus e esa demonstrava ser a melhor estratégia com os dados colhidos no domingo

Disponibilidade de pneus para a disputa do GP da Bélgica – Foto: reprodução Pirelli

A Alpine foi no padrão dos de McLaren e outros, reservando dois jogos de pneus duros e um composto médio para Pierre Gasly e Esteban Ocon.

Na largada, apenas Daniel Ricciardo usou os pneus macios e esse foi basicamente o único competidor que trabalhou com este composto na prova. Sergio Pérez instalou um jogo de pneus macios no final da corrida, mas foi apenas para registrar a volta rápida.

Carlos Sainz e Zhou Guanyu foram os únicos pilotos que apostaram nos pneus duro para a largada. A ideia da Ferrari era trabalhar com a estratégia de apenas uma parada, mas não funcionou como o esperado e Sainz tinha mais há perder do que fazer uma segunda troca de pneus. O espanhol chegou a liderar a corrida, mas não era algo palpável, pois precisava cumprir a sua parada obrigatória – realizada apenas na volta 20.

Na sequência, Sainz fez apenas um stint de oito voltas com os pneus médios, parando uma segunda vez para instalar o seu segundo jogo de pneus duros. O espanhol cruzou a linha de chegada em 7°, mas foi promovido para o 6° lugar com a desclassificação de Russell.

No caso de Zhou, não deu para saber como a Sauber trabalharia, pois o competidor enfrentou um problema no carro e abandonou a corrida muito cedo, antes mesmo das primeiras paradas começarem.

A estratégia de apenas uma parada funcionou com George Russell, o piloto da Mercedes completou 10 voltas com os pneus médios e fez a sua substituição para os pneus duros. Vendo seu ritmo e a corrida que estava realizando, optou por permanecer na pista e não fazer a segunda parada.

O competidor atingiu a liderança da corrida na volta 31 e não saiu mais, mesmo com Lewis Hamilton se aproximando, tentando ultrapassar o companheiro de equipe. Oscar Piastri também buscou a dupla da Mercedes, mas não conseguiu superar os adversários.

DESCLASSIFICAÇÃO DE GEORGE RUSSELL

Russell foi desclassificado pelo carro estar abaixo do peso mínimo. Quando a Mercedes realizou a drenagem do combustível, identificaram que o seu carro estava com 796,5 kg, 1,5 kg abaixo do que o regulamento determina. Acredita-se que o problema foi gerado pela Mercedes ter realizado a corrida no limite e por Russell não fazer a segunda parada, os compostos degradaram além do ideal, afetando diretamente no peso do carro.

    • Na Bélgica, por ser um circuito extremamente extenso, os pilotos não fazem aquela volta adicional cumprimentando os presentes. Neste momento é quando os pilotos acabam passando pelos pedaços de borracha que se soltam ao longo da corrida, aquilo ajuda a adicionar peso no carro;
    • Estima-se que em alguns circuitos os pilotos conseguem adicionar cerca de 2 kg ao peso do carro, recolhendo a borracha e detritos de pista (como a brita). Mas na Bélgica eles não têm essa oportunidade;
    • O pneu de Russell mostrava um desgaste visível ao final da corrida e estava liso quando foi encaminhado para a verificação – não apresentando sinais de granulação. Russell pode ter sido afetado pela escolha de apenas uma parada que ajudou na redução do peso do carro;
    • No entanto, geralmente as equipes vão para a prova, trabalhando próximo do peso mínimo, pois ter mais peso no carro, significa um carro mais lento. Geralmente essa margem “de estar abaixo” é de algumas gramas, os pilotos acabam buscando essa borracha extra na pista, apenas para não ser desclassificado por algumas gramas, mas no caso de Russell a punição foi por 1,5 kg;

A estratégia usada com Russell foi bem efetiva, pois permitiu o piloto vencer uma corrida, além de ter se mostrado a escolha mais rápida, mesmo que os times não estivessem confiantes de fazê-la funcionar. Lewis Hamilton até chiou no final da prova, pela Mercedes não ter usado a melhor estratégia com ele, mas a equipe estava mais preocupada com preservar o competidor de uma aproximação de Oscar Piastri e Charles Leclerc. No fim, talvez tenha sido melhor não usar uma estratégia de uma parada, se a Mercedes estava no limite e poderia gerar uma desclassificação para Hamilton.

Sobre a estratégia de George Russell temos um comentário bem interessante de Mario Isola, diretor de motosport da Pirelli:

“Indo para a corrida, afirmamos que uma parada não era rápida o suficiente em comparação com duas paradas, mas deixando de lado a desclassificação de Russell, seu desempenho refutaria essa teoria. Para uma explicação preliminar, pelo menos em termos de comportamento dos pneus, há alguns fatores que se destacam. Primeiro, a temperatura da pista de hoje estava cerca de 10 graus mais alta do que durante o TL2 [usado para a simulação de corrida] e isso provavelmente contribuiu para uma granulação muito limitada no pneu duro, que por outro lado foi muito significativa nos médios em um longo período.”

“Além disso, podemos assumir que as equipes trabalharam duro para definir a configuração do carro para encontrar o melhor acerto entre uma classificação molhada e uma corrida seca e para tentar proteger o eixo dianteiro, que era mais propenso a granulação. Um terceiro elemento a considerar é que muitos pilotos fizeram questão de cuidar de seus médios com muito cuidado, especialmente nas curvas mais rápidas”, comentou Isola.

A diferença de peso não tem nem contestação da equipe, o carro foi pesado na balança interna e externa da FIA, mostrando o mesmo peso do carro de Russell. Um membro da equipe acompanhou a verificação e também confirmou que o carro não estava dentro do regulamento. A desclassificação é a única punição possível.

AS ESTRATÉGIAS

Estratégias trabalhadas ao longo do GP da Bélgica – Foto: reprodução Pirelli
  • A corrida foi sustentada no trabalho com os pneus médios e duros, diferente do ano passado que os pneus macios e médios foram combinados para a realização das duas paradas;
  • A estratégia de duas paradas foi a mais popular no grid, com o composto duro ganhando destaque em várias estratégias, para atender a alta degradação dos pneus;
  • Hamilton, Piastri e Leclerc usaram pneus médios, duros e duros para concluir a corrida, pilotos que se tornaram o pódio do GP da Bélgica após a desclassificação de Russell;
  • Max Verstappen tinha apenas a alternativa de trabalhar com um stint de pneus médios, partindo para os pneus duros e finalizando a corrida com os pneus médios. O holandês fez uma corrida de recuperação pela troca do motor de combustão interna, começando a prova ocupando o 11º lugar;
  • Sergio Pérez começou a corrida da segunda posição, mas terminou apenas ocupando o 8° lugar e foi promovido para a 7ª posição com a punição de Russell. O mexicano foi indicado para buscar a volta rápida, por ter uma boa distância para Fernando Alonso. Novamente Pérez não foi sensacional na corrida, mas a Red Bull também escolheu tirar Pérez da frente de Verstappen para não atrasar a subida do holandês no grid;
  • Ainda sobre a estratégia de Pérez, o piloto fez dois stints de pneus médios que não duraram muito – justamente para tirá-lo da frente de Verstappen e o mexicano fez um stint mais longo de pneus duros, antes de usar os pneus macios nas últimas duas voltas para obter o ponto da volta rápida;
  • Russell completou 34 voltas com os pneus duros, enquanto Nico Hülkenberg fez 24 giros com os pneus duros, Pérez completou 21 voltas com os pneus duros;
  • No domingo os pneus duros sofreram bem menos quando comparados com os pneus médios. Os pilotos que trabalharam mais com os compostos de faixa amarela, tiveram certo problema de granulação e precisaram tomar ainda mais cuidado com os compostos.
Desempenho dos pneus do GP da Bélgica – Foto: reprodução Pirelli

 


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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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