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O GP que Foi uma Furada

Dia 40 de 365 dias dos mais importantes da história do Automobilismo

Após 7 etapas, a temporada de 2013 começava a tomar forma. Sebastian Vettel já estabelecia a fundação da sua liderança arrasadora, Alonso tirava leite de pedra para se manter em segundo e a Red Bull nadava de braçada entre os construtores enquanto a Mercedes subia para o topo do grid, assistindo Lotus e Ferrari correndo por fora. A 8ª corrida do ano, em Silverstone, parecia correr dentro da normalidade até um efeito dominó começar a mudar a história da prova ainda nos instantes iniciais.

Fonte: The New York Times

Com a pole e uma largada tranquila, Lewis Hamilton administrava sua vantagem na liderança, seguido por Vettel e Rosberg, entretanto, a calmaria na ponta duraria pouco. Ainda na volta 8, o inglês sofreu um furo no pneu traseiro esquerdo em plena reta, sem detritos na pista, sem contato com outros pilotos, o pneu simplesmente falhou. Duas voltas depois foi a vez de Massa, que havia largado em 11º e pulado para uma incrível 5ª posição no começo do GP. Na saída da curva 4, o mesmo traseiro esquerdo foi pelos ares de forma misteriosa, acabando com a promissora corrida do piloto da Ferrari. Quatro voltas depois, Jean-Eric Vergne levava sua Toro Rosso para um espetacular 5º lugar enquanto via as Lotus de Grosjean e Kimi crescendo em seus retrovisores. No mesmo ponto da pista, o traseiro esquerdo do francês cedeu, forçando um pit-stop prematuro para a equipe italiana. Com pouco mais de um quatro da prova, três furos na mesma região da pista geravam medo e confusão no paddock. Ao mesmo tempo em que alertavam seus pilotos sobre os ocorridos, as equipes ainda tentavam entender o que estava causando tantas falhas praticamente idênticas. O carro de segurança entrou na pista, os restos de pneus foram retirados da reta e o GP prosseguiu. O caos parecia ter sido solucionado, uma vez que todos estavam ilesos desde a saída do Safety Car, até que com 6 voltas para o fim da prova, Perez foi a última vítima do furo no traseiro esquerdo na saída da curva 4. Rosberg venceu a prova, com Webber e Alonso completando o pódio, mas todas as atenções e a fúria das equipes se voltava para a Pirelli, buscando explicações para os incidentes extremamente perigosos devido à uma falha até então inexplicável dos compostos produzidos pela empresa italiana.

Fonte: EuroSport

Para entender a origem do problema, temos que voltar para o começo do ano. Atendendo a pedidos das equipes, a Pirelli desenvolveu compostos mais macios e flexíveis para a temporada de 2013. Essa alteração estrutural permitia que os pneus aquecessem mais rápidos, melhorando sua performance e baixando os tempos de volta em até 0.5s. Além disso, por serem mais macios, os compostos eram desgastados com mais facilidade, abrindo o leque de possibilidades estratégicas e consequentemente proporcionando mais emoção e variedade no GP. Contudo, os índices de degradação passaram a ser tão altos que as equipes passaram a buscar estratégias para minimizar os efeitos do uso, algumas delas perigosas e suscetíveis a falhas caso algo saísse da normalidade. Em Silverstone, o somatório desses métodos levou à profusão de furos e falhas, e após dias de ataques e questionamentos direcionados à Pirelli, uma investigação conduzida pela empresa revelou quatro principais causas dos incidentes.

A investigação constatou que os principais fatores foram: Pneus colocados de forma invertida, ou seja, o traseiro esquerdo colocado na direita e o traseiro direito na esquerda. Essa prática reduzia o desgaste, mas era extremamente perigosa, uma vez que os pneus eram assimétricos, causando uma exposição a diferentes taxas de estresse em diferentes áreas de contato quando utilizados de maneira trocada. Essa peculiaridade no comportamento dos pneus foi agravada pelas curvas rápidas de Silverstone. Além da inversão, o uso de pressões muito baixas, levando os compostos a índices maiores de estresse, ângulos de cambagem extremos e as zebras mais agressivas em curvas de alta velocidade no circuito britânico, particularmente na entrada da reta Wellington, acabaram com a vida dos traseiros esquerdos.

Fonte: McLaren

Como consequência, antes do GP da Alemanha uma camada de Kevlar, o mesmo composto utilizado em coletes a prova de bala, foi adicionada aos pneus para aumentar a resistência dos compostos, assim como reduzir a probabilidade de furos explosivos. Além disso, a FIA baniu a prática de inverter os pneus traseiros e tornou obrigatórias as recomendações de cambagem e pressão de pneus feitas pela Pirelli, com o objetivo de reduzir a chance de situações extremas como as enfrentadas na Inglaterra. Na corrida seguinte, um pneu combinando a estrutura de 2012 e o composto de 2013 passou a utilizado, sendo levado até o fim da ano.

Os acontecimentos daquele 30 de Junho de 2013 ainda tiveram ramificações na temporada seguinte, a Pirelli produziu pneus mais consistentes e resistentes para a entrada do novo regulamente em 2014, além da introdução de oito dias de testes durante a temporada para testar e desenvolver os compostos com os engenheiros da empresa italiana. Mesmo que sem uma intervenção direta no campeonato, aquele domingo em Silverstone certamente mudou a história da Fórmula 1.

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