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Ferrari bate o pé e se agarra a única oportunidade de vitória no ano

O Grande Prêmio dos Estados Unidos que aconteceu em 19 de junho de 2005 no circuito de Indianapolis Motor Speedway, foi considerado o GP da Farsa, Indygate ou Formula Zero, pelos veículos de comunicação do mundo. Na verdade, tirando os de Portugal, que estavam bem satisfeitos com o terceiro lugar do piloto português Tiago Monteiro.

Apenas 6 carros de Fórmula 1 seguiram na pista depois que as luzes vermelhas se apagaram. Mas o grande problema começou na sexta-feira na sessão de treinos livres da tarde. Ralf Schumacher que era piloto da Toyota, acabou batendo fortemente na curva 13 e a origem do problema se dava por uma falha causada pelo pneu traseiro esquerdo da Michelin. Ralf teve que ser substituído por Ricardo Zonta (atualmente corre na Stock Car), já que havia lesionado as costas com a batida.

Ralf sofre forte batida nos treinos de sexta. Fonte: @Tumblr

A curva 13 era a única inclinada que a Fórmula 1 tinha, e era percorrida em alta velocidade, o que causava uma pressão nos pneus, maior que a habitual.

Fonte: Magazin.com

Naquela época haviam duas fornecedoras de pneus, a Michelin que tinha sete equipes clientes (BAR, McLaren, Red Bull, Renault, Toyota, Sauber e Williams), enquanto a Bridgestone era fornecedora da Ferrari, Minardi e Jordan. No sábado após a Michelin constatar que as equipes que utilizavam os seus pneus estavam sofrendo com a pressão dos mesmos na curva 13 do circuito, anunciou que pediria conjuntos novos para a sua sede em Clemont-Ferrand. Infelizmente os pneus que foram solicitados para a substituição eram do mesmo tipo dos que foram usados no Grande Prêmio da Espanha, no início do ano e que apresentaram o mesmo problema quando foram testados.

Chefes de equipes e o pessoal da Michellin discutem o futuro do GP dos EUA. Fonte: @Tumblr

Um jogo de empurra, empurra começou. A FIA pedia para a Michelin avisar para as equipes que deveriam andar no modo de segurança, com a velocidade máxima permitida e estipulada pela própria fabricante, contudo realizando algumas paradas a mais na intenção de evitar alguns problemas, mas de acordo com o cálculo feito pela empresa fornecedora dos pneus, as equipes precisariam parar a cada 10 voltas em uma corrida com 73 voltas.

Enquanto isso a Michelin escrevia uma carta para informar as 7 equipes que ela não tinha como garantir a segurança dos pilotos que fossem para a corrida. Durante mais de 18 horas, reuniões aconteceram e algumas equipes pediram para que a FIA instalasse uma chicane na curva 13, diminuindo a velocidade e permitindo que todos pudessem correr. Já a FIA dava a sua versão dizendo que fazer isso seria muito perigoso e não havia nenhum embasamento técnico, além disso eles alegavam que essa pequena mudança, faria com que aquela corrida fosse ”desclassificada” do calendário.

Encontro de Chefões, Briatore demonstra o descontentamento com o rumo que Bernie deu ao GP. Fonte: @Tumblr

Bernie Ecclestone o então presidente e CEO da Fórmula 1 participou de uma reunião com Paul Stoddart, proprietário da Minardi, com os representantes da Michelin e os diretores das outras equipes no mesmo dia da corrida para ver qual a melhor solução. As equipes votaram pela instalação da chicane, eis que Jean Todt e Mosley (Presidente da FIA) não estiveram presentes nessa reunião. Ecclestone saiu da sala na interação de comunicar os dois, mas Todt foi contra. Sim, ele não aceitou o pedido, até porque para a Ferrari era uma grande oportunidade, já que a equipe vinha tendo quebras em quase todas as corridas que haviam acontecido naquele ano e ver Renault e McLaren enfrentando problemas sérios naquela corrida, era um prato cheio para a equipe de Maranello.

| Corrida

O veto definitivo da chicane na curva 13 veio um pouco antes da corrida acontecer. As equipes que usavam pneus da Michelin decidiram que não iriam correr e providenciaram uma pequena farsa. Todos os carros foram para o grid e se alinharam, mas assim que a corrida deu início os carros se recolheram para os boxes.

Equipes que usavam pneus Michellin recolhem os carros após a volta de apresentação. Fonte: @Tumblr

A grande disputa ficou entre Schumacher e Barrichello, pilotos com carros iguais, jogados na pista ”sozinhos” para ver quem se dava melhor. Os dois andaram juntos, mas a corrida foi ditada pela estratégia de parada. Barrichello assumiu a liderança da prova na volta 26, quando Schumacher parava pela primeira vez e se demorava nos boxes, já que a equipe precisava verificar pneus.

Com apenas seis carros na pista, as Ferrari fizeram domingo com direito a um passeio no parque. Fonte: @Tumblr

Na segunda rodada de paradas, Rubens foi chamado para ir aos boxes primeiro e duas voltas depois Schumacher parava. Michael deixava o pit-lane com uma parada de 23.615 segundos e tempo suficiente para encontrar com Barrichello na reta. Os dois acabaram dividindo a curva e o brasileiro acabou passando pela grama na curva um, perdendo a liderança. Depois do incidente a Ferrari pedia para os seus pilotos manterem aquelas posições e abrirem distância para os demais competidores.

Mas Rubens ainda encostou no seu companheiro de equipe e ficou colado da volta 56 até a 61, ficando a menos de um segundo atrás do alemão. Até que a distância entre eles acabou aumentando e o brasileiro sendo enigmático falou ” Sou só um brasileirinho contra esse mundo todo”.

O pódio e o quarto lugar obtidos pela Jordan ao termino da corrida, fizeram com que a equipe ultrapassasse a BAR-Honda, assim como a Minardi que ficou com o quinto e o sexto lugar na corrida. A vitória de Schumacher fez com que ele saltasse do quinto lugar no campeonato de pilotos, para a segunda posição e foi a única vitória do alemão na temporada, já Rubens Barrichello de sexto lugar foi para quarto.

Um dos pódios mais constrangedores da Fórmula 1. Fonte: @Tumblr

A transmissão dessa corrida também acabou sofrendo algumas alterações, a Rede Globo fez a transmissão parcial. A TNS emissora canadense se recusou a passar a corrida. Os torcedores que foram até o autódromo se sentiram lesados e a Michellin decidiu compensar os espectadores com a troca do ingresso para o GP do ano seguinte e vinte mil pessoas aceitaram a proposta. Os organizadores do GP de Cleveland, da ChampCar ainda ofereceram entradas livres para os espectadores que foram em Indianápolis ver a corrida e pelo menos cinco mil pessoas compareceram.

Torcedores revoltados com o que se viu na pista. Fonte: @Tumblr

| Pós-Corrida

Muitas declarações ainda rolaram na mídia, Paul Stoddart disse que as nove equipes, menos a Ferrari tinha concordado em participar do boicote a corrida, porém de última hora a Jordan acabou colocando o corpo de fora e a Minardi resolveu correr também. Os interesses da Ferrari eram maiores e por isso a equipe bateu o pé com a sua decisão. Os pilotos que usavam os pneus da Michelin acreditaram que correr era colocar as suas vidas em risco e por isso distaram de participar daquele GP.

| Tiago Monteiro

O piloto português foi o primeiro na história da Fórmula 1 a chegar no pódio e ter a melhor classificação na competição. Correu por apenas dois anos na Fórmula 1, já que em 2007 ficou sem nenhum lugar na competição e foi forçado a sair, mas no mesmo ano entrou para a WTCC pela Seat Sport e teve duas vitórias uma em Puebla e outra em Estoril. Hoje o piloto já tem 40 anos e continua atuando na WTCC, é o vice-líder do campeonato que está sendo disputado nesse ano, com 125 pontos contra 127 de Nicky Catsburg.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.
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