O circuito Gilles Villenueve já se tornou sinônimo de corridas eletrizantes e resultados inesperados. 39 anos após sua inauguração, a pista está entre as favoritas de diversos pilotos e figura entre os traçados mais clássicos do calendário da Fórmula 1. Sem contrariar nossas expectativas, o Canadá foi mais uma vez palco de disputas emocionantes, contando com heróis e vilões improváveis como seus protagonistas.
O sábado mais uma vez contou com fortes emoções, entretanto, a briga pela pole não foi a única coisa mexendo com os cabeças de gasolina. Apesar de um esforço hercúleo de Sebastian Vettel, o dono da tarde era Lewis Hamilton. O piloto da Ferrari ainda conseguiu responder a primeira marca estabelecida pelo inglês no Q3, ficando a apenas 0.004s da pole. Todavia, enquanto o tetracampeão extraía cada centésimo de seu bólido, Lewis ainda tinha uma carta na manga. Montreal é praticamente a segunda casa do tricampeão, cenário de sua primeira pole e vitória, além de outros quatro triunfos até 2016. Hamilton encontrou tempo onde ninguém mais conseguiria encontrar, quebrando o recorde da pista com folga e colocando 0.3s no tempo de Vettel e 0.7s no seu companheiro de equipe, Valtteri Bottas. O inglês conquistou sua 65ª Pole na carreira, igualando a marca estabelecida por Ayrton Senna. Como presente surpresa, a família Senna enviou um capacete original utilizado pelo brasileiro, de tricampeão para tricampeão. Na pista, Hamilton parecia não acreditar no que estava acontecendo, olhando fixamente para o capacete incrédulo, estupefato, admirado. Tentando conter as lágrimas, levantou o presente como um troféu, ainda tentando se convencer de que não estava em um sonho, gesto que emocionou profundamente inúmeros fãs ao redor do mundo.
No domingo, uma largada dos sonhos para da Red Bull e o pior cenário possível para as Ferraris. Max Verstappen se aproveitou do lado limpo da pista para conseguir uma saída perfeita e pular de 5º para 2º na curva 2, levando um pedaço da asa dianteira de Sebastian Vettel no processo. No lado sujo, Raikkonen patinou e caiu de 4º para 6º, já Daniel Ricciardo aproveitou a confusão para subir para a 5ª colocação, herdando a posição de Sebastian Vettel após sua primeira parada ainda na volta 4. O líder do campeonato foi forçado a mudar sua estratégia ainda nos primeiros momentos da corrida, praticamente acabando com suas chances de conquistar sequer um degrau no pódio. Esse caos todo estava apenas nos espelhos da Mercedes, que ainda contaram com uma falha mecânica na RB13 de Verstappen para estabelecer sua dobradinha e dominar a prova com tranquilidade. A ausência dos cavalos rampantes na ponta transformou o GP em uma caminhada no parque para as flechas de prata, em especial para Lewis Hamilton, que precisava correr atrás do prejuízo no campeonato de pilotos. A Mercedes caminhou sem sustos para sua primeira dobradinha do ano após sete etapas, entretanto, a batalha pelo último degrau do pódio estava longe de terminar.
Sem Vettel, nem Kimi, nem Max, coube a Daniel Ricciardo assumir a terceira posição nas primeiras voltas da corrida. Contudo, para nossa surpresa o finlandês da Ferrari não foi o primeiro a desafiar a Red Bull pelo último degrau do pódio, mas sim Sérgio Pérez, que também havia escapado do caos no começo da prova e se deparava com uma ótima oportunidade para somar pontos importantíssimos. Seu companheiro, Esteban Ocon, também fazia uma corrida sólida e logo entraria na mesma batalha. Após a primeira parada de boa parte do pelotão, a 2ª posição era ocupada por um personagem improvável. Em uma estratégia alternativa, o francês da Force India tentava esticar seu primeiro stint ao máximo, inclusive se defendendo com sucesso de Valtteri Bottas e seus pneus frescos antes de enfim mergulhar nos boxes na volta 32. Ao retornar, Ocon se livrou rapidamente de Kimi e logo se juntou a Ricciardo e Perez na briga pelo 3º lugar, com isso, o palco estava montado para uma verdadeira batalha na segunda metade da prova, cada um com suas respectivas armas. Daniel tinha a vantagem da posição de pista e tentava extrair tudo que podia do chassis da sua RB13, Perez se aproveitava da saúde de seu motor Mercedes e da asa móvel para assustar seu concorrente no veloz 3º setor de Montreal e Ocon se apoiava na mesma unidade motriz que seu companheiro de equipe, mas com pneus muito mais novos. Intrigas internas e extra-pista à parte, a briga foi decidida na pista, braço contra braço. Presas atrás de Ricciardo, as panteras cor de rosa logo começaram a ver a Ferrari vermelha de Sebastian Vettel crescendo em seus retrovisores. O alemão buscava completar uma corrida de recuperação completamente absurda. Caindo para 18º e parando mais uma vez em relação ao resto do pelotão, o líder do campeonato provou porque está na ponta em 2017 ao completar a manobra em ambas as Force Indias para terminar a prova em 4º, reduzindo os dano causado pelos entreveiros na largada. Quieto e constante, Ricciardo conquistou seu terceiro pódio consecutivo e começa a ameaçar Raikkonen no campeonato. Entre as equipes, a Mercedes recuperou a liderança em 2017, abrindo uma diferença de 8 pontos em relação a Ferrari. Já Hamilton cortou a vantagem de Vettel de 25 para 12 pontos entre os pilotos.
Montreal também serviu para oficialmente tirar um time da briga no pelotão intermediário. Com 42 pontos de diferença na 4ª posição, a Force India só será ameaçada em um cenário apocalíptico. Sua concorrente menos distante, a Toro Rosso, viveu um final de semana tenebroso em solo canadense. Daniil Kvyat enfrentou problemas no sábado e no domingo, colecionando erros, falhas mecânicas e equívocos nos boxes enquanto Carlos Sainz não passou da curva 3. O espanhol perdeu o carro de maneira infantil na briga com Romain Grosejan, batendo forte e levando a mera testemunha, Felipe Massa, consigo. O brasileiro estava otimista com relação ao desempenho do seu bólido em Montreal e realmente tinha a possibilidade de marcar pontos importantes no campeonato. Até então, um abandono do carro 19 em 2017 representava o fim das possibilidade de pontos para a equipe de Grove, no entanto, Lance Stroll parecia destinado a mudar essa escrita em sua corrida caseira. Em um circuito notoriamente complicado, haja vista a proximidade dos muros, o canadense desafiou seus rivais com autoridade, escapou de incidentes e deu um show de ultrapassagens em sua caminhada para o 9º lugar. O piloto da Williams reduziu o ganho da 8ª posição de Nico Hulkenberg. A Renault vem mostrando a maior evolução de 2017, saindo dos 8 pontos em 2016 para 18 com apenas 7 etapas nessa temporada, pecando apenas por ter um piloto correndo e outro andando para trás. Nico pontuou em 4 dos 7 GPs enquanto Jolyon Palmer ainda tenta sair do zero. Agora definitivamente atrás dos franceses, a Haas marcou apenas um ponto em solo canadense, através do suado 10º lugar de Romain Grosjean enquanto Magnussen criava intrigas com metade do grid.
No pelotão do Afeganistão, Sauber e McLaren passaram por mais um final de semana em branco. Os suíços passaram três dias completamente apagados em Montreal enquanto Fernando Alonso, renovado após um desempenho incrível na Indy 500, sonhou com os primeiros pontos da equipe no ano mas foi vítima de mais um problema de motor. No entanto, se a vida te dá um limão, você faz uma limonada, o espanhol aproveitou a quebra do seu bólido para quebrar também o protocolo e invadir uma das arquibancadas do circuito, literalmente indo para os braços da galera.
Com 7 corridas concluídas, tanto Hamilton quanto Vettel foram expostos a algum tipo de adversidade, sendo obrigados a brigar ainda mais para se manter na briga pelo título. Baku receberá os campeonatos de pilotos e equipes praticamente em pé de igualdade, para o que promete ser mais uma grande batalha entre os cavalos rampantes e as flechas de prata.