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Crônicas Belgas – Eventualmente o automobilismo tira a alegria, da mesma forma que ele é capaz de proporcionar

Olá, eu sou a Melissa, uma gata que gosta de corridas e assiste todas elas com a sua humana, Emily. Fiquei sumida com as férias da Fórmula 1, mas não fiquei sem acompanhar provas de automobilismo, pois a Stock Car estava aqui para me animar.

Bom, pensei muito antes de falar sobre este final de semana, até porque nós animais temos uma sensibilidade maior que a dos humanos para catástrofes e acidentes, os animais sabem quando vai ocorrer um terremoto, por exemplo, o corpo fica mais tenso em posição de alerta, a atenção dobrada, as pupilas dilatadas e as vezes os pelos ficam arrepiados . No sábado após a classificação da F1, a F2 teve início, mas a prova não durou muito, duas voltas depois e ela fora paralisada em regime de bandeira vermelha, com um acidente grave.

Nós os animais conseguimos sentir quando as pessoas tem algo de errado em seus corpos frágeis e eu senti em Emily uma tensão no ar, que irradiava preocupação. Horas depois a organização avisou sobre a morte de Anthoine Hubert, mas antes de falarem eu já sabia que algo havia saído do controle, a Emily por outro lado tentou se apegar a fé e as coisas que ela sabia, para não ver a verdade. Eu por outro lado prestei atenção em tudo o que ela falava comigo, mas no fundo conseguia sentir que ela também sabia a verdade. Ela me abraçou tão forte e deixou as lágrimas rolarem e eu me senti responsável pela dor dela.

A morte é a coisa mais dura que os humanos podem enfrentar, eles se apegam uns aos outros e são capazes de sentir as dores, se colocar no lugar dos outros e transferir as suas emoções, eles são uma verdadeira rede ligada e quando algo se quebra, todos sentem. Enquanto existe vida, eles alimentam a esperança de que as coisas vão dar certo e que eles tem controle da situação.

Não é atoa que após a morte de Hubert, várias homenagens foram prestadas, abraços foram dados, lágrimas derramadas e as pessoas começaram a recordar dos seus feitos e traçar um futuro que não poderia mais ser vivido.

Mesmo após todos os fatos, uma história ainda precisava ser escrita e os pilotos entraram mais uma vez em seus carros, com os corações apertados, sabendo mais uma vez e de forma mais nítida que estavam arriscando a sua vida… Mas eles precisavam fazer, pois aquele não era o momento das corridas se extinguirem.

O som dos motores subiu, a corrida teve início e Charles Leclerc partiu liderando a prova, tentando se desvencilhar dos pilotos que vinham logo atrás. No carro o nome de Antoine, como se ele estivesse sendo conduzido para mais uma prova, cruzando a linha de chegada pela última vez.

O clima começou a esquentar, várias disputas foram travadas, mas o coração saltou algumas vezes mais forte no peito, com a batida de Max Verstappen descontrolado na Eau Rouge e de Antonio Givinazzi no muro de contenção, na volta final da prova.

Em meio ao misto de sentimentos, Charles Leclerc cruzou a linha de chegada na dianteira, subiu ao pódio mas não comemorou a sua primeira vitória tão esperada na categoria, mas dedicou ela ao amigo. O domingo se deu por encerrado, não com as salvas de palmas na volta 19, mas com um misto de carência, necessidade de cobrança e misturas de sentimentos, que só os humanos sabem passar tão bem aos seus semelhantes.

Eu me despeço com o coração apertado desta prova, o automobilismo é incrível, provoca várias coisas boas, mas é difícil aceitar que em meio a tantas coisas fantásticas que ele proporciona, ele ainda é capaz de tirar a alegria na mesma forma que ele a proporciona.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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