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CRÔNICAS – A queda de Leclerc para a glória

Está liberado chorar…

O GP do Bahrein de 2019, certamente poderia entrar para os textos dos 365 Dias mais Importantes do Automobilismo, está série de respeito dentro do Boletim do Paddock, do qual tenho muito orgulho de ter participado.

Certamente foi uma prova com um divisor de águas e de emoções conflitantes. Após a pole do sábado, Charles Leclerc já colocava o seu nome na história, primeiro monegasco, com 21 anos a pilotar pela equipe Ferrari e conseguir o feito da pole position. Ressalto ainda, em sua segunda prova pela equipe de Maranello.

Acredito que as pessoas que se quer torcem para a Ferrari, ficaram mexidas. Esse jovem completou uma temporada pela Sauber, antes de se ver dentro de um dos carros dos cavalinhos rampantes. Tirou leite de pedra em um ano que a equipe ainda estava firmando a sua parceria com a Ferrari e recebia aquele empurrãozinho e tapa nas costas ”é isso, vamos”.

Com a dança das cadeiras ainda na temporada passada, a morte de Sergio Marchionne e os conflitos internos entre Mattia Binotto e Maurizio Arrivabene o trouxeram para a Ferrari.

E ai? Como seria agora? Bom antes dos testes de pré-temporada, a Ferrari proclamava aos quatro ventos que Leclerc trabalharia para Vettel e o alemão teria que vencer um campeonato para a equipe… coisa que não rolou em 2018, quando o time tinha o melhor carro, mas vários problemas para lidar.

E foi desta forma que chegamos a Austrália. Leclerc recebeu uma ordem de equipe para não passar o companheiro e os dois terminaram fora do pódio. A resposta era ”não queríamos perder os dois carros’’.

Duas semanas depois Leclerc mostrou o seu talento e agora não falo dos treinos livres liderados por ele, mas na classificação.O Vettel mesmo disse que foi nesse momento que o jovem se tornou homem. Charles Leclerc faturou a sua primeira pole.

Sem precisar provar nada para a equipe, ainda que tenha que entregar o seu trabalho, Leclerc largou na ponta, perdeu ela, mas foi buscar. Mostrou a garra que tinha e a Ferrari foi obrigada a deixar os companheiros de equipe se resolverem na pista, freando para lá do Deus me livre como diz o Galvão.

Como homem e com ar de piloto consagrado, Charles Leclerc retomou a primeira posição e isso me lembrou de Vettel em anos de fartura na Red Bull, passou e começou a realizar uma corrida sozinho de cara para vento.

Cometeu alguns erros, freou errado, extravasou os limites de pista, mas isso não pode ser chamado de falta de experiência e posso explicar para você leitor… É difícil correr de cara para o vento, sem um ponto de referência e ainda pressionado, neste momento é quando mais se cometem erros. Mas isso não foi uma barreira para ele, que liderava com mais de nove segundos de diferença.

Gostaria de trazer o kart para dentro desse texto, a Fórmula 1 pode ser comparada a uma prova de Endurance ou a uma corrida de kart de um campeonato seja ele amador ou não, você conhece o céu e o inferno em poucas voltas, prova das emoções mais extremas, mas a diferença de um Endurance para a F1, é que você não pode parar e retornar para a pista, se você vai para os boxes e fica a mais de uma volta parado, sua corrida está perdida.

O rendimento de Charles Leclerc começou a decair rapidamente e ele queria uma resposta para o que estava acontecendo. – Leclerc você perdeu o sistema de recuperação de energia e nós não podemos fazer nada, mas você tem chances ainda.

Que chance se a potência inferior do carro não permitia mais a sua luta. Que chance quando os carros desse ano foram adequados para proporcionar uma melhor aproximação e facilitar a ultrapassagem. Que chance, quando se está em uma pista que proporciona várias ultrapassagens e passou a ter três pontos de ativamento do DRS. Ele não tinha chances…

Hamilton passou, Bottas fez o mesmo sem cerimônia alguma e Leclerc seguia desesperado no carro. Para ele a Ferrari dizia que seria possível o pódio ainda e do outro lado a Red Bull já tinha todos os cálculos, Verstappen chegaria antes do último giro e dessa vez a lei do chegar é uma coisa passar é outra, não se aplicariam.

Falei que era uma prova de Endurance? Pois então… A corrida só termina após a bandeirada final. Como um arco-íris depois da tormenta, os carros da Renault abandonaram, juntos à duas voltas do final e o Safety Car entrou.

Sem a possibilidade da relargada, Charles Leclerc ainda terminou no pódio, com um sorriso tímido e uma pontada de frustração e culpa. O último rádio dele dizia muito sobre isso, mas ele não teve culpa, equipamentos falham, problemas acontecem e é difícil sair do Bahrein sem algumas marcas. A própria vitória da Ferrari no ano passado não foi fácil.

Vettel não chegou ao pódio, acabou rodando em uma disputa mais pesada com Hamilton e não pode ‘devolver o favor’ ao companheiro na corrida passada. E foi mais um piloto com um gosto amargo, outro rádio que doeu muito, principalmente quando o alemão tomou a culpa de toda a corrida para si.

A pressão é inevitável, para os dois lados. Vettel tendo de provar a sua capacidade e como se precisasse atestar a veracidade dos quatro títulos já conquistados. Leclerc sem essa necessidade, mas lidando com uma coisa pior, a pressão sobre si mesmo, a cobrança de ser melhor.

Assim foi a quase vitória de Leclerc… em um dia que quem não era Ferrarista se permitiu torcer e chorar.

Mas o melhor de tudo isso, é certamente não ter um campeonato definido e a coisa mais gostosa é a movimentação no meio do grid, mas isso vou falar em outro texto.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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